Amizade

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Rafael

Sei que é tarde ou cedo, dependendo do ponto de vista, mas olho o celular e tem uma mensagem do Noah:

"Papai, anotei tudo no seu telefone, peguei seu número também, espero que não se importe."

"É claro que não me importo. Agora volte a dormir. Já te amo.". Repondo.

"Eu também. Mas não conta pra mamãe que eu disse isso. Ela pediu pra gente ir com calma. Não sei o que isso significa, mas dizer 'eu te amo' é uma das regras. Como um impeachment .". Sorrio de sua analogia.

"Pode deixar.". Mando um emoji "😉" e encerramos a conversa.

Não sei quanto tempo se passou, mas ouço o interfone, corro para abrir a porta ainda sonolento. Talvez na pressa de sair, Dai tenha esquecido as chaves.

Assim que destranco a fechadura parece que uma tempestade entra em meu apartamento, não dá tempo de fazer nada quando um soco atinge em cheio meu rosto.

Juan!

- Você está maluco, seu desgraçado? Isso vai ficar horrível. - digo cambaleando até o sofá.  Me recuso a sair na porrada com meu melhor amigo.

- Só não vai ficar pior porque eu tô bêbado. - diz com a voz embargada. -  Eu disse que te daria um murro se fizesse mal a minha irmã. - completa.

- Juan, você não está nem se aguentando. Vai tomar um banho e cair no quarto de hóspedes. - sugiro. - Eu vou te odiar se minhas vistas incharem. Seu idiota.

- Idiota é você. Não vou ficar no seu apartamento de merda.

- Tá. Tchau então. - levanto os braços, sinalizando a porta, por onde acabou de entrar.

- Não acredito que jogou nossa amizade fora.

- Tchau, Juan. Volte quando estiver sóbrio. - reviro os olhos.

- Seu filho da puta. - começa a chorar. - Minha irmãzinha. - mais choro escroto de bêbado. Confesso que já estou ficando sem paciência com sua reação desproporcional.

- Ah, não. Bora pro banheiro, se vomitar no meu chão, eu te mato.

Minhas vistas começaram a embaçar.

- Foda-se. Vou embora. - enfim ele desiste da cena tosca e caminha em direção à saída.

- Vou chamar um Uber. - aviso.

- Eu chamo. - ele para na porta, ainda aberta e continua seu momento enfadonho. - Te odeio. Não preciso da sua ajuda traidora.

Minha cabeça parece que vai explodir.

Não é fácil sair de 3 conversas intensas, com os 3 Mancuello da minha familia num curto espaço de tempo.

Sem pensar pego o celular.

E antes que minhas vistas se escureçam de vez eu ligo para o único número que tenho certeza que não me desapontará.

Com a voz embargada de sono ela atende:

- Pelo amor de Deus, são 4 da manhã, quem é?

- Sou eu, Luna. Você pode vir aqui em casa? - imploro com a voz mais convincente que consigo.

- Você está louco, Rafael? Eu nem sei onde você mora. Vai dormir. Tchau.

- Ei, ei. Há 8 anos você estava cega e eu te ajudei. Agora sou eu que estou precisando de um favor. Noah anotou meu endereço em seu celular. Estou te esperando em uma hora, Luna. Não consigo enxergar nada. Se apresse. Pegue um Uber. Sei lá. Só venha. - Não dou espaço para recusa e espero que meu pequeno drama surta efeito.

- Tá. - ela diz. Fico instantaneamente aliviado. - Só vou me vestir e pedir para o meu padrinho ficar com o Noah. Daqui a pouco estou aí. - e desliga.

Coloco o celular no peito e deito no sofá.

Já não consigo enxergar mais nada.

Sorrio.

Lancei a moeda.


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