Pai

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📚

Rafael

Quando volto para o Centro de Treinamento dou de cara com Juan, que já estava me esperando.

- E aí, cara, resolveu o que estava te incomodando? – pergunta.

- Nada estava me incomodando. E, não! – respondo.

- Bom, sendo assim, acho que essa é minha deixa para mudarmos de assunto.

- Com certeza. - pegamos uma bola e começamos a dar embaixadinhas, não sei porque, mas me acalma e ele sabe disso.

- Diana vai chegar que horas? - quer saber.

- Ela não vem. Você sabe muito bem que ela odeia os torcedores com todas as forças.

- Não seja tão cruel com minha irmã. – retruca. – Ela tem alergia à qualquer contato humano em geral. – completa.

- Quem está sendo maldoso agora?

- Enfim, quem a conhece sabe que é um amor de pessoa, mas não se dá bem com o público, fazer o quê? - justifica.


- Tá, Juan. Que horas poderemos ir ao gramado? Estava louco de saudades desse lugar. E eu gostei muito das crianças da última vez que visitei a ONG. Tô ansioso pra caralho e não quero ficar aqui parado. – digo guardando a bola, dando alguns pulinhos para me aquecer e tirar a cena medonha de Luna beijando o outro homem da cabeça.

- Cara, você não tá legal mesmo, né?

- Para de falar merda, vamos nessa. - o apresso.

- Ei, espera sua assessoria.

- Eu não estou nem aí para a assessoria.

- Então tá, partiu. Adoro um tumulto mesmo. – diz esfregando as mãos uma na outra. – Ah, aquele menino que eu comentei com você está aqui hoje.

- Quem? O tal Noah?

- É.

- Tu cismou com essa criança.

- É claro, irmão, o moleque é a tua cara. Cagado e cuspido. Geral da favela o chama de Rafinha. Sem contar que é incrível pra cacete, o pessoal fala que ele é um amor de criança, ajuda os voluntários na ONG e os carai.

Ouço um burburinho e alguns jogadores do time chegam para me cumprimentar.

Quando os rapazes terminam e se posicionam para tirar a foto oficial, eu volto a atenção pro Juan, novamente:

- Sério? Ele trabalha lá?

- Não, não, ele nem tem idade pra isso, cara. - nega fazendo cara feia.

Juan tem o trejeitos da irmã gêmea, as vezes é desconfortabilissímo para mim, pois transo com ela.

Assim que batemos a foto, cada um vai pro seu canto, pois quando as crianças entrarem no gramado a área precisa estar livre para uma nova sessão de fotos.

Não demora muito e os meninos entram em campo.

Da para perceber que a fila foi feita  minuciosamente e com rigidez, do menor para o maior, como de costume.

Quando a primeira criança da fila me encara, sinto o coração parar de bater por um segundo.

Fico tenso. Boquiaberto.

Em minha mente eu tento entender como aquilo aconteceu.

Desde quando eu sorrio como um idiota embasbacado?

Provavelmente há oito anos.

Eu me ajoelho assim que ele chega perto.

Aquele sorriso.

O jeito que me olha é quase como...

Como eu olhava para o meu...

- Oi, pai! – diz Noah.

É ele, tenho certeza.

Ah Noah.

Pisco, pisco, pisco de novo.

Não sei como reagir então desato a rir.

Noah.

Meu filho,

Noah!

⚽️

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