Capítulo 33

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Voltar neste lugar me arrepia e me faz chorar. Não há um funcionário para cuidar das crianças que estão aqui. Eu não vejo a senhora gorda, onde ela deve estar? Há muitas goteiras e em alguns lugares a água cai exatamente como lá fora.

Subo uma escada em direção ao terceiro andar. A escada parece que vai desmoronar a qualquer momento. O lugar é escuro e sombrio. Eu estou em pânico. Imagine estas crianças frágeis. Não há um adulto aqui. Entro na primeira porta e vejo uma pequena cama. Há um lençol branco cobrindo algo. É uma criança. Ando rapidamente até a criança, retiro o lençol, e tudo que vejo é um corpo frio, roxo e seco. Fico sem ar. Cubro novamente como lençol e dou alguns passos para trás. Olho por alguns segundos e vou em direção a escada. Traumatizada. Então escuto um gemido vindo do quarto que eu estava. Volto até a criança e vejo movimentos lentos por baixo do lençol. Ela está viva. É uma menina. Um sorriso é inevitável em meu rosto. Pego um simples lençol que trouxe comigo e retiro a criança que não para de tremer. Ela está em meu colo e a minha vontade é de cantar uma bela canção para ela, mas não há tempo para isso. Desço com rapidez a escada e corro em direção ao caminhão. Em minha frente vejo outras pessoas já chegando com algumas crianças e outras estão atrás de mim. Deitamos as crianças em pequenos colchonetes no chão do caminhão. Percebo a debilidade e o estado crítico de cada criança. Nicholas está contando as crianças.

— Quantas? – Pergunto.

— Dezessete. – Ele responde.

Então voltamos ao orfanato para resgatar mais crianças. De acordo com as nossas contas, restam trinta e uma crianças lá dentro. Está cada vez mais frio e a chuva fica mais forte.

Olho de relance para as crianças e volto ao orfanato com os outros.

Entro no orfanato e escuto um murmúrio.

— Como assim não há mais crianças lá em cima? — É a voz de Robson.

Intrometo-me.

— Não há mais crianças lá em cima? Como assim? Viemos aqui outra vez e havia quarenta e oito...

— Acho que elas também se foram. – Após dizer isso. Nicholas desaba em lágrimas, soluçando pede para todos se retirarem.

— Por quê? — Pergunto. A sua resposta é um olhar triste e sério.

Pego minha mochila e saio em meio a chuva para o caminhão.

— Onde está Nicholas? – Pergunta Daniel.

— Ele está lá dentro... – Então olho para Robson e percebo sua face de assustado. Ele está olhando para o orfanato. Faço o mesmo e no orfanato vejo uma claridade. Nicholas está vindo em direção do caminhão. Tento perceber porque o local está tão iluminado. Então vejo fumaça. É fogo.

Nicholas entra no caminhão e arranca em direção à periferia. Ainda posso ver o orfanato daqui. O fogo está cada vez mais alto e está engolindo o prédio. 

FILHOS - [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora