Capítulo 36

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Gael

Guilherme ia casar, e embora a minha situação financeira não estivesse tão favorável quanto gostaria, jamais perderia a oportunidade de comparecer à cerimônia. Afinal, seria um momento épico, único, assim como aqueles eclipses raros que só acontecem uma vez a cada século.

Como o casamento ocorreria em alguns dias, eu precisava me antecipar para deixar tudo "ok" enquanto estivesse fora. Em vista disso, após falar com o meu irmão, liguei de imediato para o Daniel. Precisava lhe perguntar se poderia cuidar da minha casa. Ele, por sua vez, adorou a ideia. Mostrando-se animado, disse:

— Claro! Sem problema nenhum. Nem precisa pedir duas vezes. Vai ficar fora por quantos dias? Tu vai viajar sozinho?

— Então, sobre a quantidade de dias, ainda não sei ao certo, mas não devo passar mais do que uma semana. Sabe como é, né? Tenho um bode pra cuidar... Por enquanto, acho que irei só, mas vai que isso mude daqui pra lá.

— Por falar nisso, ele vai ficar aí na tua casa? Porque, na boa, não sei se tenho capacidade pra dar conta de um bode... Ele come o quê? Capim?

— Não, não. Quanto a isso, não se preocupe, tá? Eu vou deixar o Godofredo no sítio. Ele vai ficar lá com a minha tia.

— Ei, perainda... Mas tu já tinha planejado isso ou tá com medo de, de repente, alguma coisa ruim acontecer com ele enquanto eu estiver por perto? Porque, convenhamos, eu não sou tão irresponsável assim.

— Defina "alguma coisa ruim". Seria tipo tu chegar aqui bêbado e colocar vodca pra ele ao invés de água? Se for a resposta for "sim", tenho medo...

— É, tu sabe o que faz. Melhor a gente não correr esse risco.

Após me resolver com o Daniel, comecei a andar pela casa. Não conseguia parar de pensar na possibilidade de chamar a Estela para me acompanhar durante a viagem. Nos últimos tempos, ela tinha sido uma ótima amiga, e isso me levou a pensar que, talvez, fosse uma boa ideia convidá-la como acompanhante.

Por um lado, sabia que era algo arriscado. Estela poderia não enxergar a viagem com bons olhos, e com razão. Existia a possibilidade de ela achar que eu estava forçando algo. Entretanto, da mesma forma que precisava parar de tentar adivinhar os pensamentos dela, teria de confirmar que eu não estava apenas carente, que existia algo a mais acontecendo ou prestes a acontecer entre nós.

Na última sexta-feira daquele mês, data de encerramento do programa implantado no Sábia Luz, Estela e eu não tivemos tanto contato durante as horas em que estivemos no mesmo local, mas isso não significa dizer que eu não tenha passado o tempo todo procurando uma forma menos engessada de fazer o convite a ela, já que não tinha conseguido falar nos dias anteriores. Devo admitir que só de pensar numa possível resposta, sentia o estômago embrulhar devido à ansiedade. No entanto, era algo que precisava ser feito.

Portanto, após finalizarmos o evento na casa de repouso, fomos para uma confraternização no Balneário Veneza — um dos pontos turísticos mais aclamado da cidade, onde há fontes de águas cristalinas e minerais.

Na parte comercial do Balneário, em uma das churrascarias, sentamos um do lado do outro. Demorei alguns minutos para abrir a boca, e quando tive coragem, virei-me para ela e tentei ser direto:

— O meu irmão me ligou e disse que vai casar na quinta-feira. Daí eu tava pensando... Tu aceita ir comigo pra cerimônia?

— E tu tem irmão? — perguntou-me, surpresa. — Jurava que tu era filho único.

— E-eu ainda não lhe falei sobre ele?

— Não, acho que não. Pelo menos não que eu me lembre.

— Ok, então. Vamos por etapas, tá? — diminuí o ritmo da fala. — Eu tenho um irmão, o Guilherme. Ele é dois anos mais novo que eu, e mora com os nossos pais. Ele é do tipo que tu olha e pensa "esse daí nunca vai casar". Não por ser alguém feio, na verdade, é bastante bonito, bonito até demais. Na boa, se eu fosse ele, procuraria uma agência de modelo. Só que nem tudo é perfeito. Digamos que o Guilherme é um pouco, "acomodado", meio "bagunceiro", sabe...? "Crianção", acho que esse é o termo mais apropriado.

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