Capítulo 38

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Discretamente caminho com minha pequena maleta. Preciso descobrir coisas. Perguntar. Contar o que já sei. Não é tempo para mimimis. Recebemos um tempo de apenas uma hora para fazermos a tal pesquisa. Olho para trás e vejo cada um cumprindo com a sua falsa obrigação. Tess está conversando com Aiya. Robson com Kato. Maria com Lúcia. E eu em instantes estarei com Zumbi. Algumas pessoas no Esgoto me reconhecem, dão um singelo sorriso e voltam aos seus afazeres. O sapato novo que estou usando me impede de sentir o chão gelado do Esgoto, mas o jaleco branco não me protege do frio que está fazendo neste lugar. Agacho-me perto de Zumbi e seguro lágrimas que querem fugir de mim.

— Onde você esteve? – Ele pergunta.

— Lá fora.

— Como está láfora?

— É horrível... Mas não é sobre isso que eu vim falar com você. – Pego uma caderneta e finjo anotar algumas coisas. Analiso seus olhos e anoto o que vejo. – Você não vai acreditar no que eu vi lá fora... – Então inicio contando todos os meus traumas, medos e lágrimas derramadas. Tento descrever resumidamente como é lá fora. Não há vestígio de alegria, as cores são mortas. Todos são desconfiados. Olho no meu relógio e percebo o quanto a hora passou rápido, faltam apenas vinte minutos para o tempo acabar. Retiro uma seringa de minha maleta, ajusto a agulha, pego o braço direito de Zumbi, procuro uma veia. Aplico. Retiro sangue. Ele observa o liquido viscoso e escuro sair de si. Durante a retirada de sangue conto sobre Tess, sobre os documentos roubados e tudo que penso sobre isso. Em seguida peço a chave de um cofre.

— Quem é a sua Mãe? – Ele permanece em silêncio. – Eu preciso que você me conte. Pessoas estão morrendo lá fora, talvez ela possa nos ajudar... O inimigo do nosso inimigo é o nosso amigo.

— Ela fugiu de casa. Seu nome é Amanda Hustock...

— Porque ela fugiu?

— Ninguém sabe, e também Abraão nunca contou nada sobre ela... Mas foi um choque para mim... Vê-la sair de casa, o buraco que ela deixou foi grande, tudo isso junto me levou a questionar ainda mais os comportamentos de Abraão.

— Onde você acha que ela está?

— Eu não sei exatamente, eu suspeito que ela tenha ido para o Sul... Ela possuía uma casa em Fontes, se ela não estiver lá, eu não sei de mais nada.

— Você acha que ela era louca, como todos dizem?

— Não. – Então o alarme toca e os seguranças começam a nos chamar para voltarmos ao elevador. Zumbi segura em minhas mãos e discretamente a beija. Eu fico sem graça e provavelmente minhas bochechas estão rosadas.

— Você está vermelha. – Ele diz.

— Você também. – Eu digo.

Ele solta as minhas mãos e agora estou livre para subir novamente. Essa visita me fez bem e continuará me fazendo. Olho de discretamente para meus amigos que estão aqui em baixo e dou um simples sorriso. Eu sei que eles entenderam. Entro no elevador. As portas se fecham. A minha vontade é de permanecer no Esgoto. A saudade dessas pessoas já me mata.

FILHOS - [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora