Capítulo 35

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Estela


Gael me comunicou sobre o casamento do irmão dele na capital cearense. No entanto, apesar de ter me animado com o convite, não havia como aceitá-lo, pois eu tinha um grande trabalho pela frente, e não poderia jogar tais atribuições nas costas dos meus funcionários. Então, ao informá-lo de que eu não poderia sair da cidade, perguntei a ele:

— E quantos dias tu pretende passar por lá?

— Bom, queria ficar fora por pelo menos uma semana. Sabe como é, né? Faz tempo que não vejo nenhum dos meus familiares, sem falar que nunca fui à Fortaleza.

— Entendo. Eu também não conheço a cidade, mas sei que deve ser linda.

Após um momento em silêncio, Gael olhou para os lados e disse:

— É... se importaria de a gente sair daqui um pouco?

— O que foi? Não tá se sentindo bem?

— Não, não é nada disso. Só quero caminhar um pouco. Sei lá, jogar conversa fora. Topa?

Não demorou para que levantássemos e saíssemos pelos arredores da lagoa do Balneário Veneza. Enquanto caminhávamos, ele começou a puxar assunto, até que, de repente, comentou sobre o beijo que havíamos dado. Daquela vez, de um ponto de vista diferente:

— Eu te disse que fiquei apavorado por causa das lembranças, da casa e tal, mas com o passar dos dias analisei a situação de outras maneiras e me toquei de que, talvez, o meu maior medo seja te decepcionar. Porque, na boa, eu gosto muito de ti. Só que sou bastante problemático e isso faz com que as pessoas se afastem... Entende o que tô tentando dizer?

— Acho que sim. Pelo visto, tu tem medo de que a gente se envolva de tal maneira que acabe comprometendo a nossa amizade. É isso?

— É, é bem por aí, sim, mas, ao mesmo tempo, quero que tu saiba que, por agora, eu me sentiria cem por cento confortável se aquela coisa se repetisse.

— Que coisa?

— Ah, tu sabe, né? — enfiou as mãos no bolso da calça e olhou para o chão.

— Tá falando do beijo? — perguntei, e ele levantou a cabeça, concordando ao movimentá-la. — Isso não é um pedido de namoro, né, Gael? Ou será que é?

— Não, não. Que é isso? — interrompeu-me, gaguejando. — Seria muito ridículo da minha parte, e até meio doentio... Imagina só, a gente só se beijou uma vez. Além do mais...

— Eu tô brincando, mas também confesso que tô aliviada por tu não ser um Yuri da vida.

— Quem é Yuri?

Sem respondê-lo, agi de modo repentino. Suspendi os pés, pus as mãos em volta do pescoço do Gael e o beijei, estimulando-o a se inclinar para a frente. Quando o ato foi finalizado, percebi o rosto dele completamente corado. Ainda que parecesse tímido, ele me surpreendeu ao me agarrar pela cintura e retribuir o gesto.

Nos minutos seguintes, nós ficamos de mãos dadas e, posicionados debaixo de uma árvore, permanecemos ao redor da água. Por um instante, começamos a falar sobre nós. Porém, Gael não se aprofundou tanto. Tirando o foco de si mesmo, comentou sobre seus familiares.

Durante aquela conversa, pude concluir algumas coisas. Por exemplo, constatei que a relação do Gael com a mãe dele era conflituosa — uma realidade diferente da minha. Ele não me contou os motivos por trás dos desentendimentos, mas não falava dela com o mesmo entusiasmo utilizado para se referir ao pai e ao irmão.

Não sabia de que modo o Gael me enxergava, mas entendia que confiava em mim. Às vezes, ele se mostrava empolgado; outras, ficava quieto sem dizer muita coisa. De qualquer forma, o fato de ele não falar tanto sobre si mesmo me encantava, ainda que parte de mim quisesse conhecê-lo por inteiro do dia para a noite.

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