Capítulo 29

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Estela

Ao ser informada sobre o estado do Leonardo, não perdi tempo, apressei-me e fiz o mesmo com o Gael. Então, deslocamo-nos até o carro dele. Apesar de tê-lo ao meu lado. Não queria partilhar o peso daquela situação com ele; primeiro, por causa do meu nervosismo; segundo, porque achei que era melhor não o envolver no caso.

Sei que em algum momento posso ter parecido arrogante, mas creio que isso não tenha pesado tanto, não diante de uma ocasião como aquela. Durante o percurso, Gael tentou quebrar o gelo; puxou assunto, e a única coisa que fiz foi ignorá-lo. Não por maldade, mas por apreensão.

Quando o carro parou, desci e corri feito louca até o outro lado da avenida. Com os pensamentos intensificados e pessimistas, eu a atravessei sem olhar para os lados — sorte minha não ter sido atropelada, pois me encontrava em um dos trechos mais movimentados da cidade.

Daquela vez, não toquei a campainha e nem sequer bati palmas, empurrei o portão da casa e adentrei. Não precisei ir longe para encontrar o Leonardo. Descalço, com o rosto molhado e sem camisa, eu o vi deitado sobre o tapete da sala. Ao me aproximar, peguei a camisa sobre a barriga dele e enxuguei seu rosto.

De imediato, tentei me comunicar com o meu irmão, perguntei-lhe se sentia alguma dor, mas não obtive qualquer resposta compreensível. Enquanto eu resmungava, Gael se aproximou e sugeriu que o levantássemos. No começo, Leonardo não colaborou, jogou-se para o lado de uma vez e por pouco não bateu a cabeça contra o azulejo.

Durante a segunda tentativa, ele se sentou, e quando tudo parecia bem, regurgitou por cima dos meus sapatos novos. Ao me deparar com aquela cena, senti vontade de chorar. Não por causa dos sapatos, mas porque me vi impossibilitada de lidar com aquela situação sozinha.

Outra vez, Gael se mostrou paciente e me ajudou. Ausentou-se por alguns segundos e, quando retornou, trouxe-me uma sacola para guardar os sapatos. Não havia percebido, mas a camisa do Leonardo estava na mão dele. Com ela molhada, dobrou-a e passou contra o rosto do meu irmão, amenizando assim o suor.

Quando conseguimos sair daquela casa, fomos direto para a minha. Eu havia deixado a moto na floricultura, e a pior parte era que não tinha como pedir para alguém de lá trazê-la para mim, já que carregava a chave do estabelecimento no bolso.

Em casa, levamos o Leonardo direto para o quarto e, seguindo a recomendação do Gael, deitei-o de lado.

Enquanto nos dirigíamos para a sala, Gael falou:

— Não se preocupe, tá? Ele vai ficar bem.

— É, eu espero que sim! Só que amanhã terei uma conversa bem séria com ele. Acho que tá na hora de pegar um pouquinho pesado.

— Bem, talvez seja essa a intenção dele...

Esperei que ele continuasse a falar, e, diante do silêncio do Gael, questionei-lhe:

— Como assim? Do que tu tá falando?

— Não considere isso como uma afirmação, mas já pensou na possibilidade de ele estar querendo chamar a tua atenção sem saber como?

— É, pode até ser, mas não vai me dizer que tu concorda com isso, né? Acha que encher a cara é bonito? Ainda mais na idade dele?

— Calma, pera aí! Não coloque palavras na minha boca... Não, não acho. De jeito nenhum! Olha... não é tentando amenizar a situação dele, mas hoje me senti bem estranho porque me vi do outro lado da história. Digamos que fiz algo parecido quando tinha a idade do Leonardo.

Confesso que me surpreendi diante de tal revelação, visto que Gael não aparentava ser do tipo que agia daquela forma.

— E por acaso o teu objetivo era chamar a atenção de alguém? — perguntei-lhe.

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