Minha respiração permanecia tensa desde a primeira vez em que pisara fora daquela escola, havia tentado não chorar, tentado muito. Mas ver aquele rosto frágil com um corpo ainda mais frágil apenas me fez ficar mal e derramar lagrimas de frustração por não ter ido atrás de WonWoo antes. Peguei-me observando o rosto dele após ligar para a ambulância e responder as perguntas de minha mãe sobre porque chegara com um garoto ensanguentado em casa. Expliquei para ela que aquele era um amigo chamado Jeon WonWoo e ela me ajudou a colocar o menor no sofá provisoriamente para não ter que subir as escadas atrás do mesmo para leva-lo para a ambulância depois.
Deslizei a mão até a de WonWoo e entrelacei nossos dedos o olhando, os dedinhos frios e finos se moldando perfeitamente aos meus quentes e mais grossos. Acariciei as costas da mão alheia sentindo aquele choquinho térmico pela diferença de temperatura. As mãos frias de WonWoo me trazendo conforto e uma segurança inexplicável, uma vontade grande de aperta-la para não ter mais que solta-la, queria tê-lo sempre perto de mim. Minha vida não parecia mais ter sentido sem ele.
A preocupação me corroía enquanto eu basicamente me torturava encarando aquela ferida que se iniciava no final de sua sobrancelha e terminava no centro de sua bochecha. As lagrimas embaçando a visão às vezes. Acabei entrando num estado de pânico e desespero interno imaginando o porquê daquilo acontecer com ele, encarando cada musculo de seu corpo apenas para confirmar que continuava respirando. Era difícil me manter respirando.
Estava paralisado pela cena que presenciara ao sair da casa do Jeon, paralisado desde que chegara lá na verdade. Como era possível que aquele homem fosse o pai de WonWoo? Não podia ser, e mesmo se fosse, agora não era mais. E se aquele era o pai, onde estava a mãe dele? Onde ela estava enquanto aquele monstro não ligava para o corpo no chão da cozinha? Aquela senhora simpática e sorridente, onde ela estava durante aquele dia em que WonWoo ficou ali naquele chão frio? Talvez nem tenha sido apenas aquele dia...
Senti meu corpo tremer com a possibilidade dele ter passado os dias ali desde que chegara do acampamento, com a possibilidade dele não acordar. A ideia me atingiu num baque tremendamente horrível, eu não podia perdê-lo... Mas como eu perderia algo que nunca foi meu? Eu podia ao menos me considerar amigo dele? Nem mesmo conversávamos tanto, acho que o máximo que posso dizer é colega.
Era doloroso ver o sangue manchando sua roupa em certos lugares específicos, doloroso vê-lo desacordado e não poder acorda-lo e cuidar dele. Eu apenas queria protegê-lo de tudo que o mundo tem de ruim para oferecer, porque ele não merecia nada daquilo. Não merecia aquela maldade. Queria passar cada hora e minuto do dia ao lado dele para poder observa-lo de perto para saber se estava bem. Queria poder não me afastar nunca.
Foi doloroso também quando não pude ir junto dele para o hospital, eu queria muito poder ir para ficar de olho para checar se nada de ruim aconteceria. Mas minha mãe me fez ficar e tomar um banho e "descansar", apenas concordei, pois sabia que se protestasse a probabilidade de não poder faltar à aula no dia seguinte para vê-lo seria maior. Mas descansar foi a ultima coisa que pude _ e consegui _ fazer.
Era impossível conseguir imaginar um ser humano capaz de feri-lo, capaz de fazer aquilo com ele. Justo com WonWoo, ele sendo alguém tão inocente e... Argh era ele! Não tinha como fazer algo ruim com o Jeon. Ele merecia apenas muita atenção e carinho e muitos cuidados. Não deveria ter deixado para ir "visita-lo" no terceiro dia em que vinha faltando, deveria ter ido assim que havia chegado, ou no mínimo no primeiro dia em que faltara. Agora ele estava daquela forma e em algum lugar eu me culpava incessantemente. Eu ficaria arrasado se ele não acordasse mais, já havia ficado arrasado o bastante assim que o vira daquela forma pela primeira vez.
O sentimento intenso de culpa e preocupação foram o bastante para me manter acordado a noite inteira, a situação de tensão não me permitindo nem fechar os olhos sem me lembrar da imagem do mesmo desacordado. Foi uma péssima experiência ficar apenas nos mesmos pensamentos de perguntas sem respostas. Se ele havia acordado, se havia melhorado, se estava bem, se, no mínimo, estava vivo.
Tinha que estar. Ele tinha que continuar vivo, agora que experimentei de sua amizade não podia viver sem ela. Era como arrancar parte de mim, uma parte de minha alma. Em pouco tempo WonWoo havia se tornado mais importante do que eu pensava em minha vida, eu não podia deixar que ele fosse embora logo após descobrir isso. Ele, em algum momento, entrara em minha vida e se tornara tão importante, que mesmo se eu quisesse expulsa-lo, eu não conseguiria. Se ele fosse embora deixaria um espaço em branco e dificilmente eu conseguiria preenche-lo novamente. Eu apenas precisava falar com ele, conversar e perguntar sobre tudo, falar que estava ali independentemente do que acontecesse. Do que havia acontecido.
A sensação ruim pairava no peito e era impossível de ignorar, era simplesmente sufocante e dificultava muito quando eu tentava não fazer barulho enquanto chorava. Assustei-me quando me olhei no espelho quando deu à hora de "acordar", meus olhos estavam inchados e vermelhos. Fiz o máximo para esconder após tomar um banho, mas não poderia fazer nada para os olhos simplesmente desincharem.
Pedi para minha mãe que me levasse no hospital em que WonWoo estava, assim que ela viu meu estado concordou sem protestar que eu estaria perdendo aula. Entrei no carro sem nem me importar em pegar meu celular e fiquei encarando a janela durante o caminho todo balançando a perna sem me importar em demonstrar a ansiedade e o desejo de chegar lá logo. Senti a mão de minha mãe em meu ombro e a olhei. Ela me ofereceu um sorriso terno que de alguma forma conseguiu me acalmar.
Eu vou cuidar dele assim que ele sair daquele hospital
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O garoto estranho que usava preto
FanficQuando um garoto normal, Kim MinGyu, coloca os olhos em Jeon WonWoo, o garoto silencioso e estranho de sua sala, sente uma tremenda curiosidade se apoderar de si e necessidade de o conhecer. No entanto, quanto mais coisas descobre a respeito do gar...