Capítulo 11

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Vejo-a no porão. Ela está escrevendo algo em um velho caderno de anotações. Ela escreve sobre o amor. Ela poderia estar escrevendo sobre vários assuntos, mas escolheu escrever sobre esse. Um assunto difícil. E que pra ela, é impossível de sentir presa neste porão.

Ela pensa e acredita que nunca será amada, e nunca será vista. Lá em baixo, só quem tem acesso é a sua Mãe e a sua irmã. Nenhum ser diferente desses, seu sonho é ouvir alguma expressão bonita de um garoto. Ela sempre vê coisas do tipo na Telectela.

Ela se desmorona e fica com as bochechas vermelhas ao ler uma mensagem em um taco. Ela sou eu. Eu sou ela.

Minha visão sobre mim foi totalmente demolida. Nunca escutei elogios de pessoas diferentes das que formavam minha família. Nenhum homem. Nem mesmo meu próprio Pai.

Sou mesmo linda e forte? Se ele pensa isto de mim, que continue pensando. E se ele puder que, por favor, me diga mais vezes. Recebe elogios é bom.

Eu pego o taco e dou um sorriso bastante simples. Receber elogios de uma pessoa desconhecida sempre nos deixa avermelhados?

— Ele só quis ser simpático. – Digo – Além de que eu acabei de chegar aqui.

— Ele gosta de meninas rebeldes, você feriu a Godsvill, isso já é um bom começo. Comenta Aiya.

— Começo de que? Pode ir parando, nada vai começrr aqui... Eu não confio em garotos, o último que apareceu na minha casa, foi o culpado de eu estar aqui.

— Deixa de besteira Vale. – Protesta Lúcia – Aquele da sua casa era corrupto. Esse, da sua nova casa não é.

— Se vocês continuarem com essas insinuações bestas, eu juro que bato com esse taco na cabeça de vocês. – Brinco, tocando levemente o taco na cabeça de Aiya.

O almoço começará a ser servido. Vejo vegetais, arroz e carne. As pessoas começavam a formar fila em um balcão improvisado com caixas. Todos levam pratos. Esfregam rapidamente em uma pia, e são servidos por uma garota que usa um óculos grosseiro, que deixa seus olhos enormes.

Entro na fila com Aiya. Somos as últimas.

— Onde eu consigo um prato? – Pergunto.

—Acho que não vai precisar buscar um... –Responde ela – Olha quem vem ali.

Então vejo Zumbi vindo até a minha direção com um prato de plástico azul e alguns talheres. Ele anda com passos firmes, ombros relaxados. Ele está com uma touca que esconde parte dos seus cabelos. Ele se aproxima, e diz.

— Isso aqui é para você. – Ele me entrega, e anota algo em sua caderneta. Enquanto isso, eu tento desviar meu olhar dele. – Guarde-os, pois damos apenas um kit desses para cada pessoa. Eles já causaram alguns problemas em nosso meio.

— Tudo bem...

— Almoce conosco hoje. – Interrompe Aiya. – Você sempre come sozinho, isso não é legal.

— Almoçarei com vocês apenas se tiver comida suficiente para todos.

Ele vai até o fim da fila, e Aiya me conta que muitas vezes ele dá a sua comida para outra pessoa. Zumbi é muito altruísta. Realmente percebo isso desde que entrei aqui.

Minha vez de ser servida chega. A moça põem vegetais, arroz e carne em meu prato. Sigo Aiya até uma das colunas do Esgoto, e sento-me no chão com ela.

A primeira colherada, eu percebo o quanto essa comida fria é sem graça.

— Você se acostuma. – Diz alguma voz atrás de mim. Zumbi.

FILHOS - [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora