Capítulo 4

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Estou deitada em minha cama, então escuto sons de passos no corredor. Quem está lá fora? Levanto-me e vou abrir a porta, porém ela está trancada.

Ao olhar para trás não encontro Vivian na cama, onde ela está? A cortina da grande janela está esticada, porém atrás da cortina vejo uma sombra. Vivian?

Corro até a cortina e remova-a. Não é Vivian, é um homem desconhecido. Sua face não pode ser lida. Meu Pai.

Então corro até a porta e tento abri-la. Forçando a fechadura, ele vem andando lentamente até mim. Ele começa a retirar o cinto de sua calça.

Próximo de mim está uma mesa com um vaso azul. Meu Pai pega o sinto, e bate no chão.

O leão será dominado. – A voz é rouca. A voz vem de dentro dele.

Ele corre rápido e dá-lhe uma chicotada em minhas pernas, eu caio no chão com dor. A ardência é dolorosa. Grito alto e então Vivian corre até mim.

— O que aconteceu? – Eu a vejo com uma roupa limpa. Limpo meus olhos e levanto-me da cama.

— Acho que tive um pesadelo.

— Tenso... Olha, ali está a sua mochila, não ligue se a sua roupa for diferente da minha. Só quis mudar um pouco, odeio ser igual aos outros.

A roupa de Vivian está sem as mangas. Ela usa uma camisa pret, que agora está com um decote que mostra o umbigo e os ombros. Uma calça jeans branca, e uma bota de couro.

— Olha esse casaco que horrível, eu que não vou ficar com isso, fica pra você. – Então ela joga em minha direção um casaco branco.

Olho no meu relógio e são sete e quinze da manhã, daqui a pouco o café da manhã será servido. Estou com muita fome, pois ontem vomitei todo o jantar. Troco de roupa no quarto mesmo, na frente de Vivian. Ela não liga. É como se eu não estivesse lá.

Retiro da mochila as minhas novas roupas. Uma blusa pret, um casaco branco, roupas intimas, uma calça jeans branca e uma bota de couro. Olho-me no espelho e percebo o quanto fiquei bonita com essas roupas novas.

Visto meu casaco branco, ele é bem justo possui um zíper, um capuz e bolsos no lado de dentro, e noto no espelho que tem algo bordado próximo ao peito. Então eu leio Capturado.

Saio com Vivian pelo corredor e me olho pelos espelhos. Ela penteou meus cabelos e deixou-o de um jeito legal. As outras portas do corredor começam a abrir-se e as duplas dos quartos começam a sair.

Todos estão iguais. Camisa preta, jaqueta branca, calça branca e uma bota. Quer dizer, menos Vivian. Algumas meninas riem dela, outras olham com olhar de inveja.

Quais serão as atividades que nós teremos hoje? Quero conhecer a Entidade. Achei um prédio realmente muito bonito. Um som está ecoando nos corredores. A cada momento as batidas começam a se intensificar. Sons de tambores. Todos os Capturados correm até a porta da Entidade. A curiosidade arrasta uma multidão.

Conforme corro até a entrada, os sons dos instrumentos vão ficando mais fortes. Vivian segura em minhas mãos, e me puxa com maior velocidade até a entrada.

Vejo algumas dezenas de fileira impecáveis de rapazes batucando em tambores novos e vermelhos. Todos eles usam um uniforme preto com alguns detalhes dourados. Uma boina negra, e uma faixa com a escrita: "Marcial.".

Alguns Capturados começam a dançar de forma bem descontraída, assim como eu eles estão gostando muito da percussão. Percebo que o ritmo está acelerando, Vivian segura em minhas mãos e começamos a pular que nem duas loucas.

Percebo que Nathan está se balançando timidamente, então o puxo para a roda. Ele se força para trás, mas ele acaba não resistindo. A canção tocada pelos percussionistas me lembra de algo que vi há muito tempo atrás na Telectela sobre a China e sua música.

Com uma cortada feroz a música para, bem na hora que eu já estava gostando. A loira e magra Godsvill sobe em um pequeno palanque improvisado em frente aos músicos. Ela inicia dando boas vindas a todos os Capturados, e cita a agenda de eventos do dia, e que tudo já está disponível nossos relógios.

A camPainha do meu relógio toca. Está na hora do café da manhã. Seguimos entusiasmados até o refeitório, Vivian continua se balançando.

— Está olhando o que? Achei a música maneira. – Então ela começa a rebolar de forma muito engraçada no meio de todos os Capturados e todos riem dela.

Ao sentar—me a mesa me sirvo com pães, queijos, um copo de suco e uma maçã verde. Vivan pega pães, queijo, presunto, ovos, molhos, bacon e algumas coisas que não consigo identificar. Ela monta um sanduíche enorme que nem na sua boca cabe, porque ao tentar morder grande parte cai no chão. Estou me divertindo ao lado dela. A sua irmã deve estar sentindo falta dela.

Com toda essa alegria e falta de vergonha, Vivian leva sorriso por onde passa, fazendo palhaçadas, brincando. Acho que eu não pude ter uma parceira melhor que ela. Não mesmo.

O dia segue com algumas palestras explicando o funcionamento das Agências. Alguns jovens aparecem dando entrevistas e contando as suas experiências ao trabalharem para o Governo.

— (...) Eu já visitei quase todos os estados do Brasil. A melhor coisa que eu fiz foi ter escolhido meus Pais Luottos, são os melhores Pais! Com o dinheiro de captura consegui ajudar minha família que está lá fora, e comprar algumas coisas para mim.

Consegui ajudar minha família que está lá fora. Eu não consigo gostar deste "emprego", mas saber que vou poder ajudar minha família me deixou menos triste.

Uma das garotas contou que comprou moveis com seu salário e enviou para a casa de sua Mãe. Outra desfilou no palco mostrando sua roupa cara comprada com o salário. É tão grande assim?

Também tivemos palestras com todos os Pais. Eles contaram como funciona as suas casas e regras. Consegui achar todos muito simpáticos e amáveis, até mesmo a senhora de Godsvill.

Os Luotto são bastante sérios, mas não chatos. Estão dando informações sobre os espiões e mostraram fotos da mansão que todos os Filhos deles vivem. Algo realmente luxuoso e surpreendente. Parece ser muito divertido.

O casal Godsvill conta a rotina de quem serve na Mídia. Maquiagem. Fama. Entrevistas. Moda. Nenhum desses trouxe—me simpatia. Algumas meninas que estão sentadas perto de mim começaram a cochichar e ficar com os olhos brilhando.

Já os Lacerda, contaram que possuem muitos Filhos e que todos eles são inteligentes. A casa é cheia de parafernália, telas, tecnologia. Cada Filho ganha até um robô de estimação presente dos Pais. Estão a todo tempo viajando e procurando famílias suspeitas.

O telão novamente desce, e a poltrona negra continua lá. Preparo—me para ouvir a voz robótica do Pai (como todos o chamam neste lugar) que me arrepia. Ele fala que amanhã faremos o primeiro teste, que precisamos nos preparar. Seu falatório automático é encerrado com a seguinte frase, que segundo ele é uma dica para o que teremos amanhã.

— Aqui preferimos fazer o sangue deles fluírem como um rio, mas não é permitido ter mais de um Filho.

FILHOS - [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora