Ligação

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   No dia em que finalmente voltariam para a civilização, Clarke acordara cedo, arrumou suas coisas na mala, fez sua higiene matinal e esperou Lexa e Emori levantarem para que pudesse desmontar sua barraca.

   Sua cabeça estava melhor, felizmente. Ficou sabendo que na noite anterior fizeram uma grande fogueira, distribuíram algumas lembrancinhas, cantaram e confraternizaram, já que aquela seria a última noite em que estariam reunidos.

   Agradeceu por ter ido dormir cedo, dessa forma não teria que ficar fingindo uma alegria que não estava sentindo e também não teria que ficar próxima a Lexa.

   Com certeza ela ficou com Echo, deve ter tocado e cantado algumas músicas e Echo deve ter se derretido toda. Que seja, Clarke apenas queria ficar quieta em seu canto.

   A manhã estava incrivelmente linda, sem nenhum sinal de chuva. Era possível ouvir até o canto dos pássaros que após alguns dias de chuva finalmente puderam sair de seus ninhos. Clarke saiu da barraca deleitando-se com sua maçã. O cheiro da terra molhada e o sol esquentando sua pele davam a ela a sensação de que teria um dia agradável. Era tudo o que precisava.

   Aos poucos os outros alunos acordaram. Alguns já até haviam guardado suas barracas. Após alguns minutos, Emori saiu da barraca com suas coisas, cumprimentou Clarke e entrou em sua barraca, em seguida Lexa  apareceu.

   Lexa parecia melhor, seu cabelo estava solto, usava uma blusa branca de alcinha, meio transparente e uma calça cintura alta. Clarke foi até ela para ajudá-la.

   As duas não trocaram nenhuma palavra, apenas guardaram a barraca e seguiram para o ônibus, sentando-se em lugares diferentes.

   O caminho de volta para a universidade pareceu mais rápido. Ao chegar, Clarke foi recebida pelo diretor que a chamou para conversar em particular.

   — Clarke, seus pais sofreram um acidente de carro...

   Ao ouvir isso, Clarke sentiu um aperto no coração e então começou a chorar.

   — Seu pai está bem, sua mãe foi a que mais se afetou, está internada há alguns dias, mas fora de perigo.

   — Qual hospital ela tá? — quis saber.

   — No St. Bonaventure Hospital.

   Clarke nem esperou o diretor completar a frase e já foi correndo ao seu quarto deixar suas coisas.

   No caminho para a entrada principal, limpou as lágrimas que escorriam pelo rosto, chamou um táxi e seguiu em direção ao hospital. Os alunos ainda saíam do ônibus, Lexa encontrava-se em frente ao ônibus, conversando com Echo, não deixou de perceber a correria de Clarke.

   Lexa já não prestava atenção em nada que Echo dizia, queria saber o que estava acontecendo. Viu quando o diretor chamou Clarke e tinha certeza que havia alguma coisa acontecendo.

   — Mas eu fiquei tão preocupada quando você foi picada, dá pra imaginar o quanto doeu — disse Echo.

  — Ah, sim. Entendi — Lexa parecia completamente absorta, acompanhando com os olhos o trajeto que o táxi estava fazendo.

   — Tá tudo bem ? — perguntou Echo, percebendo a distração de Lexa.

   — Sim, sim. Tá tudo bem, aliás, acho que já vou. Até qualquer hora — despediu-se rapidamente e seguiu andando para sua casa.

   Echo ficou sem entender, mas não deu muita atenção. A noite anterior havia sido completamente mágica, tinha ficado ao lado de Lexa o tempo todo. Não conseguia entender como esse tempo todo Lexa  não havia percebido, mesmo com tantas indiretas e diretas ela parecia não enxergar ou realmente não queria ver os sentimentos que Echo nutria por ela.

   Quando chegou em casa, Lexa pegou o celular com a intenção de mandar uma mensagem pra Clarke pra saber se tava tudo bem, mas logo em seguida ela mudou de ideia e deixou o celular de lado. Após de lutar muito contra si mesma, resolveu que iria sim mandar mensagem.

   “Oi, Clarke. Desculpa incomodar, só queria saber se você tá bem.”

   Enviou e esperou, esperou e esperou por uma resposta imediata. Talvez ela esteja me ignorando, pensou.

   Jogou-se sobre o sofá, toda essa situação a estava deixando frustrada. Por muito tempo havia se recusado a sentir alguma coisa. Por muito tempo descartou qualquer possibilidade de se envolver amorosamente com alguém, não estava no clima pra isso e muito menos pra ter apenas uma noite louca de sexo com qualquer desconhecida.

   Clarke era diferente, era o tipo de garota pra namorar. Lexa parecia se afogar na imensidão azul que é os olhos da loira, seria maravilhoso morrer dessa forma, pensou. Lexa pegou a almofada, colocou sobre o rosto e gritou histericamente. Clarke a enlouquecia.

   Pegou o celular, discou o número de Clarke e aguardou enquanto chamava.

   — Alô, Clarke? — perguntou.

   — Sim?

   — É a Lexa — a voz de Lexa parecia que ia falhar a qualquer momento, estava nervosa.

   Isso, burra, agora... o que irá dizer?

   — Eu só... queria saber se... você está bem — suspirou.

   — Sim, por quê?

   — Vi quando você saiu apressada, parecia que algo havia acontecido.

   — Podemos conversar em outra hora ? — perguntou Clarke.

   — Podemos — respondeu Lexa tristemente. Não queria desligar, não conversaram nem um minuto e Clarke já estava dispensando-a.

   — Até mais — despediu-se Clarke.

   — Até.

   Lexa jogou o celular sobre o sofá e foi tomar um banho. A água escorrendo sobre seu corpo fez com que automaticamente se lembrasse de quando tomou banho na chuva com Clarke, sorriu instantaneamente pensando no quanto aquele dia havia sido bom. Lembrou-se também de quando Clarke a beijou no riacho.

   Reviveu esse momento inúmeras vezes em seu pensamento. Pensar naquele dia, no beijo de Clarke e em como ela se entregou trazia uma faísca de felicidade ao seu coração. Perguntou-se várias vezes se algum dia Clarke daria a ela o privilégio de vivê-lo novamente.

  

  

 

  

I Need You CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora