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Enquanto assisto Rafa jogar tento prestar atenção ao máximo em cada detalhe. A paixão. O amor. O comprometimento. A fidelidade. A força de vontade. A raça. A esperança. O suor. As coxas. A bunda. O ombro. O sorriso. Os abraços. A alegria. Tudo nele me faz pensar em como seria se eu tivesse falado do Noah antes dele embarcar. No que nós 3 perdemos por insegurança, medo e orgulho.
- Mãe, isso é muito bom. Não vamos perder mais nenhum jogo em casa. Nenhum. - Comenta nosso filho em meio ao grito dos torcedores. Independente da fama e da falta de privacidade, ele sempre opta por ficar junto a multidão. Com muito receio, eu cedo.
- É, mas alguns jogos não poderemos ficar na área popular e, os jogos fora de casa assistiremos apenas pela TV.
- Exceto se valer algum título.
- Por que sinto que estou barganhando com meu "filho"? - Faço o sinal de aspas característico da nossa família em momentos de descontração.
- Eu sei, eu sei que não tenho voz ativa. - levo minha não ao coração simulando que o drama dele atingiu em cheio seu objetivo. - GOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! - antes que eu possa virar para o campo para avistar meu marido, meu filho se junta a torcida e a massa explode.
A alegria é contagiante.
Sentia falta desse entusiasmo.
Há poucos minutos a torcida estava cobrando sangue e parece que os jogadores atenderam ao chamado.Vejo Juan dar algumas cambalhotas e deduzo que o gol foi dele. Logo em seguida Rafa se aproxima e Juan se ajoelha para fingir que está engraxando sua chuteira. Provavelmente a assistência foi do meu marido.
Grito alguns palavrões de incentivo, Rafa entende e dá aquela piscadela de praxe antes de se dirigir ao meio do campo. Tateio minhas laterais em busca de Noah, mas não encontro nada. Começo a suspirar já exausta. Todo jogo eu o perco em meio a multidão. A torcida adora quando o filho de um jogador prefere o seu calor em detrimento da reclusão da área vip.
Protegendo os olhos de raios solares com as mãos, dou uma conferida na arquibancada e o avisto duas fileiras acima.
- Deixem ele descer, por favor, gente. - Tento puxa-lo pela mão, mas se ele soltar o peso em cima de mim, nós dois caíremos feio. - Desça logo, Noah. - Ele bufa, porém obedece. Juntar futebol e puberdade é cansativo.
- Eles são tranquilos, mãe. Nada a ver eu sempre assistir os jogos ao lado da senhora. Eu te amo, mas quando chegarmos em casa, precisaremos analisar novos termos. - Eu arqueio a sobrancelha por falta de uma resposta assassina. - Nossa, desculpa. - Ele diz levantando as duas mãos em sinal de rendição. - Desculpa. Suas regras. Suas regras. - Estreito os olhos e retorno a atenção ao gramado.
Dois anos se passaram desde a condenação de Henrique e nossa vida melhorou significativamente.
Rafael e eu estamos morando juntos, ainda não achamos o momento certo para oficializar nossa união, mas nos sentimos completos. Noah tem se acostumado bastante com a rotina de trabalho do papai e nossa vida de casal. Todos os domingos vamos à casa da Dona Madalena. Juan continua um mulherengo. Ana continua uma megera. Dai investiu pesado no escritório e só pensa nisso. Tudo anda tranquilo. Quando um dos três arruma um pretendente, eles mesmo se boicotam. Muitos não sobrevivem à dona Madalena.
- ESCANTEIO, SEU JUIIIZ! - Grita Noah. - VAI PORRAAAAAA. - belisco-o.
- Está impossível, heim.
- DEXXXXCULPA.
- OK.
- VAIIIIIIII, PAIIIIIIIIIIII.
Cinco segundos após o lançamento de Juan, Rafael cabeceia a bola bem no meio da rede.

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TOSS
Romance📚 Uma mulher altruísta, dedicada e independente se vê apaixonada por um homem com sonhos que não a incluem e tem que tomar uma decisão importante para que a vida de ambos não sejam sugadas pela imprevisibilidade do amanhã. ⚽️