Precisamos Conversar

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   A noite chuvosa e fria fazia com que Lexa repetisse inúmeras vezes a conversa que tivera com Clarke. Embora tentasse, com todas as suas forças, esquecer a mentira deslavada que Clarke inventara, era completamente difícil, pois em alguns segundos partes da conversa pareciam flutuar em sua cabeça.

   Lexa fechou os olhos na tentativa de se desligar de tudo que a perturbava quando ouviu Emori roncando. Revirou os olhos, hoje estava sendo uma noite difícil, pensou. Após várias tentativas, Lexa desistiu, colocou sua capa de chuva e saiu da barraca.

   Precisava de ar e ficar em uma barraca onde o cheiro de Clarke estava por todo lado não era uma boa ideia. Arrumou um tronco de árvore e sentou-se. A chuva fina caía em sua capa e deslizava até se perder na terra molhada. Por um instante lembrou-se de Costia.

   A correria do cotidiano tornou a imagem de Costia cada vez mais distante. Não era exatamente o que Lexa queria, mas foi necessário.

   Lembrou-se de como Costia era extremamente implicante. Hoje a implicância de Costia fazia uma falta absurdamente grande.

   Certa vez, Lexa lera em uma rede social a seguinte frase:

   “A implicância é uma demonstração de amor.”

   Imediatamente sorriu, sempre soube do amor que Costia sentia. Rapidamente Lexa pegou uma lágrima no canto do olho que ousava cair. No mesmo instante observou alguém se aproximando e só então percebeu que era Echo.

   Lexa permaneceu sentada, observando Echo ir em sua direção.

   — O que faz aqui? — perguntou Echo.

   — Não estava me sentindo muito bem e resolvi sair pra respirar — respondeu, suspirando.

   Echo sentou-se ao lado de Lexa.

   — Mas tá melhor? — quis saber.

   — Sim, bom, acho que sim... — Lexa deu um sorriso sem graça — E você, quando decidirá parar de fumar?

   — Também gostaria de saber — respondeu, com um risinho.

   As duas permaneceram em silêncio por um tempo.

   — Vi que Emori entrou na sua barraca — perguntou.

   — Ah — Lexa deu um longo suspiro —, sim, ela não estava se sentindo bem.

   Echo abriu a boca para falar, mas permaneceu calada. Sabia que Lexa não estava em clima de conversa, havia convivido tempo suficiente com ela pra saber que as coisas não estavam indo bem. Ao invés disso, segurou uma das mãos de Lexa e deixou sua cabeça pousar sobre o ombro da mesma.

   — Sabe que pode contar comigo, não é? — sussurrou, fazendo carinho na mão de Lexa que apenas afirmou com a cabeça.

   Após alguns minutos, Lexa levantou e despediu-se, felizmente o sono havia chegado.

   No dia seguinte, Lexa acordou bem tarde. Olhou ao redor e Emori já havia levantado. Trocou de roupa, prendeu o cabelo em um coque e saiu para escovar os dentes.

   Os alunos estavam dispersos, uns brincando de algum jogo de cartas, outros tocando e cantando e tinha também alguns alunos jogando bola. Lexa pegou uma barrinha de cereal e foi caminhar.

   Quando avistou Clarke, Lexa quis desviar o caminho, mas algo fez com que fosse em direção a loira.

   — Precisamos conversar — disse.

   As duas caminharam disfarçadamente até sumirem da vista dos demais.

   — Eu preciso que você me diga o que eu te fiz pra mudar de barraca — disse Lexa, sussurrando.

   — Não fez nada. Eu já expliquei.

   Lexa afastou-se um pouco de Clarke, caminhou e prosseguiu.

   — Não fiz?

   — Não, já disse que troquei por causa de Emori.

   — Por favor pare de mentir pra mim, você é uma péssima mentirosa.

   Clarke virou-se para ir embora e Lexa a seguiu.

   — Clarke, espera...

   Clarke virou-se rapidamente.

    — Sim?

   Lexa se aproximou de Clarke e então sentiu uma picada no pescoço. Levou a mão imediatamente ao local e foi ajoelhando-se, a coceira aumentando rapidamente.

   — Lexa, o que foi? — o olhar preocupado de Clarke era nítido.

   Lexa possuía dificuldade para falar, sentia como se sua garganta estivesse fechando. Clarke sentou sobre as folhas secas e posicionou-se em frente a Lexa.

   — Deixe-me ver — disse colocando a mão sobre a de Lexa e afastando algumas mechas que pendiam cobrindo a visão de Clarke.

   Quando viu do que se tratava levantou-se rapidamente.

   — Preciso que me espere, irei chamar o Jaha.

   — Clarke... — Lexa esforçava-se para formular a frase — eu tenho ... alergia a picada de ... abelha.

   — Amor, eu irei trazê-lo imediatamente, me espere — disse Clarke, na tentativa de tranquilizá-la, segurou a mão de Lexa por segundos e correu em direção ao acampamento.

  O pescoço de Lexa agora possuía certa vermelhidão e inchaço. Sensações de desmaio fizeram com que se deitasse sobre as folhas. Sentiu seus lábios inchando.

   A última visão que tivera antes de desmaiar fora a imagem das folhas caindo e a última coisa que ecoava em sua cabeça era a voz suave de Clarke a chamando de amor.

 

   

  

  

  

  

  

  

  

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