Capítulo 19

407 62 19
                                    

Estela

Nunca tive problemas em admitir os meus erros, porém o momento que sucede o reconhecimento deles me deixa preocupada; não por conta do constrangimento em si, mas por não saber o que esperar depois de um eventual pedido de desculpas.

Eu não conhecia Daniel o suficiente para confiar nas palavras dele. Contudo, no meu entendimento, não tinha como ele ter inventado toda aquela história de uma hora para a outra, a não ser, é claro, que eu estivesse frente a frente com um sociopata ou algo parecido.

— Então isso significa que eu te devo um pedido de desculpas? — perguntei ao Daniel.

— Não precisa — respondeu-me. — Estamos quites, né? Já que também errei! — cobriu a boca com a mão e abaixou a voz. — Mas acho que vocês dois deveriam trocar umas ideias — virou-se para o amigo. — Gael, diz aí... Será que o teu patrão se importaria se eu fosse de mesa em mesa pra tentar vender as minhas cartelas?

— Claro que não, ele é de boa!

— Então é melhor eu cuidar...

Antes de se levantar, Daniel encheu a taça e virou-a de uma vez. Ele disse que voltaria logo, que não era para nos preocuparmos com a questão da cerveja, porque iria pagar por ela. Depois disso, retirou-se.

Na companhia de Gael, pensei no que falaria, mas não sabia ao certo como abordá-lo. Para dificultar as coisas, ele passou um tempão olhando para trás, como se procurasse por alguém. Não queria parecer grossa ou me expressar de forma superficial. Diante disso, esperei durante alguns minutos até que me olhasse.

Quando o momento certo chegou, levantei-me da cadeira e passei para a de Daniel. Ao me sentar, falei:

— Eu sei que isso pode parecer embaraçoso pra nós dois... Mas como diabos eu ia saber que tu já tava na fila, hein? Ninguém me falou nada, tu poderia ao menos ter se explicado antes de sair ou...

— Sim, eu pensei em falar. O problema era que tu tava muito alterada. Não sei se tu percebeu, mas, na boa, lá tinha gente com medo de ti. Sem falar que não havia garantia de tu me entender, vai que eu ia lá, tentava falar contigo e a situação piorasse? Existia essa possibilidade. Né, não?

Em relação ao dia em que nos conhecemos, reconhecia o fato de ter me exaltado. Mas não achei que tivesse ido ao extremo como ele fez parecer. De qualquer maneira, aquela conversa não era para contestá-lo, embora me sentisse tentada. A minha intenção era de resolver os nossos atritos, porque se o meu irmão dizia que ele era uma boa pessoa, eu deveria lhe dar uma chance para provar isso.

— Tá, então eu te peço desculpas por ter bancado a louca naquele dia...

Olhando-me com um sorriso bobo, ele apoiou o braço na mesa e pôs a mão no rosto.

— O que foi? — voltei a falar. — Não vai me dizer nada...? Dá pra parar de me olhar desse jeito, por favor?! Porque eu já tô ficando sem graça e um pouco assustada.

— E se eu te dissesse que não vou aceitar as tuas desculpas? Teria algum problema?

— Não! — cruzei os braços, afastando-me para trás. — Porque aí o problema deixaria de ser meu e passaria a ser completamente teu.

— Só isso? Não tem mais alguma coisa pra dizer ou fazer, não?

— E o que eu teria pra dizer ou fazer? Não espera que eu vá te implorar pra aceitar o meu pedido de desculpas, né? Nem sonhando porque tu não é tudo is...

— Então, tá. Eu aceito o teu pedido de desculpas! — retirou a mão do rosto.

— Meu Deus, tu é muito retardado, cara! Digo... não no sentido de... Pra que esse drama todo?

Entre Bodes e Flores Onde histórias criam vida. Descubra agora