Seu corpo está jogado no chão. Dele escorre sangue que se espalha pela sala. O que eu acabei de fazer deixa todos assustados. Estou perplexa e Nathan morto. Então a criança corre para os abraços de sua Mãe e pergunta.
— O que está acontecendo? – Sua dicção não é das melhores. A Mãe de Vivian não sabe como responder. Ela abraça seu Filho e diz.
— Nada meu Filho, nada. O importante é que você está bem. – Lágrimas rolam de seu rosto.
Robson e Abe se mantem calados. Eu levanto-me e ignoro o corpo de Nathan. Vou até a senhora, ela não se volta para trás. Ela confia em mim.
— Eu conheci a sua Filha.
— Vivian? Ela está bem? Onde ela está?
O peso da perda de Vivian volta e me desaba. Não consigo responder e apenas chorar. O luto expressado por minhas lágrimas tampam a minha boca. Esforço-me, mas não consigo. Porém ela compreende. Seu rosto é de tristeza e de dor. Rosto de uma Mãe que nunca mais verá sua Filha.
O corpo de Nathan é pesado. Ele agora está enterrado no quintal da pequena casa junto com a arma. Robson foi quem cavou um grande buraco. Abe providência a limpeza na pequena sala, enquanto isso, mais calma, conto a Mãe de Vivian os acontecimentos, e ela compartilha a tristeza que está na periferia. Alguns corpos não foram levados pelo Governo e continuam jogados pela rua. Algumas pessoas os cobrem com tecidos e jornais porque não é nada agradável ver isso.
Pego o Micropod de Nathan e envio um relatório falso, que a missão foi cumprida. Em seguida uma mensagem chega nos informando a próxima missão visitar um lugar chamado de Casa Respirar, que fica em Nova Fábrica. A falsa missão vai ficar para depois, Abe e Robson aceitam ir comigo para conhecer e ver a real situação da periferia.
Está de noite e estou muito abalada com o que eu fiz hoje. Talvez eu não consiga dormir. Minhas mãos cometeram hoje um assassinato.
Tento lembrar-me, que o que eu fiz foi na verdade para defender o que Vivian defenderia. Proteger.
Nós três estamos de volta a nossa pequena casa, estamos com medo e por isso não trocamos muitas conversas.
— Vamos ter que ser convincentes nestes relatórios, se não virão atrás de nós. – Digo mostrando o Micropod de Nathan. Eles não respondem. – Amanhã vamos à Nova Fábrica, depois de vermos a real situação do bairro Centríco. Robson, onde sua família mora?
— Eu não tenho família. – Ele responde. Troco olhares com Abe. – Todos eles morreram. Quando os Agentes vieram me buscar nós fugimos, mas acabamos sendo encontrados. Vale, você acha que eles vão nos descobrir?
— Não tenho certeza Robson. Vamos fazer de tudo para que não suspeitem de nada. Vamos enviar os relatórios falsos.
— Nós estamos ferrados! — Grita Robson. – Porque você fez aquilo? Por acaso você é louca?
— Ele iria matar aquela criança, você prefere isso? Você não consegue enxergar que você também foi vitima da Entidade? Eles descartam pessoas como se fosse um copo descartável!
— Eu não sei em quem acreditar! – Robson então começa a chorar. – Se eu ficar ao seu lado eu corro o risco de morrer, se eu ficar do lado deles terei que matar pessoas. Estou confuso Vale, muito confuso!
Eu sei o que responder.
— Você precisa ficar ao nosso lado! – Respondo.
— Mas por quê?
— Porque simplesmente não vamos matar ninguém!
— E o que você fez hoje? E Nathan?
Essa acusação me fere como uma faca. Porque ele disse isso? Então começo a chorar. Subo as escadas e os deixo lá em baixo. Tranco meu pequeno quarto e encosto a cabeça em meu travesseiro. Eu queria tanto que Zumbi estivesse aqui ao meu lado. Seria mais fácil de suportar tudo isso. Começo a chorar tendo a certeza que não poderei mais voltar ao Esgoto e que amanhã descobrirei que a minha família não está bem. Que vão nos encontrar e nos executar por mentiras. Que a Entidade vai permanecer firme, e que nunca poderá ser derrotada? Tudo isso se soma ao medo de dormir e ter pesadelos com o meu Pai. Algo que provavelmente irá acontecer.
Pego meu Micropod em minha mochila, e coloco uma música para tocar. Quando eu era menor, Mamãe sempre a cantava pra mim. A canção diz que se uma criança se for, ela virará estrela.
Mamãe dizia que está canção foi criada pelo próprio Governo para acalmar algumas crianças logo quando a politica de Filho único foi criada. Cubro-me com meu pequeno cobertor marrom e fecho os olhos cheios de lágrimas. A minha vontade neste momento é virar uma estrela. Menos uma aqui, e mais uma lá.
— Já estou pronta. – Digo a Robson.
— Vale, ontem Abe conversou comigo... E eu vi que você estava certa. Perdoe-me, por favor. Retiro tudo o que falei.
— Tudo bem. – Respondo com frieza. – Já estão com as suas mochilas? Vamos até o meu antigo bairro, preciso ter noticias da minha família.
Então saímos em direção ao Bairro Cêntrico. Esse nome é em homenagem a um antigo politico: Augustos Cêntrico. Ele foi o construtor do trilho do trem e de mais algumas obras em Nova Fábrica. Aprendi com Alana que ele sempre imaginou arquiteturas incríveis e milionárias. Porém morreu de câncer, após a conclusão do trem.
Minha irmã contou-me, que Augustos era um politico corrupto e todas as construções que não foram concluídas foram utilizadas de dinheiro público, enquanto todos passam fome outros pensam em construções faraônicas.
Ao caminhar pelo chão duro e cinzento vou me acalmandodesde já para o pior. Estou a poucos metros onde eu morava e já posso ver quetudo se transformou em caos. Não há portas, janelas ou qualquer móvel. Excetoalgo que brilha em meio a poeira cinzenta. Agacho-me e desenterro em porta retrato que está apenas com o vidro quebrado. Vejo Alana e minha Mãe sorrindo para a foto. Engulo o choro e guardo na minha mochila o que encontrei e isso é o que resta.

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FILHOS - [COMPLETA]
Ciencia Ficción"Fãs de Jogos Vorazes e Divergente Vão adorar." Blog iDea #1 Em Ficção Científica por mais de uma semana. Pela telectela Vale vê anúncios com famílias de apenas três pessoas sorrindo e frases como: "A Mãe Terra está cansada de sustentar tantas cr...