Capítulo 27

271 46 8
                                    

Estela

Como o esperado, tive uma semana agitada. Na floricultura, cercada de papéis e cálculos, tentava me manter focada. Porém, quando eu estava prestes a resolver um problema, outro surgia. E, de repente, tudo fugia do meu alcance. Sumiam as canetas, os clipes, os grampeadores e, por fim, a minha paciência.

Além dos internos, os afazeres externos também precisavam se desenrolar. Um exemplo disso foi o fato de eu ter ido deixar o Leonardo na casa de uma amiga que morava do outro lado da cidade. Enquanto o levava, não parava de pensar no que ainda não havia sido resolvido.

Mesmo atolada de obrigações, organizei-me como podia e as finalizei em torno das três horas da sexta-feira. Exausta, eu me debrucei contra o balcão durante alguns minutos, pois, tirando os funcionários, não havia ninguém pela floricultura, nenhum cliente sequer. Entretanto, enquanto quase cochilava por cima do meu braço, avistei alguém na entrada, então me ergui e corrigi a postura.

Logo percebi que o indivíduo presente era o Gael. Ao se aproximar de mim, ele disse:

— Então é aqui que tu se esconde?

— Quem me dera que aqui fosse meu esconderijo. Passo tanto tempo neste lugar que qualquer dia desses vou acabar trazendo minha cama pra cá.

Naquele instante, Gael me disse que deveria ter passado mais cedo na floricultura. Através disso, deduzi que ele tinha pressa. Então, como eu havia separado as mudas no início da semana, meu único trabalho foi pegá-las no depósito e levá-las ao balcão.

Enquanto as organizava, repassei-lhe algumas orientações. Portanto, na medida em que falei, as dúvidas do Gael surgiram. Com isso, respondi-lhe tudo o que me perguntou.

Na hora de levar as mudas ao carro, Isabel nos ajudou. Então, quando terminei de separá-las na parte interna do veículo, Gael se encostou numa das portas, cruzou os braços e falou:

— Bom... Tu disse que iria lá comigo caso não tivesse tão ocupada hoje. Então, isso é possível ou não tem como acontecer? Não me leva a mal, não, tá. Não quero parecer insistente ou algo assim. Só acho que tu iria gostar bastante.

— Pra falar a verdade, até dá de eu ir, sim! Só que esse negócio de ir e vir pode me atrapalhar toda, entende? O Léo foi fazer trabalho e ficou de me ligar pra ir buscar ele. Então, pode ser que me ligue a qualquer momento.

— Entendi... Então, não tem problema, não. A gente pode deixar pra próxima.

Antes que ele entrasse no carro, voltei a falar:

— Mas, vem cá, me diz uma coisa. Esse evento termina muito tarde ou tem hora certa pra acabar?

— O combinado é de que tudo acabe às seis; pelo menos foi isso que aconteceu na semana passada.

— Agora tô numa dúvida danada se vou ou não, porque não adianta nada eu sair daqui agora pro meu irmão me ligar quando eu tiver na metade do caminho...

— Caso tu queira — interrompeu-me —, podemos ir no meu carro. Daí, quando o Leonardo ligar a gente vai buscar ele sem problema nenhum.

— E isso não vai te atrapalhar com as obrigações?

— Que nada, relaxa! Quando a gente chegar lá tu vai perceber que não se trata muito bem de "obrigações".

Após mudar de ideia, comuniquei ao Iago e a Isabel que iria ao Sábia Luiz. Avisei-lhes para ficarem atentos em relação à loja e à minha moto, pois voltaria antes do horário de fechar as portas.

Assim que entrei no fusca, elogiei a tintura dele. Falei ao Gael que não poderia ter escolhido uma cor melhor. Ele, por sua vez, virou-se para mim e chamou-me de número três, mas se recusou a me contar o motivo. Apesar da minha insistência, disse-me apenas que se tratava de uma piada interna sobre ele mesmo e o veículo em questão.

Entre Bodes e Flores Onde histórias criam vida. Descubra agora