Capítulo 38

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JOÃO MIGUEL

Mal Derek estacionou o carro e o pagode invadiu meus ouvidos, causando-me um leve descontamento. Não tenho nada contra, absolutamente. Mas prefiro sertanejo. Não que seja o melhor dos ritmos, mas ainda há algumas duplas que sabem cantar de verdade. O bar que ficava em uma área mais afastada do centro, parecia ser muito frequentado. A rua que era sem saída, estava cheia. Dentro do bar, estava lotado de pessoas assistindo alguma apresentação. Do lado de fora havia mesas e cadeiras distribuídas, mas a maioria do pessoal parecia preferir ficar em pé.

Ainda dentro do carro, dei uma olhada em volta tentando achar aquela pessoinha, mas meus olhos não o detectaram em lugar algum. Deveria estar no seu estado normal — cobra — e enrolada em algum canto por ali, escondido.

Abri o porta luvas e peguei um pacote de bala Halls preta. Mas antes de fechar, vi um brilho no meio de outros papéis e puxei, revelando assim um pacote de camisinhas. Levantei na altura dos olhos e mostrei ao meu namorado que sorria.

- Que foi? - puxou da minha mão - um cara precavido vale por dois - me deu um beijo no pescoço.

- Sei... - ajeitei meu cabelo no espelho.

Abri a porta e sai sentindo a corrente de ar fresco me arrepiar todo. O céu estava estrelado, bonito, limpo e claro. Dei a volta na frente do carro e ao lado do Derek fomos pro meio do pagode.

Mal entramos e o dito cujo apareceu na nossa frente.

- Derek! - abraçou ele e revirei os olhos - ah, pensei que não viria - riu - imaginei que o entojado do seu namorado não fosse querer se misturar a ralé.

- Entojado seu cú - dei um sorrisinho abraçando Derek pelo pescoço.

- Olha só! - me olhou fingindo admiração - como você mudou...

Você também — pensei mas não disse.

- E como mudei... - concordei olhando bem dentro dos seus olhinhos verdes - cadê seu macho? - perguntei olhando em volta.

- Só Derek mesmo pra te atolerar... - balançou a cabeça em negativa, mas com o sorriso insuportável no rosto - ele ainda não chegou.

- Eu sinto que um dia vocês dois serão amigos inseparáveis - sorriu Derek tranquilamente - eu sinto... - bateu o punho no peito - bem aqui!

- Ah, eu também - concordou Enzo - eu também sinto, Derek - debochou.

Dois falsos.

× × ×

Estava na quarta cerveja somente escutando o Enzo falar sobre a vida de casado dele com o Wagner, que até agora, depois de quase uma hora não tinha dado às caras.

Como era bom acordar todos os dias com o Wagner. Que Wagner sabia cozinhar muito bem. Que Wagner era compreensivo e o ajudava em tudo. Que Wagner era o amigo que ele nunca teve. Wagner... Wagner... Wagner...

- Tô achando que o Wagner é coisa da sua cabeça - me levantei, encostando no balcão - cadê ele? - comecei a rir.

- Como eu ia dizendo, Derek... - me ignorou e voltou a contar tudo pro Derek que sorria e concordava.

Continuei a tomar minha cerveja e olhar tudo em volta. Eram pessoas demais, parecia um formigueiro.

- João? - me virei pra voz que há tempos não ouvia e me assustei em como ele mudou - caralho! - sussurrou - tú tá muito foda - passou a mão no meu braço apertando o bíceps com força - Olha só pra isso... - me virei de frente e rindo.

- Gostou? - deu uma voltinha.

Felippe foi um amigo que tive na faixa dos oito aos onze anos. Eu adorava ele. Éramos inseparáveis. Mas tudo mudou quando meu pai resolveu se envolver com a sua irmã. Karine. A partir daí foi tudo por água abaixo. Já não nos entendiamos mais, por mais que ele não gostasse dela, achava errado eu xinga-la tanto. Fomos nos afastando pouco a pouco, até ele se mudar pra outra cidade e aparecer cada vez menos.

Fascínio [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora