Capítulo 13

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Acordo atrasada para o café da manhã, mas Zumbi guardou para mim. Pães e um copo de suco. Faz trinta e seis dias que estou aqui no Esgoto. Tem sido os melhores dias da minha vida? Zumbi está tornando esse lugar horrível, em um paraíso. Conversamos durante horas e conheci muita gente. Zumbi não está tão fechado como antes, ele conversa e tira brincadeiras. Parece que ele tomou um remédio de animo.

Ainda não consegui me acostumar com essa alimentação, mas já não faço mais caretas. Nos dias que estou com mais fome, Zumbi me dá a sua comida. Eu sempre rejeito, mas ele não deixa.

A única preocupação, é que estamos com uma pessoa muito doente aqui no Esgoto, Fred. Ele está com febre há bastante tempo e tosse muito. Os remédios que estão vindo não o ajudam em nada. Seu caso é grave.

— Você acha que ele vai sobreviver? – Pergunto.

— Não posso afirmar nada, mas estamos torcendo para vir o antibiótico que ele precisa. – Zumbi responde. Percebo o ar de tristeza nele. Fred é bem antigo aqui no Esgoto, ele veio parar aqui porque destruiu uma das telectelas onde a poltrona negra aparece.

Às vezes Fred chora. Mas nunca fala nada, ele se calou faz uns sete dias. Ele obedece às ordens normalmente. Come, mas precisa de ajuda para fazer as suas necessidades.

Durante a noite ele sente muito frio, tentamos aquece-lo com fogueira e alguns cobertores. Não é muito bem sucedido. Ele soa bastante, e está pálido. Geme e às vezes grita de dor.

Eu fico bastante aflita com a espera pelos remédios. Estamos esperando a mais de uma semana por eles. Enviamos a solicitação e nada. Zumbi contou-me que quando não respondem solicitações é porque estão bastante ocupados. Geralmente com Capturados novos.

Qualquer ruído no elevador e já corremos para verificar se são os remédios de Fred. Essa espera está nos cansando.

Está na hora do almoço, e como de costume todos formam filas com seus pratos. Hoje completa uma semana que foram enviados os nossos suprimentos, logo, amanhã terá novos alimentos.

A alimentação já está escassa, e a menina atrás do balcão serve pouco a cada pessoa. Eu vejo Purê de batatas, carne e arroz.

Sigo Zumbi. Hoje nós vamos almoçar com Fred, eu me comprometi a alimenta-lo direito, mesmo contra a sua vontade. Ele come bem pouco, e por isso está fraco e magro (muito mais que qualquer outra pessoa daqui). Sua pele parece um lençol sobre um esqueleto. Suas veias estão ressaltadas.

Seus olhos estão bastante vermelhos e estão sempre cheios de lágrimas. Seu cabelo está bagunçado.

—Coma isto, irá te fazer bem. – Digo, e levo a colher em direção a sua boca. Ele faz uma leve careta negando-a.

— Fred, desse jeito você irá ficar mais fraco. Você precisa se alimentar melhor. – Exorta Zumbi.

—Vamos comer primeiro, depois o servimos. – Então me sento com a coluna na parede ao lado de Fred. Começo a mastigar, e lembro-me o quanto eu sinto falta de minha Mãe.

Zumbi está comendo lentamente, como se a comida fosse realmente gostosa e ele estivesse degustando-a. Todos estão sentados no chão e se alimentando. Este momento é sagrado no Esgoto.

Alguns comem rápido, outros mais lentos. Mas todos comem. Mesmo a comida sendo pouca, todos puderam se alimentar hoje. Que bom!

A alimentação de todas as pessoas se interrompe quando escutam o ruído do elevador. Serão os remédios de Fred? Deixo meu prato de lado, e corro com Zumbi até a porta do elevador.

A contagem está indicando. Cada vez mais perto. Cada vez mais perto. Cada vez mais perto.

A curiosidade de todos é perceptível. Pratos deixados de lado. Olhos atentos. Alguns sussurros que seriam palpites?

A grade finalmente se abre e em seguida a porta do elevador. Vejo um rapaz escoltado por alguns outros jovens que estão servindo de segurança. Eles jogam o rapaz no chão do Esgoto. Eu o conheço. Tenho certeza que o conheço.

— Aqui é o seu novo lar ratazana. – Diz um dos jovens. Ambos riem, e o elevador se fecha os levando de volta.

Assim como eu, ele foi jogando com violência ao chão. Pelas suas roupas escuras, acho que ele é da espionagem. O que será que ele fez de errado?

Feriu um Pai? Quebrou um telão? Fez guerra de comida? Desobedeceu a ordens? Teve mais de um Filho? Tentou descobrir o que seu Pai andava fazendo? Não sei. Mas todo rebelde é bem vindo aqui.

Assim como eu fui bem-vinda, quero que todos os novatos sejam cuidados e se enturmem. Percebo que Zumbi está indo ajuda-lo. Mas a minha curiosidade não me deixa no lugar, eu tenho certeza que o conheço de algum lugar.

Vou à frente de Zumbi e levanto o rapaz caído no chão. Ele está muito ferido, seus cabelos compridos cobrem seu rosto suado. Removo os cabelos do rosto, e o reconheço imediatamente: Theo.

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FILHOS - [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora