_Por que sua mãe não procurou saber de você? Ela não ligou de você ter passado a morar aqui, e não a vi quando fomos a sua casa. Ela sequer te procurou no hospital – falei e odiei a cinidez que tive que usar. Eu já sabia o porquê. Sabia muito bem, mas era egoísta e desconfiado. E extremamente podre por fazer Won falar sobre aquilo. Sobre algo que eu sabia que o fizera chorar, por algo extremamente triste.
Odiei-me ainda mais quando ele deixou o rosto livre de qualquer expressão, ficando macabramente inexpressivo. Quis chorar por fazer aquilo com ele, lembrar-lhe daquele ocorrido. Quis me levantar e me jogar daquela escada, caindo de proposito daquela vez.
_Eu... – Baixou a cabeça por um instante respirando fundo, logo voltando a me olhar – Cheguei mais cedo do acampamento, lembra? – Assenti após vê-lo suspirar e assumir um olhar triste. Arrependi-me amargamente de ter perguntado aquilo – Assim que cheguei em casa e não a encontrei, comecei a procura-la – contou após parecer perder as forças que o mantinham de joelhos, seus braços deixaram de me envolver e ele deixou seu corpo cair sentado de qualquer forma sobre o colchão – Eu a encontrei na cozinha, morta – disse pausadamente como se segurasse o choro. Olhei bem para seu rosto e vi prata brilhar nos olhos escuros. Ele engoliu em seco diante de meu olhar, e o desviou, olhando para o chão, mas com o rosto ainda erguido – Aquele dia em que você foi na minha casa e me viu desacordado. Foi DongHyo, acho que você já sabia. Ele sumiu com o corpo dela, espancou-me de novo quando perguntei sobre.
O olhei com cautela, com outra pergunta reluzindo em meu olhar. E ele entendeu o que eu queria saber antes que eu o abraçasse. O puxei para meu colo, colocando sua cabeça sobre meu peito e envolvendo seu corpo com meus braços. O deixando entre minhas pernas.
_Sim, de novo – respondeu a pergunta silenciosa em meus olhos, fungando baixinho – Ele nos batia bastante, desde que nos mudamos para esta cidade. Ele batia mais nela, mesmo que eu tentasse evitar. Eu tentava ajudar mais quando ele de repente passou a agir assim, mas descobri da pior forma que o melhor era não intervir. Desde o dia da mudança ele se tornou violento, mas nunca imaginei que ele a mataria... – sussurrou a ultima parte parecendo falar mais consigo mesmo que comigo.
_Eu... não sei o que falar – Minha voz era inexpressiva, mas não deixei de falar a verdade. Já sabia da morte de sua mãe, entretanto não sabia de tantos detalhes assim. Senti meu sangue ferver em raiva daquele idiota, ele havia machucado Won mais do que eu imaginara. Seus hematomas haviam deixado de serem tão aparentes havia um tempo. Sua tez voltava a parecer imaculada, branquinha. Mas isso não apagava o que aquele idiota fizera.
_Não tem que dizer nada – falou baixo, calmo. Aninhando-se ao meu colo, ficando, aparentemente, mais confortável. Como se fosse dormir, reparei. Ele estava sentado de costas para mim, sobre meu corpo, quase deitado. E segurou meus braços _ que estavam em volta de sua cintura _ colocando os seus sobre eles - Eu também não sabia sobre seu pai, estamos quites. E você já fez duas perguntas, afinal, respondi duas.
_Ok... então é sua vez de novo – falei sorrindo de leve ao ver Won erguer a cabeça para me olhar. Um olhar inocente, de quem não merecia passar por aquilo tudo. E então me disse, com um medo que me partiu o coração:
_Por que continua me ajudando? – A pergunta me atingiu num baque fazendo meu pequeno sorriso sumir no mesmo momento. E apenas consegui sentir tristeza, arrependimento e culpa ao ouvi-lo continuar – Você cuidou de mim no acampamento – Ele deu um sorriso nostálgico como se lembrasse – Visitou-me no hospital todos os dias. Cedeu-me sua casa e continua cuidando de mim, por quê? - Seus olhos transbordavam curiosidade e sua expressão, cautela.
_Porque eu quero... e porque você merece – E talvez porque eu esteja apaixonado por você e queira te ver bem completei mentalmente, sem coragem de dizer em voz alta bem na sua frente – Por que eu não ajudaria? – indaguei retoricamente vendo sua expressão confusa – Gosto de você, Won. Gosto de cuidar de você – O segurei mais firme enquanto falava, para ressaltar o que dizia – E vou continuar cuidando – Sorri levemente tentando o passar confiança, o mostrar que era verdade e que eu o protegeria de qualquer coisa. De DongYul, de DongHyo e de qualquer outro que fosse burro e canalha o bastante para fazer algo ruim com ele.
Ele sorriu mínimo, como se escondendo um sorriso maior por trás e baixou a cabeça. Era minha vez, mas não havia ocorrido como eu imaginava. Aquilo era o bastante, ele confiava em mim, mostrou isso tão claramente que se eu continuasse estaria apenas sendo um idiota o fazendo chorar ainda mais. Coisa que ele não merecia. Eu deveria agora perguntar outras coisas, perguntar o que eu havia planejado apenas o magoaria, o faria se lembrar de coisas que eram desnecessárias recordar naquele momento. Na hora certa ele me contaria, eu sabia disso. Minhas perguntas: "O que realmente conversou com SeokMin aquele dia?", "Por que não fala com seus amigos?" e "Quem exatamente é DongYul?" eram desnecessárias. Resolvi então que perguntaria sobre outras coisas em que tinha duvida.
Pensei um pouco, e contemplei uma verdade que há muito já estava na minha cara. Eu não conhecia quase nada sobre o garoto que agora estava em meus braços. Não sobre sua vida ao menos. Pois sua personalidade e coisas que gostava de fazer eram coisas que eu com prazer, colecionava em minha mente. Gostava de lembrar desses detalhes sobre ele, uma forma de conhecê-lo. Então, em meio a essa pequena coleção de coisas, lembrei-me de sua grande afeição por desenhos. Aqueles desenhos estranhos e misteriosos, que pareciam ocultar diferentes significados.
_Seus desenhos, aqueles que vi na escola, da primeira vez que nos falamos. O que significam?
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O garoto estranho que usava preto
FanficQuando um garoto normal, Kim MinGyu, coloca os olhos em Jeon WonWoo, o garoto silencioso e estranho de sua sala, sente uma tremenda curiosidade se apoderar de si e necessidade de o conhecer. No entanto, quanto mais coisas descobre a respeito do gar...