Ele estava bem

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Respirei fundo jurando que podia muito bem sentir o esforço do coração batendo dentro do peito. Encarei aquela maçaneta sem conseguir mover o braço para movê-la. Tinha receio de entrar e ver algo que não gostaria, mas a agonia de não ver como ele estava já tinha feito efeito por tempo de mais em mim. Precisava vê-lo, e precisava ser agora. Levei a mão ate a maçaneta que eu tanto encarava determinadamente e a girei abrindo a porta e tendo como visão algo que me cortou o coração.

Ele ainda não havia acordado, mas estava melhor que antes, como o médico havia dito, ele não tinha se alimentado e por isso não havia conseguido ficar acordado depois de ter sido agredido. O medico perguntou o que havia acontecido com ele, mas eu não sabia explicar então apenas disse que o encontrara na rua. Agora ele tinha ate mesmo um aparelho respiratório em seu rosto.

Ainda do lado de fora do quarto, observei-o da porta vendo sua pele pálida como papel, combinando com a cor da maca, da roupa e das paredes. Era tudo muito branco, era estranho não vê-lo todo em preto. Dei um passo entrando no local e vendo sua expressão calma, neutra. Eu queria tanto poder abraça-lo, mas não sabia se podia, nem se deveria.

Cheguei mais perto parando ao lado da maca, em momento nenhum desviando o olhar de seu rosto. Sua face me trazendo uma paz que eu não tinha, justamente por ser ele ali. Deslizei meu olhar para sua mão e ali entrelacei meus dedos aos seus novamente, a sensação não sendo diferente desde a primeira vez. O choque térmico e o coração acelerado prevalecendo à sensação única e diferente em meu corpo inteiro.

Umedeci os lábios sentindo a garganta seca e funguei enquanto o olhava com nada se passando em minha mente, apenas silencio enquanto o observava. Era como se ao chegar perto dele tudo sumisse, o mau pressentimento, os pensamentos de que ele estava mal. Tudo. Era como se ao olhar para ele, eu sentisse que tudo estava bem, que tudo iria ficar bem. Era como se as minhas preocupações fossem inúteis e idiotas, e ao lado dele elas viravam pó.

Sorri com aquela sensação, estar ao lado dele me fazia bem, mesmo que ele não estivesse acordado e falando comigo. Eu não precisava de que seus olhos estivessem abertos para saber que ele estava ali, apenas precisava saber que estava bem e que continuaria assim. Coisa que eu agradecia por saber. Sabia que ele não demoraria muito a acordar e que, apesar de ter anemia, seu quadro não era tão grave a ponto de não poder ser acompanhado fora do hospital. Disseram que ele poderia ter alta depois que acordasse e se sentisse bem o suficiente para se levantar, mas ainda teriam que diagnosticar seus remédios e outra serie de coisas que não prestei atenção por estar feliz de mais com o fato de que ele estava bem.

Apertei sua mão de leve me sentindo bem em vê-lo uma situação melhor que antes, mesmo que não fosse tão aparente. Mesmo que não fosse visível aos olhos, eu sabia que seu estado era melhor do que quando ainda estava no sofá de casa. Agora apenas tinha que esperar ele acordar, e eu iria visita-lo todos os dias após a aula até ele ter alta, ele moraria comigo a partir daquele momento.

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Adentrei a escola com o humor incrivelmente melhor que nos dias anteriores, a simples visita e a consciência de que WonWoo estava bem havia me feito ficar absurdamente tranquilo quanto a todo o resto da minha vida. Com a mente mais leve e os sentimentos mais levianos, mas ainda assim, preocupado com qualquer risco que ele tinha de piorar.

_MinGyu, posso saber o motivo razão ou circunstancia que você teve para faltar à aula ontem, sumir o dia inteiro e acima de tudo, não responder minhas mensagens e nem atender as minhas ligações? – SeungKwan ditou furioso parando na minha frente com o dedo apontado na minha cara tentando acumular o máximo possível de autoridade sobre mim.

_Passei o dia no hospital – falei sem explicar o motivo, apenas para que ele perdesse um pouco da pose e parasse de gritar. E foi o que ele fez, baixou a mão que antes apontava para meu rosto e transformou sua expressão numa séria começando a me analisar.

_O que aconteceu? – falou mais baixo me olhando quase sem expressão, suspirei começando a me preparar para falar o que havia vivido dois dias atrás e o quanto isso mexeu comigo.

_Ok, agora repete tudo, só que sem mentir ou inventar nenhuma historia – Ele disse quando terminei de falar, sem acreditar no que eu havia dito. O olhei esperando que tivesse outra reação ao perceber que eu falava sério. Não era possível que ele achava que eu estava brincando com uma coisa dessas! – Você não pode estar falando sério Min... – Continuou a me olhar como se fosse a pior piada que alguém já tivesse lhe contado na vida.

_Mas eu estou – falei e suspirei tentando sair dali para ir ate a sala, mas ele não deixou e segurou meu braço me olhando de forma triste dessa vez. Vi seu pomo de adão se mover quando engoliu em seco.

_Sinto muito – murmurou e em seguida deu tapinhas em minhas costas – Quando ele estiver melhor você vai pedi-lo em namoro e vai apresenta-lo a gente não vai? – perguntou em tom de brincadeira me fazendo soltar uma risada soprada, só ele era capaz de fazer piada num momento como este e ainda conseguir ser engraçado.

_Claro, claro – falei me soltando dele e mal reparando que havia concordado com sua brincadeirinha, talvez o momento tivesse mexido com minha mente a ponto de mal me importar em negar mais nada. Ao menos a mania de revirar os olhos tinha ido embora.

Antes que mal pudesse dar dois passos para me distanciar de Kwan, o garotinho chamado Lee Chan segurou meu braço me abordando com os olhos arregalados e molhados por lagrimas, embora ele não derramasse nenhuma. Assustei-me parando de supetão e mal tendo tempo de perguntar o que havia acontecido.

_Em que hospital ele está?

O garoto estranho que usava pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora