Eu era seu hyung

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(Narrado por WonWoo)

Fiz mais alguns riscos no canto da folha, a cabeça rodava e voltava a doer, mas eu não queria retornar para a cama. Estava cansado e ficar deitado o dia inteiro por não ter forças para levantar não era legal. Queria continuar desenhando ali na escrivaninha de MinGyu. Eu ainda não entendia o porquê de ficar tonto e ter tantas dores de cabeça assim, não me lembrava de nada que os médicos haviam falado de mim. Mesmo assim, eu estava tão bem agora, por que ainda tinha tantas dores? Com senhorita Eun cuidando de mim e me alimentando e Gyu me fazendo sorrir não tinha como não estar melhor. Tudo parecia perfeito, os problemas haviam evaporado por completo. Mas tonturas, dores de cabeça, pesadelos e lembranças ainda me perseguiam, e não tinham horário prévio para chegar. Mesmo quando dona Eun me pedia para ir para o jardim para tomar sol eu obedecia, isso não deveria acontecer, não é?

Soltei o lápis e me levantei, indo na direção da cama de MinGyu. Senti uma dor estranha e física no peito, não algo emocional como costumava acontecer, mas físico, sentia o coração pulsar, sentia, e doía. Sentei-me ali o mais rápido que pude quando também me senti tonto. Deitei-me e tratei de fechar os olhos quando o quarto começou a girar, amenizou um pouco a dor, mas ela permaneceu ali. Abri os olhos sentindo a tonteira dispersar após alguns minutos e encarei o teto conforme ela lentamente parecia parar. Sentei-me escorado contra a cabeceira da cama, era melhor ficar ali um pouco. Fechei os olhos outra vez e tentei descansar um pouco para não acabar impossibilitado de desenhar futuramente.

Fui assustado pela porta sendo aberta estrondosamente, olhei para EunByul e sorri fraco, mas meu sorriso falhou levemente ao ver SeokMin ali. Espantei-me com sua presença, ele engoliu seco parecendo hesitante. Eun o incitou a entrar e ele assim o fez, ela acenou para mim sorridente e saiu dali.

_Oi hyung – falou olhando para baixo ainda de pé perto da porta, sem coragem de chegar mais perto. Ele comprimiu os lábios ao levantar os olhos na minha direção. Parecia nervoso.

_Oi Seok, entra – Tentei soar agradável para que ele não se sentisse tão nervoso, ele coçou a nuca ainda hesitante – SeokMin? – indaguei quando ele não deu indícios de que entraria. Ele não se moveu para se aproximar permanecendo imóvel ali. Continuou me olhando hesitante e parecendo um pouco triste. Ele parecia não ter o que dizer, moveu corpo levando o peso deste de uma perna para a outra após algum tempo. Era bem visível todo seu nervosismo.

_Er... como você está? – Hesitou, no entanto, quando se aproximou e se sentou na ponta da cama, do outro lado da mesma. Como se estivesse com medo, de mim ou de algo ao meu respeito, eu não sabia. Era desconfortável aquilo, vê-lo assim acanhado. Parecia minha culpa de certa forma, como se ele tivesse medo de eu fugir, ou quisesse fugir. Eu queria conforta-lo, falar que não iria a lugar nenhum por um bom tempo. Que ficaria ali porque gostaria de ficar com MinGyu, mesmo que por pouco tempo.

Dizer que não tinha planos de ir embora, não daquela forma ao menos, eu não iria tão cedo. Não iria a lugar algum, não mudaria de cidade novamente, mesmo que DongYul estivesse por aí. Eu não tinha para onde ir, nem dinheiro e muito menos vontade de sair dali. O máximo de onde iria, seria até a morte, morrer ainda me era uma opção muito bem considerável. Uma vontade impertinente que me acompanhava independentemente de qualquer coisa. Mesmo que MinGyu estivesse a afastando aos poucos, ela sempre voltava não importava o que ele fazia. Mas eu não iria embora, eu continuaria ali, e queria muito dizer isso a ele.

_Estou bem – assegurei, mesmo que as palavras não fossem totalmente verdade enquanto o olhava com um pouco de tristeza e cautela. Ele deixou os lábios formarem uma linha fina, em sinal de nervosismo outra vez. Tentei lhe sorrir para lhe acalmar, mas apenas pareceu faze-lo se conter mais ainda.

_Você mora com MinGyu, então? – perguntou de forma evasiva, parecendo fugir de um assunto. Assenti incerto sem pensar e me arrependi logo em seguida, eu não morava ali. Min apenas me dera asilo por algum tempo. Mesmo que eu não tivesse mais casa _ aquela era de meu pai agora _ eu não morava ali. Iria embora um dia, apenas não sabia quando – Mas e sua mãe? Ela não quer que você fique com ela? – indagou fazendo-me aprofundar meu coração em tristeza novamente, deve ter ficado explicito em minha expressão, pois ele pareceu se alarmar. Meu peito doeu confirme respirava. Engoli em seco sabendo que aquela era a hora, finalmente havia chegado o momento em que eu teria que contar a algum deles ao menos uma parte da historia, por mais pequena que fosse. SeokMin havia escolhido uma das partes mais dolorosas.

Contaria a ele sobre minha mãe após tanto tempo guardando essas historias apenas para mim. Pois nem mesmo para MinGyu conseguira contar. E após tudo, após tê-los evitado, afastado e ignorado, eles ainda estavam ali. Prontos para me ouvir. Nada mais justo que lhes contar. Mesmo que tivesse que reproduzir tudo na mente eu contaria. Eu já reproduzia em pesadelos mesmo, não seria um esforço tão grande, não se era por eles. Não se era para consertar alguma coisa das milhares que eu havia estragado.

_A minha mãe... – Ele me olhou com expectativa e medo quando demorei para terminar a frase – Ela morreu – Sua expressão se tornou espanto, baixei a cabeça suspirando. Tentei afastar a imagem de seu corpo sem vida de minha mente, a ultima memória que tinha dela. A dela já morta. Falar isso em voz alta pela primeira vez fez lágrimas medrarem em meus olhos.

_A senhora Jeon... – Mantive a cabeça baixa enquanto ele começou a murmurar. Ele se calou e nos momentos seguintes apenas ouvi seus movimentos até sentir seus braços me envolverem – Eu sinto muito, hyung – falou dando certa entonação na ultima palavra. Deixei que algumas das lágrimas caíssem enquanto tocava em seus braços e o abraçava de volta.

_Acho que... DongHyo a matou... eu insistia em chama-lo de pai, mas... – Não terminei a frase a deixando incompleta de proposito. Mais lágrimas vieram a tona e Seok tentou limpa-las brevemente.

_Acha que ele seria capaz? – disse com medo, quase desespero na voz. Tentei evitar os soluços conforme as lágrimas molhavam meu rosto.

_Talvez – falei com voz embargada, seu abraço se tornou mais apertado e ele finalmente olhou diretamente para meu rosto, ele parecia apreensivo.

– Ele te disse algo? – indagou secando algumas das lágrimas, suspirei e assenti pensando se deveria lhe contar tudo, o que ele havia dito sobre pai verdadeiro, irmão e coisas mais. Na verdade, ele mesmo havia dito que havia a matado. Não diretamente, mas com todas as letras. Sim, ele havia admitido.

Eu deveria lhe contar? Ele teria que saber em algum momento que tenho um irmão. Mesmo que eu sequer suspeitasse quem fosse tal. Eu tinha que lhe dizer tudo de qualquer forma, não queria ocultar nada. Embora ainda não fosse o momento para falar de DongYul, talvez mais tarde, se o assunto ocorresse.

_Ele disse algo sobre um outro pai, meu pai de verdade e sobre um irmão. Mas eu não faço ideia de quem sejam – admiti, me sentindo o mais novo ali por um momento. Ele me abraçou apertado novamente, esperei ele dizer algo, mas ele permaneceu calado por um bom tempo com uma expressão confusa e apreensiva que se tencionava algumas vezes. Como se se recusasse a dizer algo.

_Não faz ideia? De quem seja nenhum dos dois? – interpelou me olhando nos olhos, o olhei confuso por seu tom de voz. Neguei fracamente pela dor de cabeça, ela parecia mais forte naquele momento – Bem, eu faço – O olhei espantado, como ele sabia? Como nunca me contou? Senti-me ansioso e temeroso e impotente perante suas próximas palavras, mas ainda assim continuei as esperando – Eu sou seu irmão WonWoo... você é meu hyung.

Deixei que suas palavras me atingissem como tijolos. Mal consegui digerir que tinha um real pai e um irmão, era de mais para mim que ele fosse SeokMin. Como isso era possível? Irmão de SeokMin? Não, não podia ser. Isso teria que significar que meu pai era o senhor Lee JiSung. Teria que significar que minha mãe traiu DongHyo com ele, com o pai de SeokMin. Eu não conseguia acreditar naquilo, era surreal de mais, tinha que ter havido algum engano.

_Você é... meu irmão?

O garoto estranho que usava pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora