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A tarefa foi quase inútil, é muito complicado acessar qualquer informação pessoal de jogadores de futebol, principalmente os mais famosos.
Não sei como uma coisa como, por exemplo, o endereço de alguém extremamente conhecido é mantido em sigilo, impecavelmente.
Mando e-mails, mensagem pra assessoria, mas esse tipo de contato deve ser, muito provavelmente, descartado.
Sinto um aperto no estômago e vou ao CT. Talvez o senhor José me reconheça.
Quando chego são outros os responsáveis pela segurança e manutenção do local.
Peço para falar com Doutor Miguel, mas a má vontade dos funcionários é quase palpável.
Ninguém nem tenta um contato com o médico.
Não os culpo, estou parecendo uma “Maria Chuteira” lunática.
Tento uma ultima vez.
Vou à ONG e pergunto à Ana sobre um jogador de futebol chamado Juan.
- Não sei quem é esse.
- Ana, todos o conhecem. Ele é um jogador de futebol famoso e MORA NA REGIÃO – praticamente grito, gesticulando ao redor da comunidade.
- Talvez ele seja meu vizinho por um acaso. – diz, fingindo organizar a mesa. - Mas só talvez.
- Como assim talvez? Ele é ou não é, porra?
- É! - confirma desabando na cadeira.
- Por que mentiu? – a encaro de sobrancelhas franzidas, estou perplexa.
- Porque não o suporto. É um idiota, o odeio tanto. Ele poderia morrer e não faria falta para a humanidade.
- Tá, entendi. Tem uma espécie de ranço do homem. Show. Me dê o endereço. – peço.
- Af, Luna, está com a mente onde? Eu não acabei de dizer que o embuste é o meu vizinho? Vai me dizer que não lembra o caminho até minha casa? - ela funga.
Reviro os olhos.
- Você está muito na defensiva. – estreito os olhos olhando em sua direção. – Aquela casa é linda, mas acho que é muito simples para ser de um jogador de futebol milionário e famoso, não concorda? - analiso.
- Não. Quero. Saber. - ruge. - Saia da minha sala. - exclama. - Você acabou com meu dia falando daquele calhorda.
Arqueio a sobrancelha tentando entende-la, não obtenho sucesso então me retiro.
Caminho por um bom tempo na companhia de meus pensamentos, apenas.
A segunda e ultima casa que fica na pequena viela onde Ana mora é grande, confortável, mas não há luxu. Não se trata de preconceito, contudo ela é simples demais para um astro do futebol tê-la como residência fixa.
O fato de dizer “não se trata de preconceito” antes de falar algo preconceituoso não muda o fato de que, ainda sim, o comentário fora acometido por um ato de pré-conceito.
Enfim, tô pensando demais.
Ainda estou na metade do caminho.
“Oi, Juan, prazer, meu nome é Luna, eu tive uma noite romântica com o Rafa há alguns anos atrás que resultou em uma gravidez, pode me dar o endereço dele para eu compartilhar essa informação?”
“Oi, Juan, meu nome é Luna, sou mãe do filho do Rafa. Ele não sabe, mas irei contar assim que você me passar seu endereço.”
“Oi, mãe do Juan, ele está em casa? Preciso falar com ele a respeito de um assunto de extrema importância.”
“Oi, Juan. Eu preciso do endereço do Rafael da Motta para tratar de um assunto urgente.”
Bufo e entro na viela. Chamo-a assim, mas é uma rua extensa, com duas casas apenas e, sem saída, mas o espaço é bem aconchegante.
Fica na parte asfaltada da comunidade, tem um acesso, razoavelmente, fácil e é próxima à ONG.
Participo do projeto social há anos e sempre ignorei a existência do famoso nas proximidades, mesmo as crianças falando o tempo inteiro no jogador.
Mesmo já vindo na casa da Ana milhares de vezes.
Se o reconheço é só porque pesquisei quando Rafa falou sobre ele no aniversário do Noah.
Não que eu me importe, foi mais por curiosidade.
Assim que chego perto do portão de Ana eu vejo uma movimentação na entrada da casa de Juan. Ambas as residências tem uma longa extensão, por causa dos quintais e árvores que predominam a área. Uma casa é de frente para outra, o que me dá um acesso privilegiado.
Não sei o porquê, mas fico atrás de uma árvore, com o carro de Ana me dando cobertura.
Vejo Juan e uma senhora (que pela semelhança deve ser sua mãe), saírem de casa com Rafael logo atrás. Percebo que há uma loura o acompanhando, a mulher consegue ser linda como um anjo. Quando sorri para o Rafa, parece que um buraco se abre em meu peito. Não me lembro de ter visto um sorriso tão sincero e radiante assim há anos.
Suspiro e continuo os encarando, criando coragem para sair da moita,
Como a boa e velha patética que sou.
P-A-T-É-T-I-C-O.
Engulo em seco e quando dou um passo, algo acontece.
Volto para onde estava e fico admirando a cena.
Não tenho coragem para me mexer, não mais.
A mãe de Juan dá uma escancarada no portão e uma criança linda e loira sai correndo em direção à Rafael.
Como ele está de costa para mim, consigo ver toda a acao: Ele se abaixa, pega o menino no colo e lhe dá um forte abraço.
A loura, por sua vez, fica admirando a cena.
Enquanto a criança enforca o pai, a mulher faz carinho em sua bochecha, àquela que não está colada ao ombro de Rafa e isso deixa o menino mais radiante ainda.
Ambos demonstram tanto carinho recíproco que fico comovida
O bebezinho não deve ter mais de 3 aninhos.
Que cena linda.
Fico feliz por eles.
Mas triste pelo meu filho, pois não consegui que ele tivesse isso.
Recuo, pois não serei responsável por estragar esse momento.
Pelo menos não agora.
Viro de costas e fico encarando a entrada da casa de Ana, perco a noção de tempo, pois quando retomo a coragem para sair dali a viela já está vazia.
O carro que antes estava estacionado em frente à casa de Juan já não está mais.
Vou para casa.
Quando chego, Noah já está de banho tomado, jantado e dormindo.
Tomo um banho gelado e caio como uma pedra na cama.
Aperto a blusa que Rafael havia deixado aqui anos atrás junto ao peito e me permito chorar.
Pela primeira vez.
Lágrimas reprimidas há quase 8 anos.
Lágrimas de cansaço, orgulho e vergonha.
Com a cabeça doendo e olhos pesados, caio num sono profundo.
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TOSS
عاطفية📚 Uma mulher altruísta, dedicada e independente se vê apaixonada por um homem com sonhos que não a incluem e tem que tomar uma decisão importante para que a vida de ambos não sejam sugadas pela imprevisibilidade do amanhã. ⚽️