Confissão

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Rafael

Enquanto eu arrombava a merda do portão da mansão, um novo disparo chamou minha atenção. Aumentei a pressão e consegui derrubar o portão de madeira com mais algumas porradas.

Pode parecer estúpido, mas duas das pessoas que mais amo nesse mundo estão trancadas aqui. Sei que deveria estar pensando no meu filho e na minha mulher, mas meus amigos precisam de mim e eu farei o que for possível para ajudá-los.

Ouço o grito de Dai e percebo que o portão não a acertou por centímetros. Ela estava logo atrás e eu nem perguntei.

Ainda bem que o portão não se estilhaçou de primeira. Ou teríamos dois cadáveres no chão.

Um eu reconheço de imediato.

Henrique está deitado de bruços com uma mão no ombro, provavelmente tentando estancar o sangramento do primeiro tiro. Só não esperava um segundo.

Ana ainda está tremendo no colo de Juan que se divide entre consolar a irmã, que a julgar pela falta de roupas, quase foi molestada e/ou consolar a amada que atirou num homem de costa.

Que problemão isso vai nos causar.

Tento procurar um segundo buraco no corpo jogado ao chão, mas não o encontro.

- Diana, você está bem? - pergunto, tirando minha blusa e estendendo a ela.

- Sim, fique de olho nesse infeliz. Só desmaiou depois do murro que Juan deu nele. Ainda não está morto. - sussurra vestindo minha camisa.

- E o segundo disparo?

- Ana se assustou quando Henrique tentou mirar novamente em Juan, mesmo depois de baleado, e então repetiu o disparo. - comenta. - Só que a mira dela não é exatamente certeira, então a bala só ricocheteou no braço do Juan e sumiu no muro. - Ela toma fôlego e prossegue. - Quando Henrique percebeu a falta de experiência dela avançou contra Juan, mas já era tarde demais. Meu irmão já tinha tirado a arma dele.

- Graças a Deus. - Nunca fui de agradecer, mas nessa hora eu o faço. - Vou prender esse desgraçado antes que ele ache uma arma escondida e nos surpreenda.

- Ok. Obrigada pela blusa. - eu assinto e me aproximo do homem caído.

Pelo caminho, cumprimento Juan e peço para ele levar as meninas ao carro. Podem esperar pela polícia de forma mais confortável lá.

Ele confirma com a cabeça e se levanta.

Quando termino de prender as mãos de Henrique atrás da pilastra da varanda da mansão, ele desperta.

- É um sonho? - diz com a voz sonolenta. - Substituí aqueles malditos pelo meu pior inimigo para que eu possa me vingar adequadamente?

- Não sei se você percebeu, mas não está em posição de se vingar de ninguém.

- Você tem razão. Agora eu estou preso, contudo, em breve não estarei mais. - Ele dá um sorriso.

- Fico me perguntando. Será que foi o tiro ou a porrada do Juan que o apagou? - coloco a mão na mandíbula para simular um pensamento arrebatador. - Com certeza o tiro, Juan tem um soco potente, mas não tão bom assim. - sorrio de volta e aperto seu ombro. Ele geme de dor. - Isso é pelo empurrão que você deu na minha mulher e eu não pude devolver a gentileza.

- Aquela puta ingrata! - grita, mas logo sua raiva se transforma em dor, pois soco a ferida.

- Isso foi pelo meu filho. - A Polícia chega e eu me afasto um pouco. Quando eles o desamarram, levantam e o algemam, eu mexo os lábios: "nunca mais chegue perto da minha família". Ele entende, pois pisca e sorri. Desgraçado. Não perde por esperar.

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