Sem "mas"

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Luna

Rafael se remexe no banco do carona o tempo inteiro. Ainda não havia tido contato com o lado psicótico dele. Tento amenizar a preocupação de todas as formas possíveis, mas tudo é em vão.

- Meu amor, não foi nossa culpa. Tudo vai dar certo, você vai ver. - engulo a seco. - Ana já chamou a polícia e as viaturas já estão a caminho. - completo.

- Mãe, tio Juan vai salvá-la. Eu tô sentindo isso. - comenta Noah do banco de traz, me fazendo apertar o volante com força.

- E você, mocinho, foque no joguinho e deixe os adultos resolverem seus problemas. - repreendo.

- Não seja tão dura com ele. Sempre o deixou se manifestar em todas as ocasiões e ele também não falou nenhum absurdo. Juan vai tirar Diana daquele... - Rafa dá uma pausa enfática para não praguejar na frente do nosso filhote... - homem. Ou morrerá tentando. - termina com amargura.

- Rafael!

- O quê? - me olha, massageando a têmpora.

- Papai está certo. - Dessa vez ele nem tira os olhos do joguinho para se intrometer. - Tio Juan não vai desistir tão cedo. Aposto 10 reais que ele se jogaria na frente de uma bala pela tia Dai. - ainda não me acostumei com a aproximação de Noah com a família de Rafa enquanto estava no hospital.

- Daonde você tira essas coisas, filho? - pergunto.

- Dos filmes e das atitudes inconsequentes do tio Juan.

- Noah.

- Ele está certo. - defende Rafa.

- Ok. Já chegamos. Você fica com o Noah e eu vejo se está tudo bem com nossa família. - ordeno.

- Nem sabia que você sabia dirigir. - implica Rafa, tentando tirar o foco da minha vontade de seguir trajeto em vez de ficar com nosso filho. Para falar a verdade, acho que ele estaria mais seguro com o pai e, de qualquer forma, Henrique me deve uma explicação. Eu preciso que ele olhe em meus olhos e diga porquê está fazendo isso tudo. Eu tenho a ciência de que comecei essa história e preciso termina-la.

- Não vou nem responder.

- Precisa de prática, mas ok! Não morremos num trágico acidente de carro. - Rafael está insinuando isso também, porque quando eu percebi sua inquietação, o obrigue a trocar de lugar comigo. Eu dirijo com muito mais atenção e cobririamos muito mais espaço na minha velocidade do que na dele.

- Jura que você escolheu esse momento para revelar sua insatisfação com meu jeito de dirigir? - saio do carro e cruzo os braços, os olhando pela janela e tentando aumentar a distância para poder continuar meu plano sem impedimentos.

- Eu só não quero ficar aqui, e se for perigoso? - pergunta Noah, enfim, largando o joguinho.

- Seu pai está aqui. Esses quase 1,90m dele deve servir para alguma coisa. Juan e Ana estão lá dentro, então não deve ser perigoso para mim se eu for verificar. Afinal, somos 3 contra um.

- Luna, olha o carro do Juan. - viro um pouco para a esquerda e vejo o carro do meu cunhado ainda aberto. Ana nos ligou não tem 20 minutos, como estávamos ajudando na busca, ficamos incumbidos de cobrir esta área e Rafael não quis se separar de Noah um segundo até que Henrique seja preso.

Não sei o que é pior. Trazer meu filho para essa bagunça ou deixa-lo com meus padrinhos, idosos. Enfim. Rafa sabe o quão inteligente o pediatra é e, consequentemente, não quis arriscar. Eu entendo. Mas ainda estou muito preocupada com essa situação.

Minha intenção seria aproximar-me da casa após ouvir o barulho das sirenes, respeitar as precauções e confrontar Henrique em segurança.

- Será que aconteceu alguma coisa? - pergunta meu filho.

- Acho que não. - Rafa sai do nosso veiculo. - Não tem sangue no carro. - se aproxima do de Juan. - Pelo menos eu não estou vendo.

- Ei, rapazinho, você fica. - aponto em direção ao banco de trás.

- Mas, mãe.

- Sem "mas".

E nesse mesmo instante ouvimos o som de um disparo. Avisamos a polícia que estávamos vindo para cá e eles nos aconselharam a ficarmos longe da residência em que Ana disse que estavam. Porém tudo ocorre muito rapidamente. Não seguimos as instruções dos profissionais. Rafael me entrega a pistola e corre em direção à mansão. Eu entro no banco de trás e tranco o carro com a arma no cós traseiro e meu filho nos braços. Conto 30 segundos e ouço um segundo disparo. Queria olhar dentro dos olhos de Henriques, mas minha vontade de proteger Noah é maior e meus planos se frustram.

- Vai ficar tudo bem! - repito pela décima vez só hoje.

Essa frase se tornou meu mantra.

- Mãe.

- Oi, filho?

- Não consigo respirar. Me solta um pouco.

- Não!


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