39

62 9 3
                                    

Não tinha mais o que fazer, eu não iria morrer aqui, eu não podia morrer aqui! Muita água tinha que rolar ainda e agora eu tinha outro propósito, vingança.

Correr não iria adiantar, gritar e chorar também não. Precisava manter minha calma, respirar e seguir em frente sem me preocupar com o passado, que interessava agora era manter a consciência e achar a estrada, depois disso o que vier é lucro.

Eu não tinha me conformado que já não tinha mais uma vida em mim, que não iria mais me sentir completa, que eu já não gerava meu pequeno infinito. Era impossível raciocinar com tudo que havia acontecido, mas essa dor, essa maldita e infeliz dor era incomparável.

Bebi um pouco da água do riacho que estava quase seco, me coloquei em pé e comecei a andar. Surpreendentemente, o tiro que recebi não sangrava mais, doía muito a cada passo que dava mas era necessário.

Tudo é temporário.

Aprendi a dizer isso nos piores momentos, se encaixava bem agora, tinha que ser.

Após horas na floresta apenas com Kenay e as criaturas ao meu lado, comecei a ouvir barulhos de carros passando e meu coração se aqueceu, tinha encontrado a estrada.

Parei nas margens de uma rodovia e um sorriso se formou em meus lábios, uma Range Rover prata estava passando, o mesmo carro de carro de Leonardo, a saudade que me preencheu tomou o lugar do vazio que tinha se formado mas sabia que não era ele, temia que fosse algo pior, algo como Lúcifer. Parou no acostamento devagar e um homem muito elegante desceu do banco detrás, era muito branco, usava óculos, aparentava ser alemão e possuía uma classe divina, temi que ele poderia ser um dos aliados do meu inimigo.

- Ei, está tudo bem? - Disse em um sotaque forçado a uns dez passos de mim.

- Não, não tem nada bem. - Senti as lágrimas saindo dos meus olhos.

- Isso eu percebi, venha, vou tirar você daqui.

- Espera, quem é você? - Dei mais dois passos pra trás

- Uma coisa de cada vez. Precisamos cuidar desses seus ferimentos antes que vire uma infecção.

- Você conhece alguém chamado Lúcifer?

- Isso é algum tipo de piada? - Perguntou desconfiado.

- Conhece ou não? - Estava impaciente, temia o que poderia acontecer.

- Não sei o que está passando pela sua cabeça, mas não faço parte de nenhuma seita satânica.

Eu sei o que você estaria pensando, o que eu iria fazer dentro do carro de um desconhecido indo para outro lugar desconhecido? Bom, também não sabia, só espero que seja bem longe de todo esse inferno.

Dois homens desceram com um semblante preocupado, seguranças.

- Posso levá-lo? - Falei mostrando o meu companheiro.

- Esse animal imundo dentro do meu carro? - Olhou com nojo para Kenay.

- Sem ele eu não vou. - Me afastei.

- Hora menina, não me faça perder a paciência e te deixar aqui! Já fiz minha boa ação de hoje.

Continuei relutante, revirou os olhos.

- Coloque-o no chão, nada de ficar em cima do banco. - Quando abri a porta, Kenay pulou para o colo do homem que ainda era desconhecido, passando a cabeça em sua mão cheia de anéis.

Unidos pela LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora