📚- Agora você vira à direita e pode estacionar antes do segundo quebra molas. - digo.
- É naquele portão azul?
- Sim. Não precisa se incomodar mais, depois que eu chegar em casa, vou localizar meus amigos e assim que recuperar minhas coisas, procurarei um hospital.
- Ei, Luna, já está me dispensando? Tirei o dia inteiro para cuidar de você e é assim que me trata? - Pergunta, estacionando o carro. Com um delicioso sorriso de canto amostra.
- Tudo bem. Quer entrar e tomar um café, então? - Não sei se é uma boa ideia, mas peço mesmo assim.
Durante o trajeto de uma hora do CT à minha casa, só minhas instruções de copiloto cortaram o silêncio constrangedor.
Após estacionar completamente o veículo importado, ele se adiantou e abriu a porta do carona, aproveitando minha lentidão causada por todo o estresse sofrido hoje.
Peço as chaves reservas ao meu vizinho, que não repara no homem parado ao meu lado e entro em casa.
O quintal, como sempre, bem cuidado e limpo, a porta da frente está repleta de plantas, o interior organizado e bem decorado. Nunca senti tanto orgulho da minha humilde residência.
Trabalhar, estudar e participar de eventos como os de hoje exigem todo o tempo do mundo, separar algum para zelar pelo domicilio é quase impossível. Mas tudo deu certo.
- Uau...
- Perdão?
- Nada, é que aqui é tão calmo.
- Você quer dizer limpo e organizado, né?
- E você precisa discordar de tudo que eu falo?
- Bom, eu sei que te prometi um café, mas preciso de um banho antes de tomar qualquer decisão. A cozinha é por ali. - aponto em direção ao cômodo à esquerda da sala de visitas, separados por um balcão ala americana. - fique a vontade para se servir e lembre-se: o chocolate é meu. Todo ele.
- Relaxa, eu não sou um animal. Prometo não comer tudo. Vou cozinhar algo para nós. Fique a vontade.
E por mais estranho que parecesse, durante esses poucos minutos que estou em casa, essa é a primeira vez que me sinto, realmente, à vontade.
- Ok. Só preciso de uns 30 minutinhos. Já volto.
Vou ao quarto, no fim do corredor, separo uma calça pertencente à um moletom (que perdi a parte de cima faz tempo) e pego uma blusa de um time que é rival daquele que o Rafa joga.
Nunca fui fã de futebol. Sempre achei um desperdício de tempo e inteligência. Sem contar os altos salários que dariam para extinguir a fome na África, mas de uns tempos para cá, eu pude perceber a importância do esporte na vida das pessoas. Principalmente àquelas que não tiveram acesso à mais nada, além de uma bola, dois pares de chinelos e amigos, praticando na rua, em praças, na escola. Suas esperanças eram limitadas àquela espécie de diversão e aprendi a respeitar isso durante todo o projeto social que participei. Um sonho que pode se tornar realidade para uns e manter a chama acesa pela luta por um futuro melhor para outros.
Minha vontade é ir na sala e dizer que eu não o reconheci naquela hora porque estava com a visão turva. Mas pareceria patético demais, ele deu a entender que eu estava tonta e o Dr. Miguel também confirmou isso na enfermaria. Será que ele acha que vou continuar o tratando como um estranho anônimo?
Pelo amor, não sei o que fazer.
Eu sei quem ele é. Mas não sei como ele é. Isso deve servir, por ora. Não vou ficar tietando ninguém.

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TOSS
Любовные романы📚 Uma mulher altruísta, dedicada e independente se vê apaixonada por um homem com sonhos que não a incluem e tem que tomar uma decisão importante para que a vida de ambos não sejam sugadas pela imprevisibilidade do amanhã. ⚽️