Não poderia simplesmente ignorar uma pessoa que se encontrava à minha frente. Naquele momento desejei ter o poder de me tornar invisivel.
- "Desejas beber algo?" Perguntei.
- "Não, obrigada." Respondeu.
- "És amiga do Harry?" Perguntei numa tentativa de quebrar o gelo que preenchia a sala de estar.
- "Sim. Não preciso que te apresentes pois estás por todas as notícias." Respondeu.
- "Pois... Não que seja do meu agrado mas penso que é um sacríficio que terei que fazer por ele." Disse.
- "Deveria ter vindo mais cedo... Mas quando vi que tinham uma relação não poderia deixar de vir..." Afirmou.
- "Não sei se entendi..." Disse.
Ouvimos o som da porta & os nossos olhos alcançaram os do Harry.
- "Sai desta casa!" Gritou.
- "Harry..." Disse incomodada pela forma como lhe falou.
- "Temos que falar." Disse.
- "Não me parece que tenhamos algo para falar." Respondeu.
- "Acredita que temos & não vais querer que seja à sua frente." Afirmou.
- "Vou um pouco até ao quarto..." Avisei.
Caminhei pelas escadas, com a mente invadida por pensamentos & dúvidas. Sentei-me na cama & esperei. Esperei. Esperei.
Ouvi passos acelerados & surgiu um Harry desesperado.
- "Perdoa-me meu amor... Perdoa-me..." Disse entre lágrimas.
- "Harry, tem calma." Pedi & sentei-o na cama.
Assim que os meus braços o envolveram, chorou ainda mais descontroladamente. Afaguei o seu cabelo. Soluços tomavam conta do seu peito.
- "O que se passa meu bem?" Perguntei & sorri na esperança de que acalmasse.
- "Não consigo..." Disse entre soluços.
- "Não consegues o quê?" Perguntei.
- "Não consigo..." Disse & lágrimas voltaram a rolar no seu rosto.
- "Sabes perfeitamente que podes falar comigo sobre tudo..." Disse.
- "Perdoa-me..." Soluçou.
- "Queres que te perdoe pelo quê?" Perguntei.
- "Lembras-te daquela noite... Daquela noite em que te trai?" Perguntou.
Como poderia ter esquecido algo assim?
- "Sim... Foi ela, não foi?" Perguntei.
- "Foi... E... Está grávida." Disse & voltou a colocar as mãos no seu rosto.
Fiquei perplexa. Senti-me impotente. A confusão & a dor tomaram conta de mim.
- "Porque só apareceu três meses depois?" Perguntei.
- "Porque viu as notícias sobre a nossa relação. Sentiu que não deveria esconder algo assim. Pelo meu bem. Pelo teu bem." Respondeu.
Nunca poderia odiá-la por algo assim, especialmente tendo sido cuidadosa para que eu não terminasse magoada. Deveria estar a ser tão díficil para ela quanto para mim. Não poderia imaginar o que iria dentro do coração dele. Tudo isto poderia arruinar-lhe a vida. A carreira. A nossa relação. Seria ele quem iria perder imenso. Mas não poderia simplesmente apoiá-lo sem que entendesse o erro que tinha cometido. A irresponsabilidade que tinha cometido.
- "Como pudeste permitir que algo assim acontecesse? Perguntei.
- "Nem eu próprio consigo acreditar que o permiti. A dor, o álcool. Nada disso desculpa a minha atitude mas foram um bom contributo." Respondeu.
- "O que vais fazer?" Perguntei.
- "Relativamente à gravidez?" Perguntou.
- "Sim. Relativamente ao teu filho... Relativamente a ela..." Perguntei.
- "Parece-me óbvio que o irei assumir. Irei ajudar. Mas isso não irá mudar a minha relação com ela ou a minha relação contigo." Respondeu.
- "Não me parece que isso possa acontecer..." Disse.
- "Queres terminar a nossa relação somente porque outra mulher espera um filho meu?" Perguntou confuso.
- "Não... Não quero terminar a nossa relação por causa disso & sabes que em qualquer outra situação terias o meu apoio como tua namorada. Mas... Conheço-te demasiado bem para conhecer muitos dos teus pensamentos mais íntimos. Os teus desejos mais profundos. Sei perfeitamente da tua vontade de ter uma família. Sei perfeitamente do desejo que tens de que os teus filhos possam crescer junto ao seu pai. Sabes o que sentiste quando os teus pais se divorciaram. Sei o que senti quando o meu pai nos deixou para trás. Sei que jamais conseguirias ser totalmente feliz sabendo que o teu filho não iria estar constantemente junto a ti para que o possas proteger..." Disse.
- "A minha felicidade encontra-se junto a ti..." Afirmou.
- "Harry... A única pessoa que te conhece tão profundamente quanto eu, és tu próprio. Sabes perfeitamente que tudo o que referi é verdadeiro. Sabes perfeitamente que no fundo do teu coração queres tentar providenciar tudo isso à criança que cresce dentro de si..." Disse.
- "Perdoa-me..." Sussurrou.
- "Eu perdoo-te. Tal como me perdoo a mim por estar a virar as costas. Quero que sejas feliz, está bem?" Disse.
- "Não sei como farei isso sem ti... Este bebé merece que tente manter a sua família unida mas ao mesmo tempo... Viverei sem uma grande parte de mim... " Afirmou.
- "Pode ser que consigas preencher essa parte que ficará em falta..." Disse.
- "Não estarás por perto, pois não?" Perguntou.
- "Não... Seria demasiado para ambos..." Respondi.
Vi a lágrima que abandonava o seu olho & coloquei os meus braços à sua volta, envolvendo-nos num forte abraço.
- "Amar-te-ei para sempre, Meg." Disse.
- "Também te amarei para sempre, Harry. Não importa quantos braços me envolvam, serão sempre os teus que irei sentir. Não importa quantos lábios toquem nos meus, serão sempre os teus que irei desejar. Não importa quantos toques irei sentir em mim, nenhum me causará aquilo que o teu causa..." Afirmei entre lágrimas.
- "Nunca te irei esquecer. Nunca. Só te posso agradecer por me teres mostrado o que era o amor. Por me teres ensinado a amar. Por me teres feito sentir o que nunca ninguém me fez sentir. Mantém-te em segurança, por favor." Disse enquanto deixava manchas de lágrimas no meu vestido.
- "Vou só ligar para que um táxi me venha buscar. Podes ajudar-me com as malas, por favor?" Perguntei.
- "Claro." Respondeu.
Não foram muitas as palavras trocadas pois as lágrimas teimavam em rolar pelos nossos rostos. Faltava somente uma peça na qual pegou. Começou a chorar de forma mais descontrolada & não pude evitar senão fazer o mesmo. Permanecemos abraçados durante algum tempo. Algum tempo que nunca seria o suficiente.
- "Deveria ir..." Disse.
- "Não te consigo deixar ir..." Afirmou.
- "Por favor... Não tornes isto mais difícil..." Pedi.
- "Promete-me que nunca me vais esquecer. Promete-me que nunca te vais esquecer de tudo o que sentimos & tivémos." Disse.
- "Nunca. Prometo." Afirmei.
Caminhei pelas escadas & aproximei-me da Liz que permanecia na sala.
- "Desculpa..." Sussurrou.
- "Não tens que pedir desculpa. Só te peço que o tentes fazer feliz em todos os dias das vossas vidas. Tens a melhor pessoa que poderias ter a teu lado. Desejo que possam ter uma vida inteira juntos. Adeus." Disse & abraçei-a.
- "Vou ajudar-te com as malas." Disse & sorri.
Caminhámos pelo corredor & abri o portão. Ajudou a colocar as coisas no táxi.
- "Adeus, Harry." Disse.
- "Adeus, Meg." Envolveu-me nos seus braços.
Entrei & tentei absorver cada detalhe seu antes de fechar a porta. Acenei & o carro arrancou.
Recordo-me de rodar o corpo & de o observar pela janela. Cabisbaixo & com o coração partido. Foi esse o Harry que vi pela última vez antes de me aperceber de que aquele foi o dia em que o perdi. O dia em que perdi a pessoa que me completava. O dia em que perdi a minha felicidade. O dia em que perdi a minha esperança. A minha vida nunca mais seria a mesma. Outra pessoa iria viver os meus sonhos. Os nossos sonhos. De todos os cenários possíveis, nunca pensei que a nossa história pudesse terminar assim. Mas terminou.
"Adeus meu amor." Sussurrei.