Eu nao gostava quando suas lágrimas eram visíveis

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Terminei minhas atividades e levantei o olhar para o desenho agora pendurado na parede, havia adorado adquirir aquele costume de sempre olhar para ele. Por esse motivo pedira a minha mãe para emoldurar ele e coloca-lo na parede do meu quarto. Gostava dele, adorava-o na verdade, era lindo, e quase não tinha nada haver com o fato de ser eu ali, mas sim porque WonWoo hyung havia o feito. Ele desenhava tão bem, era quase inacreditável que ele havia desenhado justamente a mim. E ainda de forma tão simples e linda. Era eu ali, mas de certa forma era tão mais bonito que eu.

Desviei o olhar para o próprio WonWoo, vendo que ele novamente estava sentado no estofado que era acoplado a parede da janela encarando o céu. O garoto havia adorado aquela janela, dizia sempre que em seu quarto não havia vista assim. Por isso todos os dias no horário do pôr do sol, ele se encontrava ali, às vezes eu acordava no meio da noite e o via ali da mesma forma vidrado no céu. Mas à noite ele ficava ainda mais bonito, com a luz da lua dando destaque a sua pele pálida em meio a negritude do mundo em volta.

Mais uma vez meu olhar se perdeu na cicatriz de seu rosto. Incrível como mesmo sendo quase invisível e mesmo estando longe dele eu conseguia identifica-la perfeitamente. Mas diferentemente do usual, a imagem que me veio a mente não foi a sua ensanguentada num chão branco, mas a sua no hospital, com DongYul. A dos dois juntos enquanto o outro segurava seu rosto parecendo apertar aquela mesma parte de sua face de forma brusca. Respirei fundo para manter a calma, não perguntara do garoto a WonWoo com medo de ser indelicado. Tinha medo de ele não querer me responder, de acabar se distanciando como mecanismo de defesa para que eu não fizesse mais perguntas. Embora a duvida de quem era aquele garoto e o que ele havia lhe feito ainda rondasse minha mente dia após dia e me corroesse por dentro ao imaginar coisas horrendas. Coisas que pudessem lhe fazer chorar.

Eu fingia não ver, mas notava que ele chorava de madrugada por diversas vezes, a cena sempre cortava meu coração da mesma forma. E em algumas vezes as lágrimas se tornavam tão intensas que eu não me continha e me levantava e o abraçava tentando acalma-lo. Das poucas vezes que o fiz, ele se assustou de inicio, mas depois se acalmava e me abraçava de volta logo voltando a dormir. Suas lágrimas me preocupavam, ele podia estar chorando por culpa de DongYul, por culpa de seu pai, ou até por sentir falta de sua mãe. Eu não sabia o porquê das lágrimas, mas era doloroso da mesma forma vê-las. Era doloroso de mais vê-lo chorando e não conseguir fazer nada para impedi-lo de derramar lágrimas e colocar um sorriso no lugar delas.

Fui desperto daqueles pensamentos ao ouvir seu suspiro, ele levou a mão pálida e de dedos finos até o vidro da janela. Seus olhos continuaram encarando o céu com um olhar triste. Reparando outra vez em sua mão, novamente tive aquela adorável percepção de que WonWoo usava minhas roupas. A manga do suéter quase lhe cobria toda a mão de tão grande que lhe ficava. Imaginei se ele não ficava desconfortável já que ele costumava usar apenas preto, e eu confessava não ter muitas roupas da cor.

_Ei... – murmurei o chamando, embora achasse quase um pecado interromper uma cena tão linda quanto a de WonWoo concentrado em algo. Ele se virou para mim recuando a mão que antes se encontrava na janela e enrolando os dedos na manga do suéter, uma mania que havia reparado nele. Era tão frequente quanto segurar os pulsos enquanto parecia divagar e aperta-los ao retornar a realidade. Eu me preocupava com a ultima, mas não tinha coragem de comentar com ele.

_O que acha de irmos a sua casa para que pegue suas roupas? – Reparei na mudança de expressão de atenciosa para tenuemente temerosa – É que você só usa roupas pretas, sabe. E você poderia aproveitar para ver sua mãe, falar que está bem. Ela não foi te visitar no hospital, ou foi? – indaguei e mais uma vez sua expressão se modificou, mas não consegui identificar que sentimento ele demostrava.

_Ela... – Tomou folego parecendo querer contar algo mas pareceu desistir e falar parecendo querer soar verdadeiro – Não, ela não foi me visitar – falou mais baixo e desanimadamente quase como se fosse chorar, mas estivesse se segurando para não o fazer. Resolvi tentar disfarçar o assunto e corta-lo por ali, não queria faze-lo chorar.

_Ah... Se quiser eu posso ir sozinho, eu trago suas coisas sem problemas – falei cautelosamente para não tocar em outro assunto que pudesse o entristecer.

_Não, eu vou com você – disse de imediato, me fazendo arquear a sobrancelha desconfiado. Ele abraçou as próprias pernas e deu um sorriso forçado.

_Certeza? – perguntei incerto de sua decisão, até alguns segundos ele parecia frágil o bastante para chorar. Não queria correr o risco de o levar para até sua casa e ele desabar ao chegar lá.

Não conseguia suportar ver suas lágrimas e não poder fazer nada. Era quase como se suas lágrimas doessem mais em mim, tivessem um efeito mais negativo em mim, do que minhas próprias lágrimas. E doíam, qualquer coisa que eu poderia imaginar que o atingisse doía mais que qualquer golpe físico em mim. Qualquer coisa que pudesse imaginar acontecendo a mim nem se comparava a dor que era imaginar algo acontecendo a ele. Sequer imaginar algo acontecendo a ele me fazia querer protege-lo e sofrer em seu lugar apenas para preservar aquele sorriso tão perfeito que ele tinha naturalmente.

_Sim – Ele assentiu hesitante. Arrependi-me de ter proposto aquilo, mas àquela altura não havia mais como voltar atrás. Lhe sorri pequeno e ele retribuiu com um mais verdadeiro que o anterior, embora ainda meio falso.

Suspirei, eu teria que fazer de tudo para impedir que suas lágrimas caíssem lá então.

O garoto estranho que usava pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora