Eu o amo

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Minhas orbes estavam fixas no grande espelho a minha frente, um espelho de comprimento tão grande que eu temia que me engolisse. O tempo era curto e eu sequer sabia quanto dele havia passado ali tentando me ajeitar. Eu tinha que estar perfeito, impecável, pois aquele era o dia. Aquele era o grande dia, e sequer havia visto WonWoo ainda. 

O reflexo me assustava, eu estava muito diferente desde a época em que conhecera o Jeon. Havia me acostumado a olhar no espelho ao longo dos anos, pois ultimamente eu já não lembrava tanto meu pai quanto na adolescência. Arriscava dizer que havia até mesmo ficado mais bonito, mesmo que WonWoo tenha transcendido muito melhor que eu. O Jeon mantinha uma beleza sobrenaturalmente cada vez mais maravilhosa, deleitar-me com ela era um privilegio com o qual eu adoraria viver até meus últimos dias.

Chequei o cabelo, nem um fio fora do lugar, bem penteado e arrumado num corte diferente que havia feito naquele dia. Gastara um bom tempo apenas o arrumando naquela manhã, confessava estar mais que contente com o resultado. Passei a mão pela roupa, não conseguia conter nada da ansiedade que me maquinava. Nenhum centímetro de meu corpo se livrava de movimento, cada músculo se revezava em mexer-se. Limpei até mesmo uma poeira invisível. Era uma vestimenta bem simples para a ocasião, mas eu tinha que admitir que havia ficado ótimo nela.

Ajustei a gravata pela milésima vez, a peça não queria de forma alguma parecer correta aos meus olhos. Ou talvez eu mesmo que queria colocar defeito ali, colocar falhas em algum lugar para me sabotar. Queria estar impecável e aquilo me deixava ainda mais ansioso, como se a situação já não fosse desesperadora o bastante. Assumi uma careta com as feições tensas quando acabara desamarrando a gravata em minhas mãos de maneira que sequer havia entendido. Eu definitivamente não sabia arrumar aquilo e o nervosismo apenas complicava a situação, dificultando-a tremendamente. Respirei fundo tentando manter a cabeça no lugar, não tinha tempo para entrar em desespero. Comecei a tentar amarrar aquele pedaço de pano maldito, entretanto mãos trêmulas me sabotavam.

_Deixe-me lhe ajudar – O som sutil de tecido sendo agitado que eu emitia fora interrompido por passos ritmados e pela voz de JunHui. Sua imagem surgiu ao lado da minha no reflexo do espelho, ele olhou para si e sorriu vaidosamente dando uma piscadela para si mesmo. Revirei os olhos dando um fôlego risonho enquanto virava-me em sua direção. Logo seus dedos agilmente amarravam a gravata sem dificuldade alguma. Sua expressão era calma e sua atenção parecia fiel à gravata – Precisa se acalmar, quem vai espera-lo no altar será você. Não tem que ficar nervoso. WonWoo não é do tipo de noiva que se atrasa – comentou humoradamente.

_Se sua intensão era me acalmar, não funcionou, Wen – Ele soltou uma risadinha nasalada com certo entusiasmo que apenas me deixava ainda mais nervoso. Terminou de compor a gravata corretamente e gesticulou com os pulsos na direção do espelho com um sorrisinho convencido. Olhei naquela direção novamente e finalmente consegui sorrir satisfeito para o resultado. Sequer arriscaria a tocar para não acabar a desamarrando novamente.

_Você é um idiota, sabia? – O chinês disse, causando em reação um olhar indignado meu na sua direção. Ele apenas deu outra risadinha humorada – Não é como se WonWoo fosse capaz de te deixar no altar – brincou, rindo ao perceber minha brusca mudança de expressão por apenas naquele momento cogitar aquela possibilidade. Recebi um soco fraco no ombro – Não faça essa expressão, sabe que a possibilidade disso acontecer é a mesma de você abandona-lo no altar. Impossível – disse, empurrando-me levemente para o lado com o ombro, ocupando o espaço do espelho para si. Começou a dispor seu cabelo, os olhos fixos em seu próprio reflexo como se fosse a coisa mais linda que ele já havia admirado em vida – Como estou? – Deu uma puxada na blusa do terno para acomoda-lo devidamente ao corpo, dando um sorriso ladino em seguida. Assim como o meu, seu terno era preto, o diferencial restava na coloração da gravata. O meu continha alguns tons mais escuros de preto também, mas era sua gravata azul que fora muito exigida que marcava a grande diferença. Algo não muito bem explicado sobre MingHao, este que havia ficado com uma amarela. Passara semanas ao pé de meu ouvido pedindo para que aquele pedido fosse acatado. Era algo simples, o mínimo que eu podia fazer era dizer sim.

O garoto estranho que usava pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora