Eu nao sabia o que sentir

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Chutando a neve de forma robótica e quase inconsciente, eu sentia os olhos arderem por acompanhar meus próprios passos com afinco. O caminho em direção ao hospital deixara de ser novidade havia bastante tempo. As poucas dezenas de minutos que gastava para ir ate lá caminhando deixavam de ser entediantes quando se passava pela minha cabeça o motivo de estar me dirigindo ate lá. Quem estava lá, e como ele estava.

Encarei a rosa em minha mão, um pouco maltratada por fazer frio e com alguns flocos por cima por estar a carregando nas mãos desde que saíra da floricultura que havia no meio do caminho ate ali. Mas ainda assim, estava linda e bem cuidada. Imaginei se WonWoo não gostaria de uma rosa, os dois eram lindos no final.

O observar pela janela envidraçada da porta antes de entrar em seu quarto se tornara um vicio quase que inconscientemente devido as tantas vezes que o fazia. Tal como não bater antes de entrar, ato este, que teria de retomar já que agora o garoto estava acordado. Não podia entrar assim, sem mais nem menos, um pouco de educação não fere ninguém.

_Oi WonWoo – disse ao vê-lo se virar na minha direção quando a porta foi aberta, vi seus olhos encararem a rosa que tinha em mãos e quase não consegui conter o sorriso. Mas a vontade de sorrir foi cortada ao ver um brilho de tristeza fora do comum ali naqueles olhos, aqueles que sempre me diziam a verdade sobre o que WonWoo sentia. Ele estava mais triste, mas por quê?

Havia ali cansaço, eles pareciam bem mais vazios que o habitual, e havia ali brilho de lagrimas e uma grande tristeza desistente. Meu coração se apertou ao vê-lo assim, me aproximei de si e coloquei a rosa em suas mãos, o fazendo encara-la curiosamente.

_Eu trouxe para ti – comentei o vendo levantar o olhar para mim novamente e me olhar de forma ainda curiosa e um pouco diferente do que o que eu já havia visto ali. Daquela vez não consegui identificar o olhar que ele havia me lançado, o que me intrigou levemente. Vi o canto direito de seu lábio se erguer quase que nada e não segurei o sorriso que ofereci de volta. Ele não havia chegado a sorrir, mas havia tentado, aquilo era o bastante para me deixar contente.

WonWoo olhou para o garoto da outra maca antes de voltar o olhar para mim mais rápido que o normal com um olhar que novamente pedia por ajuda em silencio. Olhei para o garoto de cabelos azuis da outra maca e descobri que desta vez, ele estava acordado. E olhava WonWoo de forma divertida.

_Olá – cumprimentei-o também e pela visão periférica notei WonWoo se encolher apertando a rosa, olhei para ele de súbito, deveria ter retirado os espinhos antes. Peguei a rosa de suas mãos vendo ali alguns arranhões, contrai os lábios. Eu era mesmo um idiota.

Retirei os espinhos e recoloquei a rosa sobre seu colo enquanto olhava em volta procurando algo para estancar o pouco sangue que saia dos pequenos arranhões. Tive a impressão de ouvir uma risada, mas julguei ser coisa da minha cabeça. Quando iria perguntar a WonWoo se ele estava bem ou precisava de algo fui interrompido antes de começar.

_Então é você o atual de WonWoo? – Ouvi o garoto perguntar com veneno e interesse na voz, entrei em estado de alerta imediatamente. O olhei a tempo de vê-lo cerrando os olhos e formando um bico fofo com os lábios como uma criança. Ele conhecia WonWoo? Quem era ele então? Por que WonWoo parecia ter medo dele?

Como não havia parado para pensar nisso antes? Se WonWoo tinha medo dele era porque eles se conheciam, nem que fosse minimamente. Então o que aquele garoto estava fazendo ali?

_O que? – interpelei confuso, do que ele falava daquela vez?

_Ah, sabe, eu e WonWoo já namoramos uma vez. Se dependesse de mim ainda estaríamos juntos até hoje, mas pelo visto ele se deu melhor que eu – Olhou-me de cima a baixo e mordeu o lábio inferior.

Franzi não o respondendo e o encarando por um tempo sem saber se sentia nojo, raiva ou tristeza. Era muita coisa a se digerir, WonWoo já havia namorado com alguém assim? Aquilo era difícil de imaginar, imaginar WonWoo com qualquer outra pessoa me parecia uma ideia dolorosa, mas com alguém como ele...

Sentia raiva da forma como ele falava, de como parecia se divertir com WonWoo naquele estado. Era como se vê-lo mal lhe fosse um prazer. Ah, se ele encostasse um dedo sequer em WonWoo com intensão de feri-lo ele estaria em maus lençóis sem duvida. Eu não permitiria que ele sequer chegasse perto do meu WonWoo para fazer algum mal a ele.

Sentia nojo ao imagina-lo com WonWoo tendo em vista aquela aparente personalidade depravada. Alguém como WonWoo merecia muito mais - não que eu fosse tudo aquilo, mas com certeza mais que ele era -, aquele cara não parecia nem um pouco confiável a se deixar sozinho com o Jeon.

E sentia tristeza por estar agora ciente de que outra pessoa de alguma forma já havia tido o coração de Won para si. Mesmo que agora parecesse não ter já que o Jeon demonstrava medo do mesmo. De alguma forma eu agora me sentia ainda mais distante de WonWoo do que já achava estar.

_Não é namorado dele? Ah, sinto muito por voce, ele é um amorzinho, não é Wonnie? – Olhou para WonWoo, mas este mantinha a expressao petrificada olhando de mim para ele parecendo querer dizer algo. Franzi a testa novamente, aquilo não estava me cheirando bem. Aquele garoto havia feito algo muito sério contra WonWoo para que ele entrasse em pânico daquela forma.

_Calma WonWoo – falei com a voz tentando soar suave e calma, os aparelhos captavam uma agitação fora do normal do mesmo. Mas não arrisquei segurar sua mão, tinha medo de ser rejeitado outra vez – Está tudo bem.

_Enfim, que azar o seu, ou melhor, que azar o dele. Se me permite dizer, está perdendo bastante coisa Wonnie – Aquele apelido estava começando a me dar nos nervos, aquele garoto tinha algo de muito errado. Me sentia desconfortável com esses comentários impertinentes. Cerrei os olhos para ele o analizando, ele parecia em boas condições, por que ainda estava ali naquele hospital?

_O que lhe ocorreu para que viesse parar num hospital? – O interroguei, ele colocou os braços para trás da cabeça e se acomodou na maca como se fosse uma cama confortável e se pôs a explicar calmamente.

_Eu e uns amigos viemos para esta cidade numa noite qualquer na intensão de ir em alguma balada que a gente conseguisse entrar. Como a gente não conseguiu andamos por aí procurando algo para fazer, até que um dos gênios teve a brilhante ideia de me desafiar a pular um muro alto de uma casa de um riquinho qualquer aí. Pelo visto eu devo ter batido a cabeça quando cai – Deu de ombros como se todo o relato fosse apenas algo que acontece usualmente em sua vida. Torci o nariz para o garoto e neguei levemente com a cabeça voltando a atenção para WonWoo e vendo-o com a cabeça baixa ocultando o rosto de mim.

Ele não estava chorando, estava?

O garoto estranho que usava pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora