Capítulo 34

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Gael

Durante a exibição do filme, entre um assunto aleatório e outro, perguntei a opinião de Estela a respeito do longa-metragem. Já sabia que a beleza do Bradley não a fascinava, então me restava descobrir o que achava do desempenho do ator em cena.

Ao ser questionada, Estela me disse que, até então, achava "legal" o que tinha visto. Entretanto, ela se mostrou inconformada com o rumo da história. No primeiro instante, quis saber se Peter, o protagonista, conseguiria se livrar da mãe problemática; depois, questionou-me se ele realmente conseguiria sair de casa.

É óbvio que não dei "spoiler" à Estela — naquela época, até desconhecia esse termo. O fato é que, de uma hora para outra, ela exigiu que eu lhe concedesse respostas em relação à trama, mas me neguei a antecipar qualquer coisa, até mesmo quando me implorou. Não satisfeita, ela começou a me atacar com uma almofada. E mesmo na defensiva, não dei o braço a torcer. Continuei negando.

Enquanto Estela continuava a insistir por revelações, eu e ela ficamos a cara a cara. E isso resultou em duas coisas. A primeira; o fim dos ataques com a almofada. A segunda; um silêncio constrangedor.

Durante alguns instantes, eu simplesmente perdi a fala. Parecia que a minha língua tinha ganhado um peso adicional. E ainda que não conseguisse organizar meus pensamentos, diante da aproximação dos nossos rostos, eu sabia o que poderia acontecer adiante, mas não fiz nada para mudar isso. Pelo contrário, pois, por um momento, esvaziei a minha mente, deixando de canto todo e qualquer tipo de pré-julgamento a respeito de nossas possíveis ações. Como consequência, toquei o rosto da Estela e, em seguida, nós nos beijamos.

Apesar da rapidez com que o gesto se concretizou, o ato em si não deixou a desejar. Foi algo recíproco, intenso, tão intenso que o meu corpo logo reagiu. Em outras palavras, fiquei excitado.

A princípio, a ereção não foi um problema. Pode ser que tenha contribuído, mas o que pesou mesmo foi pensar que transar com alguém debaixo daquele teto seria um desrespeito à memória de Sofia. E outra, eu não tinha planejado aquilo. Então, não queria que Estela me interpretasse de modo errado, pois, da minha parte, não havia segundas intenções.

Por consequência das minhas paranoias, que no meu entendimento faziam total sentido, interrompi o beijo e, em questão de segundos, afastei-me de uma vez para trás. Tentando disfarçar a ereção, sentei no canto do sofá, peguei a almofada e a pus sobre o meu colo.

Estela achou que o problema fosse ela. Devido a isso, quis ir embora. No entanto, mesmo diante de uma das minhas crises de tiques físicos e vocálicos, pedi-lhe para ficar. As palavras fugiam de mim, mas ela, ela não poderia ir embora sem ter uma explicação plausível.

Depois de alguns minutos, assim que me recompus, relatei sobre o que tinha acontecido em relação à memória de Sofia. Informei-lhe ainda sobre o fato de não ter me relacionado com ninguém depois que fiquei viúvo. Estela, por sua vez, foi compreensível. Por esse motivo, não demoramos para voltarmos a focar no filme.

Eu me sentiria a pior pessoa do mundo se permitisse que a Estela fosse embora depois dos acontecimentos que antecederam aquele momento. No início da noite, ela me disse que precisava de um ombro amigo. E, ali, ao lado dela, descobri que estávamos no mesmo barco.

Para mim, Estela deixou claro que havia sido somente um beijo, mas o gesto mexeu comigo de tal maneira que, no mesmo instante em que me fez pensar em possibilidades positivas, despertou-me os piores medos. Sendo sincero, fiquei apavorado. Tão apavorado que comecei a gargalhar das piadas que conhecia há tempos.

Com o passar dos minutos, Estela voltou a comentar sobre o filme. Daquela vez, não me encheu de perguntas, mas se mostrou indignada em relação ao desfecho da trama.

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