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Qualquer coisa no mundo é simples de ser compreendida, menos o destino. O destino é algo engraçado, como uma criança que brinca de diversas formas, e em uma dessas brincadeiras, pode descobrir prazeres diversos, como cozinhar, ser médico, astronauta ou quaisquer outras profissões que lhe encantem.

O que não é muito diferente da vida, um dia você está lá, na sua mesmice cotidiana e tudo de repente pode mudar, assim, como da água para o vinho. Assim como agora Alexia, Amanda, Octávia, estavam com suas vidas entrelaçadas, e claro, a mais nova integrante, a pequena bebê.

— Estou indo embora. Já me sinto bem. — Disse Amanda após receber alta.

— Antes, eu queria que você assinasse alguns papéis, pode ser? É a transferência da guarda provisória da menina para nós. — Disse Octávia.

Amanda só tinha 18 anos, e estava certa de que não queria qualquer proximidade com aquela criança, aliás, para ela, não passava de uma aberração, gostaria de ter tido êxito em suas tentativas de aborto caseiras e a tentativa de que a criança passasse da hora de nascer. Mas já que infelizmente nasceu, não se importava com quem ficasse, desde que, ela não precisasse vê-la nunca. Mesmo conversando com psicólogos, assistentes sociais, ainda assim era seu desejo se livrar da menina, o que naquele momento, era uma alegria para Alexia.

Quem poderia julgá-la? Quem podia imaginar o que se passava na mente e no coração daquela mulher? Quem poderia sentir na pele o estrago psicológico de um estupro cometido pelo próprio pai? Abortar seria a melhor solução e algo que não deveria nem ser justificado, mas claro, se a justiça estivesse ao lado das mulheres, mas nunca está, o aborto é simples e de fácil acesso a quem tem dinheiro, clínicas clandestinas estão empanturradas de dinheiro para que mulheres ricas possam fazer o procedimento com total segurança, os próprios juízes e moralistas contra o aborto, são os mesmos que pedem com jeitinho para amante grávida abortar para não manchar sua honra, porém com as mulheres pobres não é o que acontece, ao procurar ajuda, Amanda não teve, não acreditaram nela, nunca acreditam na palavra da mulher, em um estado que deveria ser laico, a religião predomina, as crenças religiosas predominam a justiça, e a justiça da terra é falha e corrupta.

— Assino com certeza. — Disse Amanda pegando a caneta sem nem mesmo ler. — Eu vou ficar no hotel até me recuperar totalmente.

— Claro, ainda está de pé a oferta de emprego, quando formos embora, você pode ir com a gente.

Amanda olhou para as mulheres e sorriu, não queria qualquer proximidade com aquelas que levariam a criança, e aliás, agora seria mais fácil encontrar um trabalho e então preferia ficar por ali. Amanda se levantou e saiu sendo levada por Octávia.

Alexia se aproximou da UTI da maternidade tocando no vidro, como se pudesse toca-la, já se sentia mãe daquele pequeno ser, fruto de um estupro que tinha tudo para sofrer caso Brenna não as ajudasse. Olhou seus cabelos clarinhos e sua pele frágil com uma cor ainda não agradável, mas já podia sentir um carinho que não sabia de onde surgiu, como se sua mente fosse capaz de tornar-se mãe antes mesmo de que ela tocasse a pequena e frágil bebê.

Dirigindo de volta para o hospital Octávia decidiu comprar flores para Alex, além do mais, estavam recém casadas. Comprou um ramalhete simples com algumas flores brancas e seguiu até o estacionamento onde parou para atender a uma ligação.

— Oi.

— Tenente, que prazer falar com você.

Octávia gelou-se por inteira ao reconhecer aquela voz, mas não teve reação.

— Olha só que maravilha, estou de volta, quando podemos nos ver?

— Eu não tenho nada para falar com você.

Meu anjo da guarda Onde histórias criam vida. Descubra agora