Eu ainda diria a ele

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Pensei na pergunta. Um universo... A única coisa na qual eu conseguia pensar ao contemplar um universo inteiro, criar um universo inteiro. Era que eu já tinha meu universo, WonWoo. Ele era meu universo, meu pequeno universo, que dividia o quarto comigo. Mas criar um, tentei imaginar um universo, um que eu pudesse ter criado.

Fechei os olhos e tentei visualizar, um mundo que eu tivesse criado. Mas apenas me vi com WonWoo nos vários lugares que eu havia imaginado. Campos, regiões com neve, bosques de clima outonal, gramados primaveris. Um mar num clima estival, vendo o crepúsculo juntos, o céu noturno, passando o dia juntos.

_Min? – O ouvi me chamar, baixo, como se achasse que eu já estivesse dormindo. Parecia temer me acordar. Murmurei em resposta um “hm” e ele falou um pouco mais alto: _ Não me respondeu.

_Uh? Eu não sei... Um universo? Acho que é coisa de mais para eu pensar sozinho. E você? Já criou algum? – Senti suas mãos irem timidamente ao encontro das minhas. Ele segurou minhas mãos, entrelaçando seus dedos aos meus. Seu ato me fez sorrir. Não sabia se ele estava fazendo aquilo por conta do sono ou não, mas sorri alegre com o feito.

_Sempre quis que alguém me perguntasse isso de volta – Ouvi o sorriso nas palavras novamente e não deixei de amostrar o meu – Adoraria ter um universo só meu, silencioso, mas com bastante música. Um universo em que eu possa desenhar em paz. Sem ninguém me atrapalhar ou me bater. 

_Que fique claro, Won – O interrompi suavemente, mas com firmeza – Que a partir do momento em que te vi machucado, jurei a mim mesmo que ninguém te machucaria novamente. Enquanto estiver ao meu lado não deixarei ninguém bater em você – Soltei uma de suas mãos e segurei seu rosto o virei na direção do meu – Ninguém vai machucar você de novo.

Soltei seu rosto e voltei a segurar sua mão. Sorri antes que ele abaixasse o rosto, desejei que estivesse claro para ver o rubor de suas bochechas.

_Jurou? – indagou baixinho sussurrando, parecendo envergonhado. Concordei na mesma altura que ele. Não me importava em revelar aulas coisas a ele, lhe dizer o quanto era importante a mim. O quanto eu gostaria de lhe proteger, de cuidar de si. Suas mãos deram um aperto leve nas minhas, e apertei de volta na mesma intensidade – Podíamos fazer um universo só nosso depois. Criar um juntos – Ele murmurou me fazendo sorrir outra vez. Ele olhou para mim e sorriu também. Seu olhar sobre mim era intenso me tirava o ar, mas logo ele desviou os olhos de mim.

Decidi, então, que aquele era um dos melhores momentos da minha vida. Tinha Won ali em meus braços, quase deitado sobre mim. Seu calor roçando o meu. Enquanto eu lhe contava algumas coisas e ele contava as suas. Ele confiava em mim, comprovei. Confiava e me contaria o resto quando fosse a hora certa.

_Qual sua cor favorita?

Uma pergunta banal a qual ele não precisava dessa brincadeira para fazer. Estranhei a infantilidade da pergunta para com as outras. Havíamos ido de universos próprios a cores favoritas. Era uma grande diferença. Suspirei, tentando não atrapalhar Won hyung no processo. O qual ainda tinha sua cabeça escorada em meu ombro.

_Azul – respondi simples e ele pareceu se lembrar de algo importante após alguns minutos em silencio. Senti uma de suas mãos passar a acariciar a minha e sorri. Estava mais que feliz ali. Mesmo com o pesadelo, afinal, WonWoo estava em meus braços. Estava ali em segurança, comigo. E ele havia me contado coisas que até mesmo ao seu próprio irmão não contara. O que mostrava que ele realmente confiava em mim. Mais cedo ou mais tarde eu saberia o resto.

_Eu tive um sonho – contou, baixinho. Acariciando as costas de minha mão com a sua, carinhosamente –, no hospital. Em que eu estava num lugar branco, e de repente haviam varias borboletas a minha volta – Pude ouvi-lo engolir em seco e me vi curioso sobre o sonho – De varias cores... mas haviam duas que me chamaram atenção. Uma amarela e uma azul – Ele ergueu os olhos para me olhar – Minha cor favorita é amarelo.

Ergui as sobrancelhas diante da coincidência. Surpreso com algo assim. Borboletas... só conseguia me lembrar do clichê de borboletas no estomago ao ouvir tal palavra. Pequenos bichinhos alados com asas enfeitadas, não me pareciam nada de mais.

_Sempre gostei de borboletas – comentou ele quando não respondi, baixando a cabeça novamente – Sempre gostei de qualquer animal alado na verdade. Mas particularmente borboletas e anjos. Acho as borboletas bonitas. Pequenas, frágeis e lindas. Livres para voarem por onde quiserem – contou, porém parou de súbito. Como se tomasse um susto. Talvez houvesse esquecido de onde estava. Distraído.

_Parece gostar muito – comentei após algum tempo, ele assentiu contra meu ombro. Sua voz aos poucos se tornava sonolenta, e cogitei se ele adormeceria ali em meu colo. Não seria um incomodo, muito menos um problema. Além de que era tremendamente confortável ter o corpo do menor junto ao meu.

Observei seus cabelos, negros como a noite que nos envolvia. Fracamente iluminado por lampejos da luz da lua, que surgia da janela. Ainda podia sentir o coração palpitando por tê-lo tão perto. Por estar com nossas mãos entrelaçadas de forma carinhosa. Por estar assim com ele. Meu coração ressoava fortemente, e bateu ainda mais forte e mais rápido quando contemplei outra ideia, e comecei, baixinho:

_Won... eu sei que minhas perguntas acabaram, mas... – Hesitei e esperei que ele protestasse por eu não ter mais direito a nenhuma pergunta, ele não o fez, então continuei. Senti que se abrisse um pouco mais aboca meu coração sairia pulando – O que você diria se eu te contasse que acho que me apaixonei por você? – Senti como se o coração fosse subir pelas cordas vocais e pular de minha boca ali mesmo, naquele momento. Após despejar as palavras devagar e hesitantemente. Porém Won mal se moveu, e foi apenas reparar em sua respiração leve que soube que ele havia adormecido.

O garoto estranho que usava pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora