TOSS

O mais belo sorriso

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Durante o restante da semana tudo ocorreu bem. Henrique me ligava com frequência para saber como estávamos e o ato me confortava.

Sempre fui uma pessoa solitária, principalmente após a morte de meus pais.

Meu padrinho e seu companheiro foram maravilhosos durante o tempo em que fiquei com eles, mas não supriram toda a carência que eu sentia. Talvez, por isso, eu seja essa pessoa tão fechada e ao mesmo tempo, intensa.

Deveria estar dando ordens há alguém ou resolvendo algum assunto burocrático, mas estou aqui, sentada em minha cadeira, pensando na vida.

Malu prorrogou sua viagem, disse que gostou do lugar e, portanto estenderia suas férias e isso é ótimo. Vê-la relaxar é uma coisa que me deixa mais tranquila.

Neste fim de semana os meninos da ONG vão participar de um evento. Ainda não comentaram comigo, porém suspeito que Rafael e sua grandiosa estreia estejam envolvidos nisso.

Ligo para Ana e ela me confirma que nossa ONG foi a selecionada pelo jogador de futebol.

Tento tirar da cabeça que ele tenha feito isso por mim e foco na hipótese de tudo ter sido apenas uma infeliz coincidência.

Como o evento vai ocorrer amanhã, tenho 24 horas para entrar em contato com o Rafa e explicar tudo.

Não retardaria mais o encontro dos dois ou impediria meu filho de participar do evento com os amigos por medo de que a reação do Rafa o machucasse, mas deveria fazer algo. Me justificar, talvez.

Fiquei tanto tempo perdida em pensamentos que mal pude notar a vã estacionar e meu filho entrar:

- Oi, mãe, tudo bem? – entra na sala e coloca sua mochila ao lado da porta.

- Tudo, sim, príncipe. Como foi na escola hoje? - pergunto encostada ao balcão.

- Bem, o dia dos pais está chegando e a professora perguntou se a senhora vai querer receber o presente esse ano. - diz meio na defensiva.

- Ah, sim. Depois eu vou ao colégio e converso pessoalmente com ela para decidirmos o que fazer. Ok?

- Tá.

Sei que meu filho não tocou nesse assunto por acaso, muito menos está esperando uma resposta minha sobre essa questão. A frustração é nítida em seu olhar.

Enquanto vai se trocar e lavar as mãos eu aproveito e coloco seu lanche na mesa.

Ele se aproxima e tenta mudar de assunto para aliviar a tensão. As vezes acho que Noah já nasceu adulto.

- Como foi no trabalho, mamãe? - quer saber.

- Foi ótimo. Sua tia Malu vai ficar fora um tempinho a mais. Mesmo sendo cansativo cobri-la estou fazendo com êxito, ficaria orgulhoso caso pudesse me ver dando ordens e feedbacks e parabéns e assinando papeis importantes, tudo sem reclamar.

- Acho que a senhora faz exatamente o mesmo quando está em casa. Não vi nenhuma diferença. – e ri.

ELE RI DE MIM.

Aquele sorriso do pai, idêntico.

Dai-me força, Senhor.

Enquanto ele come eu engulo seco e me levanto.

Ainda alisando a saia lápis e blusa social que estava vestindo eu tento uma ponte com meu filho:

- Noah, eu sempre fui clara sobre o que aconteceu entre mim e o seu pai e sobre o porquê de não estarmos juntos e o porquê dele não saber sobre você, mas eu preciso que se abra comigo e me diga o que está sentindo com o retorno dele. – respiro. – Acho que você já tem uma ideia do que está acontecendo hoje e confio que possa decidir, junto comigo, o que faremos daqui para frente. – enfim, o encaro nos olhos, ansiosa pela resposta.

- Mãe, sei tudo que fez por mim e agradeço, mas agora eu preciso conhecer meu pai. - disse, sucinto.

Não havia margem.

Ele foi prático e claro.

Já havia tomado sua decisão.

Não sei quando, mas já estava certo dela e eu respeitaria.

Aquilo não me magoou ou me deixou na defensiva, pelo contrario, senti mais orgulho ainda do ser que estava parado à minha frente. Me encarando com expectativa e segurança nos olhos.

- Então tudo bem. Decidido.

O sorriso, impossivelmente, ficou mais largo e o olhar, mais relaxado.

Eu faria,

Não, eu farei tudo o que estiver ao meu alcance para o meu filho nunca perder esse sorriso. Essa essencia.

Após ensinar a tarefa de casa e recuperar nossa intimidade e proximidade antes abalada, eu o deixo com meus padrinhos e saio em busca de alguma notícia de Rafael.

Precisamos, urgentemente, conversar.

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