Capítulo 34

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Cada pessoa está segurandoo uma criança em seu braço. Elas não choram, apenas gemem. Nicholas está dirigindo em alta velocidade. Provavelmente quer chegar o quanto antes no depósito. Professores Daniel, Robson não estão conosco no caminhão, a momentos atrás eles pediram para irem até a casa de Abe conseguir alguns remédios em Nova Fábrica, Maria continua conosco.
Ao meu lado está um garoto chamado Pedro, ele se levanta e diz a Nicholas.

— Você não acha que está indo muito rápido?

— Precisamos chegar o quanto antes no deposito. – Responde Nicholas.

— Mas nessa velocidade a única coisa que você vai conseguir é um acidente. – Diz Pedro.

— Verdade Nicholas, diminua a velocidade. Nós já estamos distantes do orfanato. – Digo. Pelo retrovisor vejo o rosto de indignação com o pedido de Nicholas. O mesmo rosto muda em instantes para um rosto de pânico.

— Eu não consigo. – Ele diz fazendo movimentos bruscos para diminuir a velocidade.

— Como assim você não consegue? – Pergunto.

— Eu não sei! A velocidade não diminui... O freio não está funcionando eu acho. — Ele grita.

Nicholas está fazendo o que pode, porém o freio não está respondendo. Olho no velocímetro e a velocidade não para de aumentar.

— Esse veículo é muito velho, porque eu não testei este freio antes? – Resmunga Nicholas.

— Isso não é hora de chorar em cima do leite derramado, você precisa diminuir a velocidade Nicholas, se não vamos bater! –

O Rosto de pânico de Nicholas invade a feição de todos que estão no veículo.

— Nicholas cuidado, essas ruas estão cheias de curvas. Você vai ter que sair das vielas.

Então Nicholas faz uma curva brusca em uma esquina. Alguns caem no chão no veículo, mas nenhuma criança é machucada.

Saímos das vielas e dessa vez estamos em alta velocidade nas grandes avenidas de nova fábrica. Nicholas está fazendo todo o esforço possível para diminuir a velocidade, mas a cada momento estamos indo mais rápido.

— E agora Nicholas? – Pergunta uma moça desesperada.

Uma adrenalina toma conta dos passageiros do caminhão. Ela não faz bem a ninguém. É contagiante. As crianças estão sentindo e também começam a chorar.

De surpresa Nicholas faz uma nova curva brusca. Alta velocidade. Somos jogados. Estamos chegando perto de um polo da policia. Nicholas percebe e muda a rota fazendo uma nova curva. O vento forte leva alguns cobertores. A chuva atrapalha as falhas tentativas de diminuição de velocidade.

— Pelo amor de Deus Nicholas! – Grita alguém com desespero.

Pedro me entrega a sua criança e com muita dificuldade e caminha na direção de Nicholas.

— Me deixa tentar Nicholas! – Ele grita. – Nicholas vira em uma curva surpreendendo Pedro. Pedro cai no chão e bate sua cabeça, eu vejo sangue sair. Ele está desacordado. Uma nova curva está vindo pela frente.

— Nicholas! – Meu grito é imediato. Suor escorre do meu rosto, estou inquieta.

— Eu não consigo! – Ele grita.

Então as pessoas começam a bater nas paredes do veículo com desespero!

"Nicholas pare o caminhão" "Nicholas o muro está chegando" "Vamos bater".

O grito de todos é de aflição e desespero. O fim desta rua acaba no muro que divide duas realidades. Estamos com crianças doentes aqui. Para não batermos no grande muro Nicholas vira o veículo bruscamente e ficamos rente ao grande muro. O veículo certos momentos o veículo encosta no muro e faíscas voam causando pânico. Cada vez que o veículo encosta nós somos jogados. No outro lado do veículo estão grandes colunas que estreitam mais nosso caminho.

Não há mais volta. No fim do grande muro está uma grande cratera. Nicholas tenta desviar, mas caímos no buraco. Vejo tudo girando. Tudo está girando. Meu corpo esbarra com força na parede do veículo. Onde está a criança que eu estava segurando? Meus braços batem com força mais uma vez em algo. Gritos ecoam dentro do caminhão. Estou fazendo um esforço para permanecer acordada, porém uma fumaça dentro do veículo se torna cada vez mais densa. Pesada. Tóxica. Algo está queimando. A queda parece infinita. Sou lançada de um lado para o outro. Todos que estão ao meu redor também. Sou lançada com força em meio à lama. Eu acho que saí pela porta que se abriu rapidamente durante o capotamento. Estou cheia de sangue. Em meio à lama e a chuva forte tento gritar algo, mas não consigo. Não tenho forças para levantar-me. A alguns metros de mim vejo Maria desacordada e ensanguentada. Um som de explosão muda à direção dos meus olhos. Vejo uma grande nuvem negra e um fogo que clareia um ambiente. O caminhão explodiu. Pessoas estão lá dentro. Vivas? Provavelmente não. O que mais aperta meu coração neste momento é que não consigo levantar-me para prestar socorro. Sou uma inútil. A minha cabeça dói. Meu corpo quer desfalecer. Não resisto. Fecho os meus olhos mesmo sem vontade e agora tudo que vejo é luto e tudo que escuto é um forte zumbido tenebroso.

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FILHOS - [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora