Hooker

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P.O.V. ALICE

Emma me sentou em uma cadeira, pegou uma outra e colocou na minha frente, abriu uma gaveta que tinha em um grande baú no quarto pegou um saquinho que possuía um pó branco, cocaína. Fez uma grande fila e cheirou de uma vez.

- Isso te assusta? - Me perguntou.

- Não, na verdade eu sempre tive uma certa curiosidade. - Não tinha mais medo, acho que já era responsável o suficiente pra decidir os meus atos daqui por diante.

Emma começou a rir.

- De qualquer jeito, eu iria dizer para você vir aqui para aliviar a sua dor.

- Aliviar a dor? - Perguntei com medo.

- É, acabou a anestesia. - Disse sacudindo uma pequena caixa de primeiros socorros. - Na verdade, eu nem sei o que aconteceu com você. - Cruzou os braços.

- Levei um tiro, história longa. - Kenay saiu debaixo da cama e deitou perto dos meus pés.

- Ele deve ter visto algo em você, nunca deixou animais entrarem aqui dentro, ele detesta bicho, se não me engano é até alérgico. - Abriu o saquinho e despeijou uma quantidade significativa.

- Ele aparentou não ter problemas com o Kenay. - Me levantei com um pouco de dificuldade enquanto Emma preparava outra fileira pra mim. Eu poderia me curar, eu sei que poderia mas celestiais não podem se mostrar para mundanos. Consequentemente, ela não poderia ver que eu tenho poderes se é que eu ainda tenho eles, e isso também poderia despertar a atenção de Lúcifer, teria que ser na marra.

- Vocês cheiram em canudos? - Perguntei achando graça.

- Quer cheirar em que, notas de cem dólares? - Me perguntou entregando o canudo, fui de uma vez. - Cuidado, você nunca foi nisso, não quero ser culpada pela sua morte. - Parecia estar assustada.

- Acredite, eu sou mais forte do que você pensa. - Disse puxando o ar para que entrasse tudo, uma sensação incrível passou pelo meu corpo, senti minhas pupilas dilatando enquanto cada músculo do meu corpo relaxava,me soltei espalhando na cadeira, joguei minha cabeça para trás.

- Parece que você gostou né? - Gargalhou se sentando na minha frente.

- Aonde vocês arrumam isso? - Perguntei me erguendo, queria ver o que ela iria fazer.

- Compramos do Félix, no final do mês ele vem acertar tudo com a gente.

- Como assim, vocês pagam para trabalhar?

- Não exatamente, tudo aqui praticamente é pago. A água e comida que cada uma consome, energia, roupas, maquiagem, cabelo, Félix nos proporciona tudo na hora assim que pedimos, mas no final do mês ele vem cobrar, e se não tivermos o dinheiro sofremos castigos.

- Que tipos de castigos? - Perguntei assustada ao vê-la pegar um bisturi e luvas dentro da pequena maleta.

- Espancamentos, pessoas próximas sendo ameaçadas de morte. Uma menina que trabalha aqui, teve a irmã morta. Ester, a mulata que estava aqui conosco veio do Brasil e tentou fugir, teve dedos dos pés arrancados.

- Eu também sou do Brasil. - Disse tentando me desviar do pensamento de ter meus dedos sendo arrancados. - Como você veio parar aqui?

- Eu sou Irlandesa, tenho um irmão mas a anos não o vejo, graças ao Carvalho Félix não sabe da existência dele.

- Eu conheço um Irlandês. - Disse intrigada pois só celestiais ou pessoas do meio usavam esse termo, "carvalho", enquanto tentava ignorar o fato de que a poucos minutos seria rasgada. - Nicolas, Nicolas Horan. - Emma completou.

- Você é uma conjuradora! - Respondi em um raciocínio rapido,  na mesma hora Emma arregalou os olhos.

- Não acredito que estou de frente a escolhida! - Se levantou.

- Como você sabe? - Perguntei intrigada.

- Você possui uma magia absurda, consigo sentir. Meio que deduzi pois nunca tinha chegado perto de alguém assim, nem mesmo minha mãe que é uma das conjuradoras mais fortes possui tamanha grandeza, eu só queria ter certeza de que era você mesma. Sabia que um dia iria te conhecer. - Emma sorriu.

- Devo ficar com medo de você? - Coloquei as mãos sobre os meus machucados esperando uma cura rápida caso eu precisasse participar de uma batalha, mas nada aconteceu.

- Tente essas palavras Salvum facere quod perierat, iustus gratiam, quæ habet plagam.

- Eu não consigo falar latim! - Falei envergonhada com o sorriso no rosto de Emma.

- Você ainda não sabe quase nada não é? Esse é o ruim de ter somente 18 anos. É um extinto seu Alice, é só você querer e você conseguirá.

Baltazar tinha me dito isso uma vez, coloquei as mãos sobre o tiro que agora tinha voltado a sangrar. Foquei em um ponto fixo no quarto e as palavras saíram em uma velocidade impressionante.

- Salvum facere quod perierat, iustus gratiam, quæ habet plagam! *

Uma luz tinha se formado em minhas mãos, eu senti o projétil saindo devagar, enquanto meus musculos e tendões se reconstruiam e até mesmo o sangue parecia voltar para dentro. A bala saiu, minha perna e todos os outros machucados cicatrizaram, Emma me olhava orgulhosa e feliz, e eu não conseguia acreditar. Eu tinha esse poder o tempo todo.



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* Salva o que se perdeu, cura o que se feriu.

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