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Ter um filho é mudar completamente de perspectiva.
É atualizar os planos.
É rever as prioridades.
Os debates que eu participava foram se restringindo, os projetos sociais foram diminuindo, e as manifestações já eram quase inexistentes. Tudo em minha vida passou a girar ao redor daquele precioso ser.
Maria Luiza me ajudou a organizar tudo.
Eu não quis fazer chá de bebê porque não tenho muitos amigos e, infelizmente, a sociedade ainda é cruel com mães solteiras, mas a Malu sempre esteve ali para me ajudar com o enxoval, pré natal, etc.Esteve comigo até na hora do parto. Não sei do que teve que abrir mão para se aproximar de mim e me ajudar a segurar a barra, mas sou infinitamente grata.
As especulações sobre o possível pai do meu filho quase acarretou num bolão e todos, digo, todos, os vizinhos participaram.
Vi o Rafael ser aplaudido, reverenciado, virar o artilheiro do time estrangeiro, ser indicado e se tonarnado um dos melhores jogadores de todas as competições em que participou, levantar alguns troféus, perder outros.Vi o Rafa se casar com uma mulher deslumbrante e seu matrimônio não sair dos tabloides por quase um mês.
Vi o Rafa ser convocado para a seleção e perder uma Copa do Mundo.
E ele não fazia ideia da existência de Noah.Seu maior prêmio.
Mas não vi o Rafa descontinuado que seu filho havia sido muito mal criado durante todo o período de gestação, fazendo a mamãe dele suar, enjoar e vomitar, quase os 8 meses inteiros, após sua descoberta.
Ele não viu a mamãe do Noah surtar quando ele deu seu primeiro passinho, na sua primeira ida à creche, quando, enfim, largou o peito AOS DOIS ANOS DE IDADE.
Ele não viu o quanto Noah me faz feliz.
Quando fez a primeira prova, seu pai tinha acabado de ser convocado para ir à Copa e eu aproveitei que já tinha 5 anos para explicar quem ele era, verdadeiramente.
Foi a tarefa mais difícil de toda a minha vida, mas não me arrependo. Ele precisava ser forte.
Na primeira vez que o levei à ONG e o apresentei aos organizadores, todos ficaram encantados com tamanho altruísmo e delicadeza.
A vontade dele era contagiante. Queria nos ajudar de qualquer maneira. Sempre.
Aos seis anos o ensinei a andar de bicicleta, já sem as rodinhas. Ele ficou tão feliz, parecia um astronauta pisando na lua pela primeira vez.
Sua primeira alergia e intoxicação alimentar quase me causou um infarto. Ele sempre teve uma saúde de ferro e a frustração que sentia por não conseguir absorver a dor dele integralmente era insuportável.Queria trocar de lugar com ele a qualquer custo.
Nunca vi um pediatra mais paciente.
E era o primeiro que havia conhecido.
Ele deixou seu cartão comigo e disse que eu poderia ligar, caso Noah precisasse de qualquer coisa.
Agradeci e, com meu filho já melhorzinho, saímos dali.
Seu primeiro dia no primário foi marcado por muito choro.Quando contou à seus amiguinhos quem era seu pai, todos, exceto Thomas, começaram a rir e caçoar dele.
Foi seu contato inicial com o Bullying.
Fui chamada a diretoria e esclareci tudo.Após o ocorrido, já em casa, conversei exaustivamente com meu filho e todo o choro se transformou em obstinação.
O que veio em seguida quase me derrubou:
“Mamãe, não vou mentir ou omitir quem sou. Se eu ignorar eles, vão me esquecer. Eu sei. Pra mim só o Thomas importa. Ele é meu melhor amigo e acredita em mim. Não vou mais chorar por causa do resto. Tá, mamãe?”
E com esse simples gesto, me abraçou.Em vez deu consolar o meu filho é ele quem me acalma. Me traz paz. Harmonia.
Ele é, praticamente, o meu coração fora do peito. Não há outra definição para descrever o que significa para mim.
Depois disso, nada mais o abalou. E Thomas passou a ser figurinha carimbada aqui em casa. Como sua festa de sete anos está se aproximando, ele optou por esquecermos o bolinho de sempre e comemorarmos na ONG, acha que a bicicleta está pequena demais (cuidado excessivo meu, que escolhi a menor de todas para ensiná-lo a andar sozinho) e quer doá-la pessoalmente.
Meu filho não poderia optar por melhor maneira de comemorar um aniversário.E eu, a babona de sempre, acabo aprendendo mais que ensinando as coisas do mundo à esse ser de luz.
Amanhã espero que a surpresa que preparei não atrapalhe sua convicção, seus planos, pois ele merece, sim, um bolinho. Mesmo que entregue após a doação da bicicleta e o lanchinho com seus novos amiguinhos da ONG.Porque meu filho, extremamente simpático, característica proveniente da genética paterna, apenas, formou seu extenso ciclo de amizades aqui. São tantos colegas que dividem suas curtas experiências, mal criações e artes num parquinho aqui perto, que me deixa até orgulhosa.
A rotina é cansativa, mas tudo valeu a pena.
Agora ela inverteu algumas posições, mas creio que nada tenha mudado.
Cuidar do meu filho, trabalhar, brincar com meu filho, participar de projetos sociais, praticar esportes com meu filho, estudar com meu filho...
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TOSS
Romantizm📚 Uma mulher altruísta, dedicada e independente se vê apaixonada por um homem com sonhos que não a incluem e tem que tomar uma decisão importante para que a vida de ambos não sejam sugadas pela imprevisibilidade do amanhã. ⚽️