Eu nao podia fazer nada

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(Narrado por WonWoo)

Minha respiração novamente se encontrava irregular, MinGyu, do lado de fora do quarto, ainda discutia com o médico. Entendendo algumas palavras podia deduzir que era sobre ele poder passar mais tempo aqui comigo. Eu agradecia ao que ele estava fazendo, agradecia que ele parecia disposto a não me deixar sozinho com DongYul. Mas era em vão, eu passava a noite sozinho com ele de qualquer forma, quando o silêncio do hospital me sufocava de tão vazio. E não pregava os olhos por aquele mesmo motivo, enquanto ele dormia serenamente eu me mantinha acordado com medo de que ele acordasse e fizesse alguma coisa.

Anseio pela procura da força que move meus sentimentos

Pateticamente preenchi aquelas palavras para o meu coração estéril

E então o sabor enjoativo-doce das lagrimas deste pobre garoto

Servem apenas para arranha-lo nos locais em que o ferem mais

Horrível, horrível, uma visão horrível

O que tem em mim, nada disso deve ser mostrado

Olhei hesitantemente na direção de DongYul e senti-me dez vezes mais impotente e fraco ao vê-lo encarar MinGyu de uma forma que eu conhecia muito bem. O medo pareceu maior por um instante e senti novamente vontade de chorar. Não entendi o porquê, era MinGyu o alvo agora, não era? Eu não tinha mais que me preocupar com Dong se ele havia achado outra pessoa para brincar. Então por que aquilo me incomodava ainda mais do que quando era comigo? Por que eu estava com medo? Chegava a ser até mais medo que antes, eu tinha mais medo de DongYul tocar em MinGyu do que em mim.

E eu não podia fazer nada...

Ele acabou por ter que ir embora pouco depois, desculpando-se por me deixar ali sozinho. Tentei lhe sorrir para dizer que estava tudo bem, mas novamente saíra extremamente forçado, embora ele tenha sorrido depois. Eu gostaria de lhe fazer algo, agradecer por todo o esforço que aparentava estar tendo e impedir que DongYul tocasse nele de alguma forma. Mas já estava quase morto, de nada adiantaria.

Um suspiro apaixonado falso propositalmente – O amor é realmente lindo, não? - Olhei para Dong ficando estático, ele estava agora sentado na maca com as pernas delicadamente cruzadas. Ah, ele sabia enganar a qualquer um fingindo ser daquela forma, delicado, frágil. Havia me apaixonado por si bem antes de sequer saber seu nome, sem sequer saber nada sobre si. Sabia apenas de sua aparência e de como aparentava ser frágil, sempre sorrindo para todos e exibindo um cabelo sempre colorido.

Foi assim que cai na sua teia.

Grosseiramente reviver as emoções sentidas dentro dessas memorias suaves

Pateticamente comi as palavras que iluminavam meu coração sombrio

E então o gosto de ferro do sangue que este garoto derrama

Lhe trariam paz e acalmariam os lugares que o ferem mais

Cruel, cruel, uma visão cruel

Não sou obrigado a ter essa visão cruel

Se não tivesse sido idiota de ter coragem em me declarar ele não teria me usado, humilhado-me. Ter feito eu usar roupas pretas apenas porque queria e porque achava que tinha aquele direito sobre mim. Mas se eu não tivesse percebido que estava sendo usado, aquilo também não teria acontecido. Olhei para suas pernas antes de voltar a encarar seu rosto mais uma vez, havia dias que ele andava pelo quarto tranquilamente quando os médicos não estavam ali. Apenas para fingir que não conseguia as mexer direito ainda na frente dos médicos.

_Pelo visto você já me esqueceu... – Pulou da maca e andou lentamente até a minha enquanto falava - ...Tenho uma proposta para você – Parou e se impulsionou para subir na maca em que eu me encontrava, o fazendo sem muita dificuldade por ser alto. Ele se deitou ao meu lado e deixou o rosto próximo ao meu. Os pelos da nuca arrepiaram ao sentir seu hálito tocar meu rosto, estava ainda estático, sem conseguir mover um músculo.

_Que elegante cicatriz você tem aqui – Levou a mão até meu rosto acariciando minha bochecha de forma falsamente carinhosa. Àquela altura eu já tremia pela proximidade, pelo desespero e pelo toque. Ele desviou o olhar da cicatriz para meu rosto novamente – Não seria interessante se uma gêmea desta viesse a aparecer no rosto daquele MinGyu?

Chocado ao descobrir a verdadeira extensão

Da sua crueldade

Eu deixei sua mão encostar na minha

Um erro

Nós prometemos um ao outro

Esquecer sobre todas as coisas

Uma dolorosa, uma dolorosa decisão

Esse amor já me quebrou há muito tempo...

Senti minha respiração falhar, por algum motivo minha aflição pareceu desesperadamente mais assoladora ao ouvir o nome de MinGyu proferido por aqueles lábios. Senti o corpo começar a tremer.

_Oh, não fique assim, meu amor, isso não vai acontecer... – Usou a mão que estava em minha bochecha para segurar meu rosto, ele passou a apertar meu queixo. Gemi baixo em reprovação – Como senti saudade desse gemido... – Sussurrou e riu em seguida – Minha proposta é a seguinte – Passou a falar mais baixo – Você me deixa lhe beijar e eu não machuco seu queridinho MinGyu – Fez um bico infantil com os lábios finos e franziu o cenho numa pergunta silenciosa – E então? O que me diz?

Eu não conseguia assentir ou negar, não conseguia proferir sequer uma palavra, não tinha vontade de faze-lo e muito menos capacidade. Não queria que tudo começasse novamente, mas estaria sendo extremamente egoísta ao fazer isso com MinGyu. E provavelmente após machucar MinGyu ele retornaria e me machucaria também, era melhor que apenas eu sofresse com aquilo, MinGyu não merecia. Não podia fazer aquilo com ele, eu nunca me perdoaria.

_Bom, quem cala consente - Puxou meu rosto juntando seus lábios com os meus, senti bile queimar a garganta. Lagrimas apenas não encharcaram meu rosto provavelmente por já ter chorado o bastante por uma vida inteira. Ouvi a porta do quarto se abrir e olhei naquela direção tentando manter a respiração e a expressão um tanto quanto neutras, mas senti uma lágrima escorrer por meu rosto ao ver MinGyu entrar sem olhar para nenhum de nós dois e pegar sua blusa de frio antes de sair batendo a porta.

O garoto estranho que usava pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora