Paraquedas

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Rafael

- Pai, tu pode entrar num bolo e sair do nada. Todos vão ficar de cara. – o tiro da cadeirinha.

- Eu não vou sair de um bolo gigante,  isso é ridículo – sorrio.

- Eu tenho a chave, vamos entrar direto. - diz entregando o objeto à mim.

- Não acha melhor tocarmos a campainha? - fico indeciso.

- Ah, não, a gente faz uma surpresa para a mamãe. Além do mais tenho as chaves por um motivo.

- Não sei se ela vai gostar, mas... – abro o portão.

- Então você pode saltar de paraquedas na quadra. - crianças mudam de assunto com uma agilidade que quase me enlouquece.

- Filho, eu aprendi a suportar o medo de altura por causa dos jogos como visitante, saltar é demais para mim. Precisamos de uma ideia mais terrestre.

- Ah não, o homem “mais grandão” que eu já vi na vida com medo de um saltinho?

- Como ousa? E não se trata de um saltinho. - abro aspas com as mãos para a última palavra. - Pensei que você não era do tipo que se vingava. - tento argumentar.

- Mudei de ideia. - diz fazendo um beicinho, cruzando um braço no tronco para apoiar enquanto o outro está em direção ao rosto, dando leves toques na Buchecha. Parece uma estátua de filósofo grego. Faço isso também. Não em momentos como esse, mas faço. E não deixo de achar o movimento engraçado.

- Mudou? – dou uma rápida olhada nas plantas e me forço a ficar impassível.

- Não. Não mudei, mas seria hilário você aparecer lá e fazer alguma coisa de jogador de futebol famoso? O pessoal que me zuou ficaria surpreso.

- Tipo o que? Embaixadinhas? Eles ficariam surpresos o suficiente se eu entrasse fazendo altinho?

- Não, simulando uma falta.

- O quê? Não vou entrar caindo. Não acredito que pensa assim dos jogadores de futebol. – digo indignado. Olhando para a porta da frente. Faltam poucos passos.

- O quê? Vai me dizer que quando vê uma área ou intermediária a primeira coisa que passa pela sua cabeça não é se jogar?

- Não acredito que disse uma coisa dessas sobre seu pai. Peça desculpas. – uso o que sobrou da minha dignidade para parecer autoritário. Não deu certo.

Em vez de se desculpar ele começa a rir da minha tentativa frustrada de me manter sério, o que me proporciona uma crise de gargalhada.

Tento abrir a porta da sala, mas quando viro a maçaneta, Noah se adianta e praticamente a escancara.

Paro assim que os percebo.

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