FILHOS - [COMPLETA]

Capítulo 41

Alguns anos atrás — Zumbi

Cozinha, sala, banheiro e quarto. Tudo no mesmo espaço. Uma casa que é uma fiel réplica de todas as outras casas do País. Olho para o pequeno cômodo de coisas amontoadas a procura de um segundo Filho. Um senhor com pele enrugada e aparência triste está sentando na parte de baixo de um pequeno beliche. Sua coluna é muito curva e seus olhos cansados. Escuto um pequeno barulho vindo de cima do beliche, provavelmente lá estão às crianças. Por educação eu prefiro perguntar.

— Onde estão seus Filhos?

Ele abre a boca para responder, porém faz uma pergunta.

— Você vai leva-los?

— Sim... – Então sento ao seu lado, ponho minhas mãos sobre suas costas. – Eu os levaria se eu conseguisse...

Conto ao meu Pai um dos meus fracassos nesta Entidade.

— Como sempre você é um despreparado! – Grita meu Pai comigo enquanto dobro discretamente os documentos encontrados e guardo em meus bolsos. – Desde criança observei você. Um completo inútil... – Ele não para de andar de um lado para o outro. – É uma audácia da sua parte, invadir meu escritório e mexer em meus papeis. No que você está pensando? – Ele está muito nervoso. – Você é um despreparado e um burro! Você poderia ter muito bem ter lido esses documentos e tomado uma decisão adulta, mas nem para isso você serve.

Ele está ofegante e pensativo. Está andando de um lado para o outro.

— Eu vou te ensinar como tomar decisões sensatas! — Ele grita. Pega seu telefone e diz algumas coisas. – Agora você aprende a virar... Um homem... Maduro... de verdade!

Ele senta em sua poltrona preta e fecha os olhos. Em cinco minutos ouço toques nas portas e alguns rapazes estão a espera de um veredito.

— Nos chamou Abraão? – Diz um moreno e careca.

— Levem-no para o Esgoto. – Abraão aponta para mim e imediatamente os rapazes me pegam com força. Saio pelas dezenas de portas que antecedem o escritório de Abraão e sou forçado a entrar no elevador. Em instantes cheguei ao meu novo lar.

Aqui é escuro. Frio. Não há ninguém. Permaneço em pé e perplexo. O cheiro daqui é forte e eu poderia desmaiar a qualquer momento com tanta sujeira. Minha cabeça está doendo e as minhas pernas começam a cambalear. Agacho-me para ficar mais próximo do chão, assim a queda será menor. Então caio no chão molhado e tudo que vejo agora é escuridão.