O inverno finalmente havia chegado. Os cristais reluzentes de gelo caiam lentamente conforme eu caminhava novamente em direção ao hospital. Já fazia bastante tempo que WonWoo estava lá, mas eu nunca tivera a honra de vê-lo acordado em nenhuma das vezes em que fora visita-lo. Encarei a neve acumulada no chão, o contraste opaco de branco e cinza que se misturavam imutavelmente enquanto a neve continuava a cair.
A neve, salpicada com o cinza da calçada era hipnotizante e não me deixava afastar o olhar dali. Fazia tempos desde que não tínhamos uma terceira pessoa em casa e eu estava saltitante por aquilo, por poder levar WonWoo para casa assim que ele melhorasse. Adentrei o prédio de cor cinza e monótona e fui sorridente demais para um local como aquele na direção do quarto do menor.
Olhei para o Jeon ainda inconsciente na maca e segurei em sua mão _ mais gelada que nunca daquela vez _ sorrindo fraco para o choque térmico ao qual eu já estava tão habituado. Observei sua face, que mesmo com aparência macilenta me fazia querer continuar o observando por horas a fio. Suspirei o observando, olhar seu rosto era um bom passatempo. Mal percebia as horas passando conforme examinava sua face à procura de algum indício de que logo acordaria.
Havia ali outro paciente daquela vez, ele também estava desacordado e não parecia que iria acordar tão cedo. Parecia ter a mesma idade que eu e WonWoo, talvez um pouco mais velho. O observei melhor a procura de algum ferimento ou algo do tipo, mas a única coisa que se percebia eram ataduras em uma das pernas e um dos braços. Olhei para WonWoo novamente ignorando aquela pessoa ali.
WonWoo pareceu se mexer e acabei por ficar mais atento, o observando intensamente como se pudesse perder qualquer detalhe de movimento. Meu coração pareceu bater mais rápido quando vi seus olhos se abrirem levemente, ele piscou algumas vezes parecendo se acostumar à claridade do local. Ainda percorria suas reações atentamente até que deslizei minha atenção à nossas mãos entrelaçadas quando senti um leve aperto ali. ouvi o som de tecido sendo movido e o olhei novamente, ele agora mantinha a cabeça virada na minha direção, me olhando com curiosidade nos olhos escuros.
Fiquei sem ter o que dizer e continuei o observando enquanto ele ainda parecia organizar a mente e perceber onde estava. Permiti-me sorrir mínimo ao achar um pouco fofa a confusão de suas expressões enquanto olhava em volta e logo em seguida pousava seu olhar em mim. Antes que eu percebesse que tinha que falar algo e parar de sorrir feito um idiota o ouvi dizer:
_MinGyu? – Sua voz estava mais rouca que o habitual, o que me causou arrepios. Embora tenha tentado esconder. O olhei com total atenção, embora ainda parecesse pouco, então tratei de ignorar qualquer coisa no mundo que não fosse ele, imagem ou som. Ainda parecia pouco, muito pouco na verdade – O que faz aqui? Há quanto tempo está aqui?
_Hoje? Desde... – Olhei para o relógio de parede que havia ali, eram duas da tarde. Como era sábado tinha acordado mais cedo apenas para vir aqui – Nove da manha? Faz umas cinco horas mais ou menos – Dei de ombros, isso não importava. O que importava era que eu estava ali com WonWoo, e que ele havia acordado.
Ele pareceu minimamente chocado com a resposta, mas logo voltou a não expressar absoluta emoção nenhuma, porém com leve confusão nos olhos. Ele olhou para nossas mãos enastradas e contive a vontade de apertar a sua para lhe dizer que estava ali e que cuidaria dele fazendo o possível e o impossível ao meu alcance. Mas ele soltou minha mão, o olhei confuso sentindo meu sorriso desaparecer lentamente. Ele virou a cabeça para o outro lado evitando me olhar e acabou por ver o outro paciente que residia ali.
Foi perceptível a tensão que se formou nos músculos de seu corpo, por algum motivo totalmente desconhecido por mim algo em seus olhos mudou ao olhar para aquela pessoa. Olhos que nitidamente antes pareciam pedir ajuda, agora pareciam pedir por morte. Olhei para aquele ser também estreitando os olhos por não saber o que imaginar pela reação de WonWoo. Ele o encarou por um tempo, mas depois passou a voltar a me olhar, deixei uma chama de esperança tola em algo não identificável crescer.
_Veio aqui outras vezes? – Passei a me dar conta de minha fala. Sim, sempre que me era possível eu ia até ali para ver como ele estava. A esperança de vê-lo acordado me corroendo a cada uma delas e sempre me motivando a voltar no dia seguinte. Não importa o quão tolo eu era por esperar tão avidamente daquela forma ele acordar apenas porque queria que fosse ao momento em que eu estava ali. Mas eu continuava voltando. Mesmo quando chovia, mesmo com neve.
_Venho todos os dias – falei simples e vi sua micro expressão se tornar uma não identificável aos meus olhos. Continuei o olhando até que ele olhou novamente para o outro paciente que ali se encontrava. Franzi a testa para seu ato, sua expressão ao olhar para ele de alguma forma era diferente, não me passava muita confiança de que era apenas uma pessoa qualquer.
_Hm... – disse distante quando passou a olhar para a parede, e ali seu olhar permaneceu. Continuei o olhando achando que a qualquer momento ele perguntaria mais algo, mas ele apenas continuou a encarar o nada. Ele voltou a me olhar como se quisesse dizer algo, mas pareceu desistir e moveu o olhar para bem longe de meu rosto parecendo almejar ao máximo evitar contato visual comigo.
Por algum motivo aquele comportamento longínquo conseguiu fazer desaparecer toda a minha ansiedade de espera-lo acordar e toda a felicidade por ter visto aquele momento. Sentia um fortíssimo aperto no peito que parecia me sufocar de alguma forma e impedir que eu respirasse da forma correta, mas tentei não demonstrar nada. Forçando uma expressão neutra e impassível murmurei sem vontade que iria procurar o médico para avisar que ele tinha acordado.
Eu saí de lá com a cabeça baixa, mas com um objetivo em mente.
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O garoto estranho que usava preto
FanficQuando um garoto normal, Kim MinGyu, coloca os olhos em Jeon WonWoo, o garoto silencioso e estranho de sua sala, sente uma tremenda curiosidade se apoderar de si e necessidade de o conhecer. No entanto, quanto mais coisas descobre a respeito do gar...