Ele me carrega e me coloca em cima de uma pequena mesa de madeira. Estou com medo de que ele me faça algum mal.
— Meu nome é Adrian, mas todos me chamam de Zumbi. Escolha o melhor.
Tenho certeza que ele usa algum tipo de droga. Ele e todas essas pessoas. Como é possível alguém ter uma aparência tão doente? Por causa das condições deste lugar, ele precisa de alguma coisa para esquecer.
Estou em um grande galpão quente e úmido. No teto vejo mofo e goteiras, no chão há buracos e lixo. O galpão tem uma iluminação amarelada, fraca e triste. As pessoas que moram aqui estão espalhadas por todo o canto. Elas usam o mesmo uniforme dos Capturados, porém estão rasgados e deteriorados. Sujos e com um cheiro muito forte.
Estou suando, tanto de nervosismo, quanto de calor. Meu suor se mistura com as lágrimas que não param de sair, ainda não consigo acreditar que Vivian está morta.
— Você precisa descansar. – Ele diz.
Ele vai até um varal improvisado e retira algumas jaquetas velhas. Põem em cima da pequena mesa de madeira. Tiro a minha jaqueta por causa do calor, e deito-me sobre as roupas.
Penso que eu iria acalmar-me mais, porém foi ai que comecei a chorar. Cubro meu rosto com as minhas mãos. Estou com vergonha dessas pessoas me olhando. Adrian diz:
— Vou deixar você um tempo só... Qualquer coisa só me chamar.
Ele se retira, e eu só posso agradecer. Eu sei que não conseguirei dormir, mas preciso de um tempo de silêncio. Eu sei que o dia só está no inicio, nem quero imaginar pelo que os outros Capturados irão passar hoje. Talvez aqui eu seja mais feliz, sinto-me como se eu estivesse em meu sótão.
Meus olhos vão se fechando, até que durmo.
Quando eu acordo, estou meio lerda. Meus olhos estão inchados porque chorei muito. Arrumo meus cabelos, e ponho minha jaqueta novamente. Estou começando a sentir frio.
Uma garota com a aparência parecida com a de Adrian, senta ao meu lado e oferece um pão. Eu agradeço, e apresento-me e ela responde com um sorriso lindo, como se não houvesse problemas para ela estar neste lugar horrível.
— Meu nome é Lúcia, estou presa aqui a cinco anos.
— Porque prendaram você aqui?
— Eu tentei dar dinheiro aos meus Pais, quando a Entidade descobriu eu vim para cá.
— Nossa, eu pensava que eu podia dar coisas aos meus Pais...
— Não pode. Você deve ter ouvido depoimentos na Recepção, estou correta? Esses Filhos são todos mentirosos. Mentem e ganham dinheiro. Nunca acreditem nada desta Entidade, as únicas pessoas verdadeiras estão aqui no Esgoto.
Estou olhando seriamente para ela. Será que ficarei como todas essas pessoas, presas para sempre? Ficarei magra e esquelética? Eu não saí de um calabouço para ficar em outro, isso não pode ser real.
— Porque você está aqui?
— Eu agredi a senhora Godsvill. Agredi com uma faca.
— Você o que? Sua louca! – Então Lúcia começa a sorrir. Ela sobe na mesa que estamos sentadas, e grita. – Ei, gente, essa novata está aqui porque feriu Érika Godsvill! Agrediu com uma faca.
Então todos começam a gritar "parabéns", "seja bem-vinda'' e mais algumas coisas que não consigo ouvir". Todos estão vibrando com a descoberta. Eles, como eu devem odiar Érika Godsvill.
— Cara, vem comigo, deixa eu te apresentar algumas pessoas.
Então descemos da mesa e Lúcia me leva até o outro lado do Esgoto. Vejo um rapaz com olhos puxados, ele é baixo, e ao seu lado uma menina parecida com o rapaz.
— Eles são irmãos. Kato e Aiya, essa aqui é Vale. – Eles me cumprimentam, e começamos a conversar. Realmente Kato e Aiya são muito simpáticos. Eles contam que foram presos ao tentar fugir da Entidade durante a madrugada. Fazemos algumas piadas, estou me divertindo.
Que bom, pelo menos me esqueço de Vivian. Kato mesmo sendo magro e com aparência de doente é bonito. Seus olhos são pequenos e puxados. Seu cabelo é liso e cobre a sua testa. A sua irmã é um pouco mais baixa, seu cabelo está com uma trança muito bonita. Ela é magra e simpática.
— Nós morávamos no Bairro da Paz. Lá é calmo e humilde, diferente de muitos daqui, nós saímos de casa. Falávamos que éramos primos, amigos, desconhecidos. Sempre levamos essa vida. Nossa outra irmã se chama Iume, ela sente muito a nossa falta. Somos os mais novos e fomos Capturados há três anos, no dia do aniversário dela. Até hoje não sei quem nos denunciou.
— Preciso comer, a fome está chegando.
— Bem, aqui os mantimentos são enviados uma vez na semana. Amanhã é dia de envios, ainda bem. Vamos até o zumbi, ele que cuida dessa parte.
Atravessamos o Esgoto, e eu estou tremendo de frio. Adrian está perto de uma grande caixa de madeira, ele está organizando algo. Kato conversa com Adrian, e ele vem na minha direção com uma pequena sacola.
— Isto é pão, aqui um pouco de água para você. – Ele entrega-me uma pequena garrafa de vidro. Desvio meu olhar rapidamente, ele me assusta. – Você está melhor? Posso ver? — Então ele pega em minhas mãos que estão cobertas por um grande curativo. Ele retira o curativo, eu sinto dor e murmuro. Ele faz uma careta ao ver o corte.
— Infelizmente a sua ferida infeccionou, está doendo? – Eu respondo que sim. – Sente-se aqui então. Ele vai até uma caixa menor de madeira e pega uma maleta de primeiros socorros.
Ele lava com um pouco de água as minhas mãos, passa uma pomada. Eu sinto um refrigério na dor. Fecho os olhos e respiro aliviada. Ele pega alguns tecidos e começa a enrolar por minhas mãos. Estou mais calma.
— Pronto, agora tome muito cuidado. Não vá sair dando facadas em ninguém, se for dar, use a outra. – Eu dou uma pequena risada e começo a comer o pão.
— É... Você... É...
— Me chame de Zumbi, todos me chamam assim.
— Tudo bem então, zumbi você sabe me informar que horas são?
Ele olha para todos os lados, levanta a manga da sua camisa rapidamente e eu vejo um relógio similar ao que ganhei quando entrei na Entidade. Então percebo que meu relógio não está mais em meu pulso, onde ele foi parar? Ele esconde seu relógio e diz.
— São sete e trinta e cinco da noite. Sentiu a falta do seu relógio?
— Os Agentes retiram de você antes de entrar aqui. Ninguém nunca percebe. –
Roubaram meu relógio, como não percebi? Então deslizo discretamente minhas mãos até minha cintura atrás da arma, será que levaram? Quando sinto algo duro e gelado. Ela continua lá.
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FILHOS - [COMPLETA]
Khoa học viễn tưởng"Fãs de Jogos Vorazes e Divergente Vão adorar." Blog iDea #1 Em Ficção Científica por mais de uma semana. Pela telectela Vale vê anúncios com famílias de apenas três pessoas sorrindo e frases como: "A Mãe Terra está cansada de sustentar tantas cr...