TOSS

Dont You 🎶🎵

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Ainda comigo limpando as lágrimas ao som de "forget about me", o Rafa pergunta se gostei.

Gostar, nem de longe é o que estou sentindo nesse momento. Incapaz de dizer o que acho do filme, me levanto e vou pra cozinha. 

Odeio quando dou pau em todo o chocolate de uma vez.

Abro a geladeira.

Pego um iorgut de chocolate cremoso.

Fecho a geladeira. 

Me parabenizo por só ter besteira na despensa.

Volto para a sala.

Lembro que estou sendo uma péssima anfitriã.

Dou meia volta.

Pego outro iorgut.

Volto para sala.

Entrego ao Rafa.

Tudo em silêncio.

Esse é nosso novo recorde.

Sento na minha poltrona.

Ele tira o cabelo que insiste em cair da minha testa e, sem querer, esbarra no ferimento.

Recuo e percebo que estou dentro do meu espaço, na minha poltroninha. 

Ele que chegou muito perto. 

- Você não me respondeu. Gostou do filme?

- Se eu gostei? Eu amei, Rafael.

- Parece que eu te conheço há décadas. Também sente isso?

- Seria uma louca se admitisse em voz alta. Não acha?

- Não me importo se pareço um louco. Me sinto perfeitamente normal.

- Não duvido.

- Hoje foi maravilhoso.

- Há controvérsias.

- Tirando o que deu errado na manifestação, Luna. Quando eu te vi parada ali alguma, coisa dentro de mim acordou. Não me diga que não sente o mesmo.

- Acho que comemos demais hoje. - bocejo.

- Tudo bem. Vou respeitar seu espaço. Isso é tudo muito novo.

- Costuma dizer sempre, na lata, tudo o que pensa?

- Sim.

- É claro. É um jogador de futebol. Raramente deve ser contrariado. - dou uma colherada no danone. Seu sabor adocicado precede a aspereza no tom do Rafa.

- Não faz isso, tá legal. Estamos o dia inteiro juntos. Não finja que não tem noção de quem eu possa ser e não seja preconceituosa.

- É melhor irmos para a cama, estou exausta.

Risos, do tipo perplexo dessa vez.

- Não foi isso que eu quis dizer.  Você é grande demais, destruiria meu sofá. Posso forrar algo para você no chão do quarto já que aqui não tem espaço suficiente, ou você pode dormir na minha cama. Eu me ajeito na biblioteca. Como estou lendo e estudando sempre, acabei criando um cantinho da soneca para mim lá. 

Sempre quando fico nervosa minhas frases saem do controle.

- Ei, posso me contentar com o chão do seu quarto e, você vai precisar da sua cama para descansar. Hoje o dia não foi muito bom para você. Precisa cuidar dessa cabecinha. - ele beija minha testa e caminha em direção ao banheiro. - Sempre mudando de assunto... - completa antes de entrar no cômodo.

Recapitulando o dia:

MANIFESTAÇÃO INCRÍVEL COM OS AMIGOS;

POLICIAIS AGINDO COM TRUCULÊNCIA;

JOGADOR DE FUTEBOL ME RESGATANDO DA BOCA DO LEÃO;

CONVERSAS DELICIOSAS;

COMIDAS MARAVILHOSAS;

Tudo parece um sonho.

Fico com medo de acordar amanhã perceber que tudo não passou de um sonho.

Recolho tudo que sujamos e lavo. 

Vou em direção ao quarto e começo a separar a roupa de cama. 

Faço tudo com um certo embrulho no estômago.

Não sei se o calor que sinto é proveniente do nervosismo ou devido à camisa quente de time que estou vestindo. 

Tiro a blusa, antes de pegar outra para substituir, como faço de costume, mas dessa vez me dou mal.

Não estou sozinha em casa.

Rafa está parado na porta não sei há quanto tempo.

Está impecável.

Com braços cruzados, encostado na entrada do quarto me olhando como se eu fosse uma presa. 

Não sei o que fazer.

Gaguejo algo parecido com "não ouvi você chegar" e tento alcançar a outra parte do guarda roupas. Aquela com minhas blusinhas de dormir.

Mas antes de sair da parte da roupa de cama, ele se aproxima e toca meus dedos, de leve.

Paro, instantaneamente, sem saber o que fazer.

Afinal, somos dois adultos de 24 anos, num quarto. Sozinhos.

O toque sobe dos dedinhos ao pulso, do pulso ao cotovelo, e mais:

Chega ao ombro, percorre todo o meu pescoço com sutileza até chegar à bochecha. 

E quando ele levanta meu queixo, parado bem na minha frente. 

Tudo se torna irresistível.

Eu o beijo.

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