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Chegando à ONG, Noah praticamente pula do carro e, na intensão de recuperar o tempo perdido, puxa Henrique consigo, tamanho é o entusiasmo que o pediatra quase não consegue pegar bicicleta antes que a criança o arraste.
- Vamos tio, já estou muitíssimo atrasado. – meu filho o apressa.
- Tudo bem, garotão. Jamais subestimaria seu ultimato.
Paro próximo à entrada da cede de nosso projeto social e fico os observando se afastar.
- Quem é o bonitão? – pergunta Ana Clara, uma das voluntárias mais dedicadas que tive o prazer de conhecer.
Henrique não está usando o branco habitual do jaleco, porém está vestido de maneira impecável.
Sem sua maleta, até pode passar por um cara comum: blusa social branca com as mangas suspensas até os cotovelos, calça jeans comum, justa o suficiente para destacar os músculos e um sapatênis simples.
Torquato não deve ter 35 anos.
- É o pediatra do Noah. – respondo, simplesmente.
- Pensei que seu filho não ficasse doente. – diz, dando uma leve piscadela.
- Ninguém é de ferro.
- AH, o Noah é. Tenho certeza disso.
Ana encosta-se a mim e acompanha minha visão.Agora os meninos estão ao redor de Henrique, enquanto ele, muito provavelmente, conta uma história.
Todos sentados na grama, a bicicleta, no meio.
Pude perceber que o brinquedo não é o único no recinto.
Há bonecos, carrinhos, bolas, outras bicicletas, todos fazendo uma espécie de troca. Doação múltipla.
Fico feliz em ver essa espécie de interação.
Nunca senti tanto orgulho do meu filho, como estou sentindo hoje.
- Ele o atendeu há algum tempo atrás e me deu seu cartão. Hoje o Noah não estava se sentindo muito bem, então resolvi entrar em contato. Como ele estava de folga, se prontificou à ir verifica-lo. Eu não o impedi.
- E a Malu?
- Ainda não sabe. Tudo é em cima dela. Ela está viajando, não quero atrapalhar... de novo, entende?
- É, pode ser. Mas fique de olho sempre aberto com estranhos. Mesmo que ele seja um gato.
- Pode deixar! - digo sorrindo.
- Lu, eu vi que ele vai voltar!
Uso meu ombro para dar um leve esbarrão nela e resmungo algo como: “eu sei”.- Bom, vamos pegar os lanches porque eles estão nos olhando como se fossemos a próxima refeição. Não quero preceder nenhuma espécie de canibalismo, Mãezona.
- Tudo bem. Você não comprou nada, além do que eu combinei, não é?
- Se não o fizesse, não seria eu.
- O que mais você comprou, Ana?
- Doces, oras.
- Mais?
- Muito mais. Recebemos muitas crianças, o técnico está sempre cadastrando uma nova. Conseguimos inscrevê-los para uma competição local. Só o futebol, é claro. Sub-9, sub-11 e sub-13. Por isso reforcei nos doces e salgadinhos.
- Disse que só tinha aumentado os doces.
- Pois é, menti!
- TUDO BEM, estou feliz que tenhamos dado esse passo. O projeto está crescendo. – digo. – Isso merece muito champanhe para comemorarmos. Mas, como somos pobres e teremos que economizar para o esporte, alguns latões estão de bom tamanho.

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TOSS
Romance📚 Uma mulher altruísta, dedicada e independente se vê apaixonada por um homem com sonhos que não a incluem e tem que tomar uma decisão importante para que a vida de ambos não sejam sugadas pela imprevisibilidade do amanhã. ⚽️