Eu talvez esteja arrependido

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(Narrado por DongYul)

Eu não podia fazer aquilo. Não, a culpa se contorcia dentro de mim. Contra meu orgulho eu admitia estar arrependido, não de tudo, mas da parte que envolvia o pai de Wonnie. Minha mente era uma confusão, mas eu sabia que se fosse minimamente esperto, não mataria WonWoo. Não, o senhor Jeon se tornara insano, insano de mais até para mim. Ao ponto de querer mata-lo. Mas eu não queria aquilo, nao queria mais machuca-lo. Talvez algum dano reparável, mas não a morte.

Passava os dias dormindo no que percebi ser seu antigo quarto, surpreendi-me com cada coisa que encontrava ali. Suas antigas roupas coloridas no armário. Alguns desenhos macabros e interessantes. E alguns textos que me chamaram a atenção e me fizeram pensar bastante, mesmo que involuntariamente, por bastante tempo.

Talvez eu já tivesse feito algo irreversível.

Passara dos limites em algum momento que não percebera. E mesmo que eu ainda quisesse muito seguir meu plano original e ter como alvo o tal MinGyu, eu não podia. E tinha que impedir o senhor Jeon de fazer algo pior. O único problema era, como? Wonnie não confiava em mim, e tinha ciência de que nunca confiaria novamente. E com razão. Se fosse até ele, o mesmo provavelmente fugiria, sem falar que o outro o protegeria. E sem falar que ele nunca acreditaria em mim. Aquilo me deixava sem opções. Bem, deixou-me até o dia anterior, quando percebi uma maneira de lhe avisar sem o amedrontar com minha presença. Então tratei de logo escrever um aviso breve num pedaço de papel de seu próprio caderno.

Um dia depois, sem muita dificuldade saltei o muro de onde descobrira ser sua escola. Havia tempos já tinha descoberto onde ele se abrigara. Na casa de seu namorado. Costumava vigiar a casa, descobrindo quando a mãe do menino e o mesmo saiam, deixando Wonnie sozinho. Mas por algum motivo eu nunca encontrara coragem de entrar lá. De me aproximar de mais.

Costumava observar de longe, através de portas e janelas abertas. E via que WonWoo era sorridente perto de MinGyu e da mãe do garoto, mas longe deles _ seja de manhã ou de madrugada _, libertava suas lágrimas. Desesperadas, calmas, variavam por entre os dias. Aprendi os horários de todos ali, e num dia qualquer, resolvi trocar o prazer de ver a bela tristeza de Wonnie para descobrir onde o garoto alto estudava. Descobrindo posteriormente que Wonnie também estudava ali. E que seus amigos haviam ido para lá também. Incrível como nunca ninguém me percebia.

Já dentro da escola, iluminando meu caminho em meio a escuridão da noite acentuada pelos corredores com meu celular, eu me dirigia a diretoria. Ao chegar no local não foi muito complicado destrancar e abrir a porta. Procurei em meio aos arquivos dos alunos o nome de WonWoo. Assim que encontrei o papel sorri satisfeito ao ver o número de seu armário e do corredor.

Saí de lá já sabendo meu destino, e ao localizar o armário o destranquei com a chave que encontrara na mochila de Wonnie. Coloquei ali o aviso e parti daquele lugar, tendo outra ideia em mente. Não sabia se iria funcionar, ele poderia mal acreditar em mim. E poderia não tomar nenhuma precaução também. Eu me sentia estranho o ajudando, uma parte de mim não concordava com o ato. Entretanto, toda vez que cogitava a ideia de parar de ajuda-lo e continuar com meu plano original, lembranças me assombravam.

"Abri minha mochila e coloquei meus materiais sobre minha velha mesinha. Havia obedecido meus pais até agora, talvez por um dia poderia passar sem ser punido. Após o término da aula correra até à casa _ ou mancara tentando correr _ sem falar com ninguém. Chegara e não fizera barulho e agora estudaria em silencio. Apenas não podia em hipótese alguma acordar meu pais. E tudo ficaria bem.

Mas ah, estava fácil de mais. Logo após abrir o zíper da bolsinha de lápis meticulosamente para que não fizesse barulho, senti algo ser pressionado em meu pescoço. Fui puxado bruscamente para o chão, engasgando, tentando levar as mãos até o pescoço para tentar tirar aquilo. Meu corpo foi arrastado para trás lentamente, usando o cinto que havia em volta do meu pescoço como corda. Eu arquejava e lutava em busca de ar, mas erroneamente. Os olhos lacrimejavam e minha visão ficava cada vez mais embaçada. O ar se dissipava de meus pulmões lenta e tortuosamente. Minha cabeça pareceu ficar pesada. Meus olhos pareceram se fechar sozinhos, até o aperto desaparecer e eu ofegar respirando novamente.

_Eu disse para não me acordar - esbravejou meu pai, com sua voz grossa dando entonação a ameaça silenciosa.

_Eu não... fiz... barulho - ofeguei, as palavras não passando de um sussurro desesperado. Ele riu sarcástico e deu um chute em meu rosto. O impacto fez com que meu rosto virasse para o lado contrario que ele havia chutado. Senti dor lancinar em meu maxilar.

_Curiosamente eu acordei com você chegando - Começou a puxar meus cabelos violentamente, passando a me puxar até aquela sala assustadora. Tentei me debater e ele jogou meu corpo contra uma das paredes, fazendo questão de bater minha cabeça com mais força. Parei, fraco, sentindo minha consciência se esvair. E implorei, com terror:

_Não... por favor - implorei baixinho, mas ele apenas continuou me arrastando. Minha voz estava fraca, eu estava fraco - Por favor... não.

_Quieto! - Adentrou a sala comigo e atou um de meus pulsos ao piso. O metal apertava a pele, e era afiado por dentro, feito para que qualquer movimento me fizesse sangrar. Então acabei por permanecer quieto enquanto ele atava o outro. Os cantos da visão começavam a escurecer e tudo se embaçava mais - Não ouse ficar desacordado - Abri os olhos que tinha fechado, tentando continuar desta maneira enquanto gemia de dor em resposta às novas marcas que eram acrescentadas a minha pele."

Levei uma mão até o pescoço, sentindo um fantasma do aperto ali. Sacudi a cabeça afastando a memoria e comecei a juntar as coisas de Wonnie em sua mochila.



O garoto estranho que usava pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora