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Rafael
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Pronto, me explique tudo. - ordena.
- Há oito anos atrás eu encontrei uma mulher próximo ao CT. - explico tudo, cada detalhe, pela paixão que vê em meu rosto ela compreende tudo, senta e começa a chorar com as mãos tampando o rosto.
- Como posso competir com um filho se durante todos esses anos não fui capaz de lhe dar um. - diz entre soluços.
Me aproximo e faço carinho em suas costas que não param de chacoalhar com a intensidade do choro.
- Não fique assim, meu amor, não fique assim. Você sabe que não se trata disso.
- Como não se trata disso? Se não soubesse do menino, será que estaríamos tendo essa conversa?
- Eu sempre fui leal ao que estava sentindo e você sabe disso. Essa pergunta é injusta. - defendo-me.
- Pela seriedade de suas palavras sinto que tem mais para dizer e não vou fazer papel de tola e ficar implorando o afeto de um homem que ama outra mulher. Não posso competir com isso. Com uma família que você, obviamente, idolatra.
- Diana, você fala como se eu fosse jogar os anos que passamos juntos fora por nada. Eu não vou substituí-la por outra mulher. Isso está fora de questão.
- Não acho que seja por causa dela, mas acredito que fará isso pelo seu filho. Eu que tipo de homem é e que tipo de pai será.
- Não farei isso por ninguém. Eu te amo. E por amar você quero que seja feliz. Eu sempre fui sincero quando dizia ser um homem pela metade. Eu não sabia onde a outra estava e por isso preferia deixá-la escondida. Estava me enganando e você sempre aceitou. Mas eu não quero mais fugir. Quero encarar essa minha outra versão. O Rafael inteiro. E preciso ficar sozinho. Você precisa se permitir também, meu anjo. É possível que aí no fundo saiba que somos incompletos tanto juntos quanto separados. Nos dê essa chance. A vida é tão curta.
- É definitivo? - pergunta engolindo o choro.
- Se não sou capaz de te fazer feliz agora, porque acha que o farei depois?
- Está sendo cruel. - limpa o rosto.
- Eu estaria sendo se traísse à mim mesmo e durante o processo a destruísse junto.
- É por eles? Está me trocando por eles? - pergunta mais para si do que para mim. - Eu posso tentar de novo, meu amor. Eu posso amar seu filho com ela. Não faça isso. Eu dou o tempo que quiser, mas não faça isso. - se levanta e me abraça.
- Eu tenho tanta admiração por você. Mas você percebeu que desde que pisei no Brasil tenho ficado mais diferente que de costume, era fácil fingir na Itália. Fingir que eu era normal. Que eu era bom para você. Mas agora? Eu nao consigo olhar em seu olho e dizer que serei o que merece até o meu último suspiro, porque eu te conheço e você merece o mundo, Diana. Eu jamais trairia você. Por isso estou terminando, porque quero manter o respeito, o carinho e a amizade acima de tudo. Quero que me ajude nesse processo de readaptação tal qual eu não deixarei te faltar nada. Você continuará sendo minha luz. E eu ainda farei tudo por você para poder até assimilar melhor o que tá acontecendo comigo. - dou uma pausa. - Se quiser voltar para a casa da sua mãe, eu entenderei. Se quiser ficar aqui, eu posso arrumar outro lugar. Você escolheu esse apartamento. Ele é seu.
- Não quero nada além de você.
- Eu lamento tanto não ter tido coragem para dizer tudo o que estava sentido antes. Essa angústia e aversão a mim mesmo. Seja sincera. Você sempre soube que uma hora eu explodiria.
- Isso faz parecer que está arrependido de nós ou que nunca foi sincero..
- Meu amor por você sempre foi sincero. Mesmo sem saber como uma pessoa que não se ama poderia amar alguém.
- Chega, não vou ficar ouvindo isso. Vou embora. Agora eu que preciso de um tempo.
- Já é muito tarde, fique. - tento alcança-la enquanto pega a bolsa.
- Eu vou chamar um Uber e espero não vê-lo tão cedo. Também preciso pensar em tudo isso. - quando me aproximo, ela recua. - Não chegue perto de mim.
- Diana.
- Eu te darei o divórcio. Mas a amizade acabou. Parece que esses cinco anos da minha vida não passaram de uma mentira suja sua. Um personagem. E agora que se livrou dele, quer jogar o restante no baú também. Isso eu não vou admitir. Respeite os meus sentimentos. - diz batendo a porta.
Fico sem ter o que fazer, então desço pelas escadas e a vejo entrando num veículo, anoto o número da placa mentalmente e ligo para minha sogra a cada 30 minutos para confirmar se Dai chegou bem. Ela demorou 6 ligações para voltar pra casa da mãe. Já estávamos ficando loucos de angústia. Dona Madalena disse que chegou bêbada, mas para eu ficar tranquilo que cuidaria de tudo.
Quando perdi minha mãe há oito anos atrás, dona Madalena Mancuello virou minha guardiã. Aquela que me protege. Arrisco dizer que da mesma forma que protege Juan e Diana, talvez por isso e só por isso eu não tenha ouvido umas poucas e boas.
Continua...
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TOSS
Romance📚 Uma mulher altruísta, dedicada e independente se vê apaixonada por um homem com sonhos que não a incluem e tem que tomar uma decisão importante para que a vida de ambos não sejam sugadas pela imprevisibilidade do amanhã. ⚽️