(Narrado por WonWoo)
Acordei num lugar totalmente desconhecido por mim, mas sabia que muito provavelmente estava numa cabana no acampamento. Não senti vontade de sair dali, sequer senti vontade de me mover, sentira uma onda de melancolia me acertar no ônibus e, em seguida, sono. Provavelmente dormira no ônibus e algum dos monitores me trouxera ou pedira alguém para que me levasse ali.
Respirei fundo sentindo uma grande falta de energia, uma enorme vontade de ficar ali naquela cama e não sair por um bom tempo. Eu não queria ter que ver nenhum deles, estava até um pouco entusiasmado com a excursão, mas aquela noticia de que eles iriam fazer todas aquelas atividades junto apenas me faz querer ficar aqui e não sair. Qualquer pensamento meu que tentava de alguma forma escapar disso tudo acabava sendo pessimista e havendo alguma interação minha com algum deles. E eu não suportaria essa interação. Não sabendo que a culpa de tudo é minha e que eu teria que me explicar.
O certo a se fazer seria conversar, e seria obviamente o que uma pessoa normal faria. Mas além de ter o passado me afastando deles, tinha agora o presente me impossibilitando ainda mais. Isso me fez chegar à conclusão de que eu teria que me afastar de MinGyu também, não seria justo com ninguém, muito menos com ele. Além de coloca-lo em perigo, ainda estaria o usando para afastar os outros. Era incrível o como eu só percebia as coisas tarde demais.
Não queria revê-los, não queria estar ali, não queria estar vivo. Não queria olhar para eles e ver a mudança, mesmo que leve, que o tempo havia feito em suas aparências. Era demais para mim sentir o ar ficar tenso, sentir a falta de comunicação e ficar mal por isso. Sentir que a culpa era minha, ver em seus olhos a dúvida e a tristeza.
Sentia-me vazio e completamente perdido, a face de cada um deles aparecia em minha mente de novo e de novo. Olhar para o rosto de cada um deles foi a pior coisa que eu poderia ter feito ao saber da noticia de que viajaríamos juntos. Eu poderia ter ficado calado, poderia ter apenas encarando a janela e torcido para que não me reconhecessem _sequer me vissem _ ali. Não deveria ter saído de casa. Eu era inútil ali, era inútil em qualquer lugar, apenas iria levar tristeza a cada um deles.
Era como cair em um abismo, um profundo e escuro abismo de melindre e sentimentos e culpa. E o pior era que essa sensação não era recente. Eu estava caindo e caindo e caindo eternamente há muito tempo. A ideia de sair de casa parecia não tão assustadora algumas horas antes, mas naquele momento eu apenas sentia medo do impacto do final do abismo de tanto tempo que já estava a cair e nunca chegar lá.
Sentia-me fraco e impotente e idiota. Apenas queria ir embora, apenas queria _dei uma risada amarga e sem graça ao proferir isso, mesmo que em pensamentos pela centésima vez _ morrer... Mas nem tudo é como desejamos não é mesmo? Não queria reviver o passado, mas não podia encarar o presente.
Fechei os olhos a fim de voltar a dormir, mas após me revirar algumas vezes percebi que não conseguiria tão facilmente. Observei o céu claro e com poucas nuvens através da janela da qual eu me encontrava em baixo, parecia ser por volta das quatro da tarde. Não me importei com o horário, queria ficar ali naquela cama dormindo eternamente. Mas como a parte do eterno era impossível me contentaria em apenas dormir um pouco fugindo dos problemas da vida por pelo menos algumas horas. Era melhor do que nada.
Consegui pregar os olhos por um tempo tendo um bom sono sem sonhos, e melhor, sem pesadelos. Apenas havia dormido. Mas não me alegrei em olhar para a janela e ver que mal havia escurecido, era por isso que havia dormido com tanta facilidade, ficaria acordando diversas vezes entre o sono. Odiava quando isso acontecia, mas era aquilo ou não conseguir dormir.
Consegui dormir outra vez, sendo acordado pelo frio e pela brisa que entrava pela janela, ao menos naquele momento estava um pouco mais tarde. Começava a escurecer e já deveria ser lá pelas seis da tarde. Olhei em volta vendo que havia cobertas sobre uma mesinha no canto da cabana, levantei-me sentindo a cabeça rodar. Não era apenas o sentimento de fraqueza que me assolava, ele era físico além de psicológico. Peguei uma das cobertas e me deitei de novo me cobrindo e fechando os olhos uma terceira vez para dormir.
Abri os olhos sentindo uma ardência familiar no pulso esquerdo, o olhei e vi sangue seco ao redor de um corte. Observei-o com o olhar vazio com nada se passando em minha mente, havia arranhado o pulso enquanto dormia novamente. Virara um habito quando recaía. Adormeci encarando o pulso mal percebendo o momento em que fechara os olhos.
Acordei pela quarta vez começando a me irritar com o sono interrompido, mas daquela vez era MinGyu que me acordava me cutucando delicadamente. Virei-me o encarando e o mesmo se sentou ao meu lado me olhando.
_Vão apresentar os alunos de uma escola à outra, você não quer vir? – Sua voz dizia calma e baixa, como que para não incomodar. Neguei sem palavras, incapaz de proferir palavras no mínimo gentis. Mas o garoto me olhou esperando o motivo, ou talvez apenas ouvir minha voz. Ele comprimiu os lábios ao ver algo em meus olhos e inclinou a cabeça para o lado num ato felino confuso – Por quê?
_Não quero, MinGyu – murmurei, a voz já rouca naturalmente ainda mais grossa que o normal. Senti em minha própria voz a debilitação física e psicológica que havia me atingido. Ele se aproximou ao ouvir minha voz e tocou minha testa, mas se desaproximou com uma feição confusa.
_Você está bem? – indagou com a voz em tom de preocupação, inspirei e assenti suspirando. O mesmo juntou as sobrancelhas ajeitando mais a coberta em meu corpo.
_Eu só estou com sono – respondi já quase fechando os olhos novamente, quase como se estivesse dopado e precisasse "dormir". Mas não sabia porque estava assim – Pode me avisar quando alguma atividade for obrigatória? – perguntei ao maior, que ao perceber que meus olhos estavam fechados tratou de responder em palavras.
_Nenhuma das atividades é obrigatória, apenas as reuniões em volta da fogueira a noite para que todos contem o que aconteceu durante o dia – explicou me fazendo suspirar, eles estariam lá então...
Eu teria que arrumar uma forma de não ficar por perto.
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Gente eu tô postando isso hoje porque eu resolvi passar 'O garoto assombração' para o Wattpad tambem, a historia está la no meu perfil, ela também é meio que Meanie rsrs.
Espero que dêem uma chance e gostem dela também ^-^
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O garoto estranho que usava preto
FanfictionQuando um garoto normal, Kim MinGyu, coloca os olhos em Jeon WonWoo, o garoto silencioso e estranho de sua sala, sente uma tremenda curiosidade se apoderar de si e necessidade de o conhecer. No entanto, quanto mais coisas descobre a respeito do gar...