Ele iria se mudar?

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Fora ali que tudo começara, onde eu o avistara todos os dias. Naquele mesmo muro branco, com grama cobrindo o chão _ Naquele momento soterrado com o branco da neve _ que eu o vira se sentar e desenhar durante intervalos e mais intervalos. Fora ali que meu coração passara a pertencer a si, a entoar seu nome em cada batida. Uma canção que movia meu sangue em sua função. Apenas eu que não percebera por muito tempo. Não fora ali que admitira que o amava, era tolo de mais para perceber.

Apenas começara a admitir a mim mesmo o quanto amava Jeon WonWoo quando vira o mesmo machucado. Quando sentira o terror de perde-lo, quando perde-lo para a escuridão não parecia algo longínquo de mais. Quando sangue manchava tez e vestes. Quando palidez mórbida reivindicava cada vez mais seu rosto. Quando a morte espreitava à sua procura.

Apenas em meio ao desespero e temor eu admitira o sentimento considerado tão belo. E o perigo apenas estava seguindo seu curso na direção do fim. O ápice de dor e sofrimento causado por ele já havia sido conquistado há muito. Eu chegara na historia já tarde de mais, o que DongYul o causara já havia sido feito. O torpor da loucura de DongHyo já havia sido alcançado. Eu cheguei muito depois, desgraças horrendas já haviam sido cometidas. WonWoo iria morrer naquele dia se eu chegasse um pouco mais tarde em sua casa.

Eu podia ter chegado um pouco tarde, mas ao menos não fora tarde de mais. Ele ainda estava vivo, estava voltando a sorrir aos poucos. A cor retornava ao seu rosto, sua magreza excessiva ia, aos poucos, sendo resolvida pela comida de minha mãe. Se eu conseguisse apenas fazer felicidade retornar àqueles olhos...

_Gyu? – Ouvi a voz de WonWoo e ergui a cabeça olhando na sua direção. Sua voz estava baixa, hesitante. Observei aquele rosto de expressão acanhada. O nariz estava avermelhado por conta da baixa temperatura, estava bem agasalhado por insistência minha. As bochechas coradas em contraste com a derme branquinha eram como uma borrifada adorável de rosa.

_Foi neste lugar aqui, exatamente este sob meus pés – disse baixando a cabeça e olhando para o chão -, que eu te vi pela primeira vez – Continuei a encarar a neve sob meus pés, e permaneci quieto pelos minutos seguintes. Sopesei se deveria dizer aquilo que estava pensando, aquele turbilhão que me inebriava em lembranças – Eu sempre te olhava, te via vir até aqui e se sentar – Dito e feito, sentei-me bem ali naquele local. O frio da neve não tardou em me afugentar, mas disse antes de me levantar novamente: - Sempre estava desenhando, às vezes lia um livro, às vezes escutava musica – O olhei a tempo de ver as bochechas corarem mais intensamente. A borrifada rosa se tornara uma pincelada de carmesim.

Fiquei de pé e observei WonWoo. Sua expressão perdida, incerta, me fez parar. Eu continuaria falando, talvez em meio àquelas voltas e coisas significativas eu encontrasse coragem e lhe contasse sobre meus sentimentos. Que era apaixonado por ele. Mas havia algo como medo, temor, uma suplica silenciosa para que eu parasse. Meu coração doeu, gritou para que eu continuasse. Talvez aquele fosse o único momento em que eu acreditava em mim mesmo para lhe contar aquilo. O único e ultimo momento que eu me achava capaz, que achava que podia lhe contar aquilo. Mas aquela suplica me impediu.

_Sempre adorei te observar – continuei baixinho antes da suplica me esmagar completamente – Bem... o que faz aqui? – indaguei suavemente afastando toda aquela sensação boa do peito. Ela fora sufocada e massacrada por aquele olhar suplicante que me pedia que parasse com a demonstração de afeto que começara. Tentei esquecer o coração acelerado e forçar um sorriso, mas não consegui.

_Vim conversar contigo – Sorri com a afirmação, com a consideração. Mas parei no instante seguinte, ele nem deveria estar ali. Seus amigo deviam estar o procurando, esperando-lhe em algum lugar. Se ele queria conversar comigo podíamos fazer isso em casa, ali ele poderia dar atenção a seu irmão e seus amigos.

O garoto estranho que usava pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora