Eu vou cuidar dele

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(Narrado por JunHui)


Não me detive em mandar outra mensagem a MingHao, estava preocupado. Ele geralmente nunca demorava tanto a responder, e desta vez nem mesmo as ligações estava atendendo. Com mais quinze minutos e mais algumas ligações não atendidas resolvi ir até sua casa para verificar o que tinha acontecido. Eu poderia estar sendo exagerado, mas ele não costumava sumir assim e ele estava estranho de manhã. Eu não podia correr nenhum risco, MingHao era muito especial para perde-lo, para ousar negligencia-lo.

A caminho de sua casa tentei lhe ligar mais uma vez e lhe mandar outra mensagem. Assim que cheguei e olhei para a imensidão que se estendia sobre minha cabeça, senti um mal pressentimento. E então entrei sem bater, por algum motivo, esperava ou sabia que MingHao não viria me atender. Franzi o cenho para o fato de tudo estar destrancado, mas agradeci por estar, era um obstáculo a menos. A casa estava medonhamente silenciosa, para meu pavor. E eu não fazia ideia de por onde começar a procura-lo.

Fui olhando em cada porta em meu caminho, até subir para o segundo andar e adentrar seu quarto. Dentro dele havia apenas uma porta, a do banheiro. Fui naquela direção apenas para verificar. Não esperava que ele realmente estivesse ali, no entanto.

Senti desespero completo e avassalador se apossar de mim e de todo o meu corpo a medida que minhas pernas se moviam sozinhas na direção da banheira. Eu de repente estava tremulo e sentia meu coração acelerar mais que nunca havia acelerado. Sentia que podia desmaiar ali mesmo, naquele instante. Um pouco de percepção me atingiu com o desespero, e me movi rapidamente na direção de MingMing para tira-lo de dentro da banheira, de dentro da água.

Meus braços envolveram seu tronco de um lado e o ergui o retirando da água sem conseguir reparar se ele ainda respirava. Seu corpo estava gelado, e completamente maleável em meus braços. O coloquei no chão, mas não consegui manter a mente em ordem. Tentei sentir seus batimentos, mas não consegui e apenas me desesperei mais ainda. Pressionei seu peito algumas vezes tentando reproduzir aquilo que via nos filmes, mas não obtive sucesso. Desesperado e sem saber o que fazer, pressionei seu nariz e coloquei minha boca sobre a sua, tentando levar ar até seus pulmões. Após algum tempo assim Ming começou a tossir e logo expeliu o pouco de água que havia ingerido.

_Ming? – indaguei desesperado, ele abriu os olhos lentamente os deixando em fendas. Ele respirava tão fracamente que doía em mim. Eu estava tremendo, ele havia tentado se matar. Levei minha mão até seu rosto retirando alguns fios de cabelo molhados dali. Ele estava gelado e pálido, aparentemente pela falta de oxigênio. Quanto tempo havia passado ali? Olhei em volta, não vendo nada aparentando estar fora do lugar, ele não tinha ingerido nenhum tipo de remédio, não é?

_Jun...? – A voz tremeluzira como uma vela perto de uma janela. Parecia surpreso em me ver, a julgar pela micro expressão que tinha. Ele tentava manter os olhos abertos. Acariciei a tez de seu rosto me distraindo momentaneamente da tensão para admira-lo. Ele continuava lindo, mesmo daquela forma, mas aquilo não importava. Não naquele momento, eu tinha que cuidar dele. Ele havia tentado se matar, seu corpinho encolhido, as mãos sobre o lugar onde ficava o pulmão, tudo me lembrava do feito. Ele parecia frágil, fraco. Eu queria cuidar dele, passar todo o tempo do mundo ao seu lado, ali, para que ele não tentasse aquilo de novo. Eu senti as lágrimas escorrendo por meu rosto muito depois de quando já haviam começado.

_Jun – repetiu, e sua voz proferiu meu nome num tom mais único desta vez, mais intimo, mais profundo. Ele parecia fechar os olhos outra vez, segurei seu rosto com as duas mãos o olhando com certo desespero – Jun – disse mais devagar, chamando-me, seus olhos permaneciam em mim. Ele falava como se não acreditasse que eu estava realmente ali. Dizia meu nome como se fosse algo bom, quase afastando a sensação ruim que me rondava, quase me dispersando do que havia acontecido ali.

Suicídio.

Fora o que Ming tentara, um frio na barriga e visitou ao pensar nisso. Mesmo que tentasse afastar a palavra de minha mente, ela voltava. Ele havia tentado, havia tentado se afogar, tentado suicídio. Queria chorar por ter ciência disso, as pessoas geralmente tentavam suicídio quando não havia mais outra opção. Quando suas vidas estavam ruins de mais, quando não haviam mais sentimentos bons. Quando tudo era ruim de mais para continuar suportando. Eu não queria imaginar que Ming tentara aquilo, mas estava bem na minha frente. Seu rosto frágil adornado com uma expressão contemplativa ao olhar para mim, estava bem ali. A minha frente, para que visse que eu havia sido idiota o bastante para não ver. Não perceber que ele era infeliz, não perceber que precisava de ajuda. Mas ele estava vivo, Ming ainda estava vivo e agora eu iria o ajudar.

Acariciei a tez de seu rosto novamente numa demonstração meio falha de afeto. Agora sabia que não deveria ter ignorado aquele pesar, era apenas isso, o pesar. Era o que denunciava tudo, mas eu o negligenciara. Se eu houvesse reparado nele, tentado entender, tentado ajudar. Se tivesse prestado atenção ao invés de negligencia-lo. Se tivesse visto com outros olhos Ming não estaria daquela forma. Ele estaria bem, eu teria o ajudado, com certeza.

Mas eu o negligenciei, mesmo quando ele me contou de sua família. Quando desabafou sobre a mesma, sobre não ter mais os pais. Tentei o confortar um pouco, mas não conseguira entender realmente a total dimensão de seu sofrimento, sua tristeza. Eu fui um idiota. Resolvi imaginar que tudo estava bem ao invés de lhe estender a mão. Mas após o que ele havia tentado...

Eu sabia que nada estava bem.

_Pode falar, Ming – respondi ao ouvi-lo dizer meu nome outra vez, suas mãos se moveram na direção de meu rosto, mas apenas uma tocou minha bochecha. Ele fez um carinho ali com o polegar, o olhar parecia frágil e doce. E me sensibilizei com toda aquela doçura.

Mas ele nada disse, apenas continuou movimentando o polegar por minha tez. Um esboço de sorriso jazeu ali, mas não chegou aos olhos antes de desaparecer. Continuei o esperando falar até que ele parou a caricia, seus olhos, que já em fendas, passaram a se fechar. E sua mão, inerte, foi recolhida até seu próprio peito, onde repousou. Devia estar cansado por não conseguir respirar direito, a inconsciência finalmente lhe alcançando.

Rapidamente tratei de pega-lo no colo novamente, assim que tive seu corpo em minhas mãos tratei de me apressar para leva-lo até seu quarto e coloca-lo sobre a cama. Seu corpo estava mole, a inconsciência parecia o puxar, seus olhos se abriram novamente. Seus lábios se abriram para dizer algo. Aguardei meu nome ser proferido por ele novamente, mas ele apenas os fechou, juntamente de seus olhos. Ele deixou os músculos do corpo relaxarem e a inconsciência pareceu doma-lo por completo. Seria uma cena adorável, não fossem as circunstancias em que estávamos. Andei na direção de seu quarto assegurando-me o tempo todo de que ele continuava respirando embora descansasse. Sua expressão calma me fazia respirar mais calmamente, embora ainda estivesse desesperado. O coloquei sobre sua cama, ele ainda estava molhado, mas eu não poderia simplesmente trocar suas roupas, seria estranho. Então apenas o cobri com a manta mais grossa que consegui encontrar ali. Ciente até de mais sobre o perigo dele pegar um resfriado. Mas com relação a isso eu não podia fazer nada. Distrai-me mais uma vez, no entanto, com seus murmúrios novamente. Meu nome entre eles.

_Jun – Deixei-me sorrir apesar do clima que pesava sobre os ombros, pesando uma sensação ruim deixada pelo susto que tivera pouco mais cedo – Eu te amo, Jun – Espantei-me, não deixando de arregalar os olhos, assustado com as palavras. Jurei ter escutado errado.

Ajoelhei-me ao lado de sua cama o olhando e esperando-o dizer novamente, mas ele não disse nada e permaneceu de olhos fechados. Continuei o observando, mas ele parecia ter adormecido. O olhei incrédulo o esperando falar do mesmo jeito não sabendo o que fazer ou falar. Eu tinha que ter ouvido mal, pois não era possível Ming ter dito aquilo. O desespero fora do comum deveria ter afetado meu cérebro.

Levantei após bons minutos apenas olhando para a face de MingHao o esperando dizer algo. Como muito depois ele continuou em silencio, constatei que realmente havia dormido. Mas a ansiedade de ouvir aquilo era tanta que me levou a continuar ali olhando para ele esperando palavras que não viriam. Resolvi que ficaria ali e cuidaria de Ming, mesmo que tivesse que dormir ali e não ir as aulas.

Sai de seu quarto e fui na direção de onde achava ser a cozinha. Iria fazer algo para quando ele acordasse, para que não ficasse mal alimentado.

Iria cuidar dele.

O garoto estranho que usava pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora