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Rafael
Aproveito o restante da festa de reestreia com meu filho, Juan não é um idiota e, portanto sacou de imediato. Só pediu para eu tomar cuidado na hora de falar com sua irmã a respeito de Noah.
Decidi não contar minhas intenções antes de conversar com minha esposa e confessar tudo o que aconteceu com Luna há tantos anos atrás.
- Ei, chega? – cutuco o ombro de meu filho.
- Você tem muitos torcedores. – diz, perceptivelmente cansado.
- São do clube. Se eu jogar mal, serão os primeiros a me odiar.
- Duvido muito. Eles são bonzinhos e animados.
- Agora, campeão. Agora.
- Se você gostar deles e respeita-los, eles vão fazer o mesmo com você. Sei disso.
- Aposto que sim. Podemos comer alguma coisa. O que acha?
- Preciso falar com mamãe antes. Ela não me deixa sair com...
- Estranhos?
- É, mais ou menos. - completa chutando o gramado sutilmente com as mãos no bolso.
- Eu já falei com ela. - o acalmo. - Com o tempo eu não serei mais um estranho. Serei seu pai. Já sou, aliás. Tudo vai se ajeitar. O que acha?
- Acho que tem razão.
Então ele avista a mãe junto aos voluntários da ONG e faz um sinal de positivo para ela, que corresponde com dois sinais idênticos e manda beijinhos no ar. Ele pega os beijinhos, guarda e depois olha ao redor para verificar se alguém havia percebido.
- Você não viu isso.
- Não mesmo, vamos?
- Vamos, pai.
Pai: Uma criança que não me conhece, mas já está depositando toda expectativa e fichas em minhas habilidades paternas.
Se ele pensa que eu as corresponderei está certíssimo.
MEU FILHO.
NÃO ME CANSO DE DIZER.
SEJA EM ALTO E BOM TOM OU APENAS EM CONSCIÊNCIA.
O AMOR DE MINHA VIDA.
A CRIANÇA É MINHA MINIATURA MESMO. Sinto orgulho por isso, mas estou bem mais feliz por seu interior parecer com o de Luna.
Conturo não posso deixar de destacar sua força de vontade e autenticidade, pode parecer fisicamente comigo e ter o grande coração da mãe, mas sua excentricidade e inteligência são dele. Todo mérito à ele.
Sinceramente, não sei se há palavras para descrever o que estou sentindo nesse momento.
Eu só quero ser o mundo para o Noah, pois é exatamente o que ele significa para mim: O UNIVERSO.
Noah pega minha mão e saímos. Meu carro ainda não tem cadeirinha, mas ele diz que no de Henrique também não tem, pois o amigo da família é novato. Ou seja, não haveria problema se eu fosse devagar e com atenção porque ele confia em mim.
Diz também que conheceu o pediatra em seu aniversário. Sinto meu estômago embrulhar por perceber que Luna, de alguma maneira, quis me ludibriar.
Percebo que poderia conhecer Noah em seu aniversário e também fico chateado com isso, mas não transpareço.
Pergunto qual é seu restaurante favorito e como uma boa criança, ele cita um fast food.
Antes eu passo em uma loja infantil na compro a cadeirinha.
Me arrependo, pois perdemos um bom tempo tentando instalá-la.
Ao chegar no fast food, Noah se empanturra de batatas fritas e me explica porque as ciências sociais é importante ainda no ensino fundamental para formação das crianças em adolescentes mais receptivos e menos intolerante.
Fico surpreso com tamanho conhecimento e esperteza em uma criança de sete anos, mas não o impeço de se manifestar.
Quando cansa de falar, pede para ir ao tobogã que fica dentro do recinto e eu permito.
Claro, não antes de lhe aplicar um abraço de urso.
Acho que ele já está de saco cheio dessas demonstrações incessantes de afeto em público, mas deixo para perguntar quando voltar.
Aproveito e ligo para minha esposa, que atende de prontidão.
- Oi, amor.
- Diana, eu não poderei jantar em casa hoje, pois tenho um compromisso muito importante. Prefiro não falar sobre isso por telefone, mas quando chegar em casa teremos uma conversa.
- Está tudo bem, Rafa? Você parece ansioso e preocupado. Aconteceu alguma coisa?
- Não. Nada grave, apenas um assunto do passado ressurgiu e não gostaria de esconder nada de você.
- Tá amor, eu vou jantar com meus pais, quando terminar o que tem para resolver, passa lá no Juan e podemos ir pra casa.
- Ok.
- Rafa?
- Sim.
- Vai dar tudo certo, meu amor. Não se esqueça de que ninguém, ninguém no mundo o ama mais do que eu.
- Eu também te amo. - e desligo. Essa demonstração de afeto de Diana me deixou com uma sensação de culpa e remorso. Será mais difícil do que imaginei.
Durante toda a conversa eu pude analisar meu filho brincar, no campo pareceu exausto, mas parece que a bateria foi recarregada.
Como quero passar mais um tempo com ele, o chamo.
Ele retorna de imediato.
- Ei, garotão, vai querer sobremesa?
- Com certeza. Quero Banana Split.
Ele demora uma eternidade para comer o sorvete, pois está sempre falando do que gosta ou me perguntando sobre minha participação na copa do mundo e meus títulos europeus.
Ele também quer saber da família paterna mineira.
Diz que se depender da comida da mãe por mais tempo, não vai sobreviver. Eu rio.
- Sabe o que dizem sobre os mineiros?
- Eu sei. Vocês cozinham tão bem. Sinto minha boca salivar só de pensar. Mamãe sempre disse que o senhor é um Deus na cozinha.
- Acho que sua boca está salivando por causa do sorvete. Se não comer agora, vai derreter.
Conversamos mais, ele se convida a conhecer meus pais que estão no Rio no momento e eu me empolgo.
Quando me lembro da pequena reunião dou um salto.
- O que foi, pai?
- Sua mãe, ela combinou deu te levar pra casa às oito e já são oito e quarenta.
- Ela vai nos engolir vivos.
- Pode ter certeza que vai.
Saímos correndo, porém dirijo com calma. Não canso desse tempo que passo com Noah e posso prolongar mais um pouco.
Pelo espelho retrovisor vamos nos comunicando pelo caminho e rio quando ele comenta que vai se gabar pros amiguinhos da escola que não acreditaram que o pai dele era o Rafael da Motta
O jeito como ele diz isso é engraçado, pois sei que não teria coragem de fazer uma coisa dessas e está só caçoando da ocasião.
- Imagina só a cara deles, pai. - suspira. - Pena que não sou assim. Gostaria. Mas não sou. Se Não chegaria falando: "parece que o jogo virou, não é mesmo?".
Sorrimos.
E quando olho no retrovisor é ela que vejo, como se fosse uma áurea ao redor do meu filho. Ligados pelo mesmo sorriso.
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TOSS
Romantik📚 Uma mulher altruísta, dedicada e independente se vê apaixonada por um homem com sonhos que não a incluem e tem que tomar uma decisão importante para que a vida de ambos não sejam sugadas pela imprevisibilidade do amanhã. ⚽️